Entusiasmo e apatia a dois dias da coroação do rei Carlos

Para alguns britânicos, trata-se de um acontecimento único na vida. Para outros, é uma ocasião bem-vinda apenas porque proporciona um dia de folga, com um feriado extra na segunda-feira.

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Uma fã da realeza, Sally Scott, posa no Mall, em frente ao Palácio de Buckingham Reuters/HENRY NICHOLLS
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Muitas pessoas já estão acampadas na avenida que será percorrida pelo rei Carlos III Reuters/HENRY NICHOLLS
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Muitas pessoas já estão acampadas na avenida que será percorrida pelo rei Carlos III Reuters/CLODAGH KILCOYNE
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Muitas pessoas já estão acampadas na avenida que será percorrida pelo rei Carlos III Reuters/HENRY NICHOLLS
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Dezenas de fãs da realeza já começaram a acampar no centro de Londres, a dois dias da coroação do rei Carlos, no sábado. Mas, enquanto eles e milhões de outros estão a antecipar o acontecimento histórico com entusiasmo, há muitos que dizem que não se importam.

A coroação, cujas origens remontam há mil anos, será o maior evento cerimonial desde a coroação da mãe de Carlos, a rainha Isabel II, em 1953, com uma exibição cheia de pompa e uma enorme parada militar.

Para alguns britânicos, trata-se de um acontecimento único na vida. Para outros, é uma ocasião bem-vinda apenas porque proporciona um dia de folga, com um feriado extra na segunda-feira.

“Eles tiram-me tudo. Nunca trabalharam um só dia”, diz Philip Nash, de 68 anos, enquanto varre as ruas de Whitechapel, uma zona mais degradada do Leste de Londres, referindo-se à família real britânica. “Gostava de ver um deles vir cá fora, vir varrer esta rua. Conheces algum que tenha feito um dia de trabalho? São como vampiros, sugam o meu sangue.”

Para algumas pessoas de Whitechapel, uma zona onde os imigrantes se estabeleceram na capital britânica durante séculos, uma cerimónia espectacular para a realeza parece inadequada quando muitos estão a lidar com uma inflação elevada — superior a 10% — que está a fazer disparar o custo dos alimentos e da energia.

“Com muitas pessoas a lutar para pagar as contas e a lidar com muitas perdas, é um pouco desanimador ver na televisão tantos recursos e dinheiro a serem dados a esta família... não parece que nos estejam a dar nada em troca”, avalia o estudante de medicina dentária Unab Ali, de 19 anos.

Em toda a capital, e em muitas partes da Grã-Bretanha, as lojas e as áreas públicas estão enfeitadas com fitas com a bandeira da União e estão planeadas festas de rua. Em 30 locais espalhados por todo o país, a cerimónia será transmitida em ecrãs gigantes.

Embora o planeamento e os pormenores das ocasiões históricas tenham sido divulgados durante meses nos meios de comunicação social, as sondagens sugerem que a maioria do público não está muito interessada.

No mês passado, uma sondagem da YouGov revelou que apenas 33% dos inquiridos se interessavam pelo assunto. Uma outra sondagem, realizada na semana passada, revelou que 48% dos inquiridos não assistiriam à cerimónia na televisão, contra 46% que afirmaram o contrário.

Esta situação contrasta com a de 1953, quando milhões de pessoas se aglomeraram nas ruas de Londres e cerca de 27 milhões assistiram à cerimónia televisiva de Isabel, que foi para muitos a primeira vez que viram um acontecimento transmitido em directo no pequeno ecrã.

Desligar da realidade

“No sábado, vou desligar-me completamente da corrente e passar o dia na natureza, com o telemóvel desligado. Por isso, não vou festejar”, disse Justin Hackney, um cineasta de 32 anos. “Mas sei que a minha mãe vai, porque é especial para ela, porque era especial para a minha avó.”

Para aqueles que já se encontravam na The Mall, a grande avenida que conduz até ao Palácio de Buckingham, havia um sentimento predominante de que este também seria um momento especial.

Não teria perdido isto por nada deste mundo”, afirma Tony Chen, que viajou do centro de Inglaterra para acampar, apesar de sofrer de um grave problema cardíaco. “Estar em casa a ver isto na televisão não é como estar aqui na vida real.”

Ali Stephens, de 50 anos, uma auxiliar de enfermagem, disse que pode ser um disparate, “mas é o nosso disparate”.

“É algo que este pequeno país tem e que os grandes países não têm”, constata. “Por isso, devemos valorizá-lo e estar gratos por toda essa pompa e todo esse disparate... isso não se consegue numa república.”

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