Águas do Pacífico mais quentes podem anunciar a vinda do El Niño e do calor

Serviço de meteorologia dos Estados Unidos emitiu um estado de vigilância para o El Niño, que poderá surgir já no próximo mês. Aumentam as probabilidades de 2023 tornar-se o ano mais quente de sempre.

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Em 2016, ano de El Niño, a seca atingiu o Corno de África FEISAL OMAR/Reuters (Arquivo)

Nesta quinta-feira, o serviço Nacional de Meteorologia (SNM) dos Estados Unidos emitiu um estado de vigilância em relação ao fenómeno climático El Niño, depois dos cientistas terem observado os primeiros sinais do padrão climático conhecido por aumentar as temperaturas globais. Segundo os cientistas, há uma probabilidade mais forte do El Niño ocorrer nos próximos meses do que não ocorrer.

O El Niño ocorre quando as temperaturas das águas superficiais do oceano Pacífico são mais altas do que o normal e tem uma influência nos padrões meteorológicos em todo o mundo.

Neste momento, há sinais de que o regime está a desenvolver-se: os cientistas disseram que as águas aqueceram rapidamente junto da costa ocidental da América do Sul, algo que pode “prefigurar mudanças ao longo da bacia do Pacífico”, segundo o SNM. Apesar disso, são bem conhecidos os limites de se tentar fazer uma previsão precisa do clima nesta altura do ano.

O El Niño pode chegar já no próximo mês, avisou a instituição, com uma estimativa de 62% de hipóteses de se desenvolver entre Maio e Junho.

Além disso, as condições levam os cientistas a estimar uma probabilidade de 40% de as águas aquecerem tanto que o El Niño seja considerado “forte” mais para o fim do ano. Em 2016, a última vez que isso ocorreu, as temperaturas globais subiram tanto, batendo recordes, que ajudaram a provocar perdas nas florestas húmidas, a lixiviação de corais, o derretimento de gelo polar e os incêndios florestais.

Os primeiros sinais

O El Niño é conhecido por enviar calor e chuva para o Sul dos Estados Unidos, produzindo secas em partes da Austrália, da Indonésia e do Sul de África, além de limitar o desenvolvimento de furacões no oceano Atlântico.

O fenómeno também tem a propensão de acelerar a trajectória do aquecimento global. As águas quentes do oceano Pacífico têm a tendência de produzir uma maior cobertura de nuvens, o que faz com que o calor do sol fique preso na atmosfera.

Os cientistas da agência para atmosfera e os oceanos dos Estados Unidos (a National Oceanic and Atmospheric Administration, conhecida pelas suas siglas NOAA), disseram que por cada grau Celsius que a temperatura das águas do oceano Pacífico sobe, graças ao El Niño, a temperatura média global à superfície sobe 0,07 graus dois ou três meses depois.

Os primeiros sinais do El Niño, somando às temperaturas globais mais altas do que o esperado sentidas até agora, já fizeram com que alguns cientistas tenham subido a sua previsão do lugar que 2023 vai ter no ranking dos anos mais quentes da Terra desde que há registo. Numa análise mensal das temperaturas globais publicada na quarta-feira, Robert Rohde, investigador líder da Berkeley Earth, uma organização não lucrativa na Califórnia dedicada a dados científicos ambientais, calculou haver uma probabilidade "substancial" de 38% de se atingir em 2023 um recorde da temperatura global.

A previsão climática do SNM inclui ainda uma probabilidade de 10% de que o El Niño não se materialize até ao fim do ano, e que o planeta se mantenha naquilo que se pode chamar de condições “neutras”, em que não ocorre nem o El Niño, nem o fenómeno La Niña. Sem a influência de nenhum daqueles regimes, torna-se difícil prever padrões meteorológicos sazonais mais alargados.

O fenómeno La Niña, a cara-metade fria do El Niño, foi um padrão climático global dominante nos últimos três anos, mas terminou em Fevereiro último. Caracterizado por águas do oceano Pacífico mais frias do que o normal, o padrão contribuiu para uma seca no Sudoeste dos Estados Unidos e para temporadas mais activas de furacões no oceano Atlântico.

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