Ameaça de fome paira sobre o Corno de África, que vive a pior seca em 70 anos

Há projecções que dizem que na Primavera a Somália pode passar por uma fome tão mortífera como a de 2011-2012, quando morreram 260 mil pessoas.

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Imagens obtidas com o satélite Sentinel-2 do Copérnico mostram a seca no Monte Quénia Copérnico

A região do Corno de África e do Sahel está a passar pela mais longa e grave seca dos últimos 70 anos. O aquecimento global e as condições do fenómeno climático periódico La Niña estão a conjugar-se e estão na origem de uma crise alimentar e falta e água no Quénia, Etiópia e Somália, que forçou já dois milhões de pessoas a abandonar as suas casas em busca de alimento. Receia-se que cause uma elevada mortalidade.

Estas imagens, obtidas pelo satélite Sentinel-2 do Copérnico – Programa de Observação da Terra da União Europeia, mostram como estão a desaparecer rapidamente os gelos dos glaciares que ainda restam no cimo do Monte Quénia, o segundo mais alto de África (o pico mais elevado, Batian, tem 5199 metros). Num intervalo de um ano, a quantidade de manchas brancas reduziu-se em muito.

A chuva no Corno de África concentra-se em duas estações das chuvas: a de Março, Abril e Maio e a de Outubro, Novembro e Dezembro. E já se contam cinco estações das chuvas em situação de seca seguidas – algo que nunca aconteceu nas últimas sete décadas, segundo a agência espacial norte-americana NASA.

Com a seca vem todo um rosário de males associados. Cheias quando há precipitação, muito concentrada em períodos curtos, fome, e surtos de cólera, febre-amarela, sarampo e poliomielite relacionada com a vacinação.

Segundo as Nações Unidas, a Dezembro, esta seca é responsável por ter afastado da escola 2,7 milhões de crianças, e há mais quatro milhões em risco de terem de a abandonar.

De Março a Setembro de 2022, a maior parte da Somália, Quénia e Etiópia receberam 50 a 200 milímetros menos de chuva do que o valor médio da precipitação no período 1981-2021 (cerca de metade ou menos do que o normal), segundo os dados do Centro de Riscos Climáticos da Universidade da Califórnia em Santa Barbara (Estados Unidos), que trabalha com a NASA. Para a segunda estação das chuvas deste ano, os dados preliminares são igualmente graves, com a situação mais difícil no Leste do Quénia e na Somália.

As previsões da Rede de Sistemas de Alerta Precoce de Fome (FEWS NET), um programa apoiado pela Agência de Apoio ao Desenvolvimento Internacional dos EUA, bem como outras agências governamentais norte-americanas, são de que será declarada fome entre Abril e Junho de 2023 no Sul da Somália, se não forem mantidos os níveis actuais de assistência alimentar à população.

“Receamos seriamente que, se não houver um nível significativamente mais elevado de assistência em 2023, as mortes durante esta seca prolongada de 2020-2023 possam exceder as da fome de 2011-2012 na Somália”, disse Lark Walters, analista da FEWS NET, citado num comunicado da NASA. A seca de 2011 causou 260 mil mortes relacionadas com a fome na população somali.

Correcção às 10h15: as imagens estão separadas por um intervalo de um ano, e não dez dias

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