Cada vez mais quente: temperatura do oceano à superfície atinge novo recorde

Há décadas que os oceanos absorvem o calor atmosférico. As consequências deste aquecimento podem tornar-se ainda mais graves com a possível chegada do fenómeno El Niño.

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Mapa preliminar que mostra a anomalia de temperatura do oceano em graus Celsius (comparando com uma base de dados de 1971 a 2000). Mapa referente a 7 de Abril de 2023 NOAA/Universidade de Maine

A temperatura média à superfície do oceano atingiu um novo recorde a nível mundial no início de Abril: 21,1 graus Celsius, segundo os dados preliminares da Administração Atmosférica e Oceânica Nacional dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês). O anterior recorde era de 21ºC, registado em 2016, e este é agora o valor mais elevado desde que começaram as medições por satélite.

Os cientistas temem os efeitos que esta subida de temperatura possa ter em eventos meteorológicos ao longo deste ano. Desde a década de 1980 que as temperaturas dos oceanos têm vindo a aumentar.

Este aumento é também reflexo do aquecimento global, já que se estima que os oceanos já tenham absorvido mais de 90% do calor em excesso na Terra causado pelos gases com efeito de estufa libertados pela actividade humana (sobretudo através da queima de combustíveis fósseis).

O fenómeno La Niña – um fenómeno cíclico de arrefecimento das águas superficiais do oceano Pacífico – ajudou a disfarçar o aumento das temperaturas nos últimos anos. Esta foi a primeira vez neste século que o fenómeno La Niña ocorreu em três anos seguidos.

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A expansão térmica dos oceanos leva à subida do nível das águas do mar Nuno Alexandre

“Mas chegou ao fim”, afirmou o cientista Mike McPhaden, da NOAA, citado pelo jornal britânico The Guardian. “Este período prolongado de frio estava a baixar as temperaturas médias globais à superfície, apesar do aumento dos gases com efeito de estufa na atmosfera”, referiu ainda. Sem o La Niña a camuflar este aquecimento, o cientista teme que os sinais das alterações climáticas se tornem agora mais claros.

El Niño

Há cientistas climáticos que prevêem ainda o regresso do fenómeno El Niño (aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico equatorial, causando outros fenómenos atmosféricos), o que tornaria este cenário de aquecimento ainda mais grave – e ainda mais num contexto de alterações climáticas em que se tenta limitar a subida da temperatura global.

Como explica a revista New Scientist, este recorde de temperatura dos oceanos pode fazer com que certos eventos meteorológicos (sobretudo tornados e tempestades tropicais) se tornem mais intensos do que o normal. Este aquecimento afecta não só a vida nos oceanos, como a própria atmosfera, podendo também criar mais ondas de calor marinhas (que afectam as cadeias alimentares aquáticas e também levam ao branqueamento dos corais) e contribuir para a subida do nível das águas do mar (que acontece devido à expansão térmica dos oceanos).

O oceano não tem todo a mesma temperatura: quanto mais profundas as águas, menos luz solar recebem e mais frias são. Dependendo da zona no globo, a temperatura do oceano à superfície também varia, explica a NOAA: nos trópicos, essa temperatura pode rondar os 30ºC; já mais perto dos pólos a água chega aos -2ºC.

Estes dados da NOAA e da Universidade de Maine (EUA) relativos à temperatura à superfície (os primeiros dois quilómetros de profundidade) são recolhidos sobretudo através de satélites, mas também a partir de medições feitas em embarcações e em bóias – e as temperaturas nas regiões polares ficam de fora. Em 2022, o aquecimento dos oceanos tinha já batido um novo recorde, como indicava um artigo publicado em Janeiro deste ano na revista Advances in Atmospheric Sciences.

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