Num ano, a seca dizimou a vegetação no Corno de África

Duas vistas aéreas da cidade etíope de Gode — capturadas, respectivamente, em Maio do ano passado e no último domingo — mostram os efeitos devastadores da seca à custa da qual pelo menos 13 milhões de pessoas na região do Corno de África estão a passar fome.

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Várias épocas chuvosas seguidas de escassa precipitação têm contribuído para esta seca UNIÃO EUROPEIA - PROGRAMA COPERNICUS

As duas imagens, capturadas por um dos satélites do Copernicus, programa europeu de observação do planeta, são vistas aéreas de Gode, cidade situada na região Somali da Etiópia. A da esquerda data do dia 17 de Maio do ano passado, ao passo que a da direita foi recolhida no último domingo, 22 de Maio. No espaço de um ano, a vegetação foi dizimada. A culpa é de uma seca calamitosa, a mais severa que os países do Corno de África enfrentam desde 1981.

Tudo indica que, para o Djibuti, a Etiópia, o Quénia e a Somália, a actual estação chuvosa, que se iniciou em Março, ficará como a quarta consecutiva de precipitação escassa. As consequências têm sido catastróficas para quem vive do trabalho agrícola — e a agricultura é o sector mais importante da economia da Etiópia, do Quénia e da Somália. Nesses três países, salientava em Fevereiro o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas (PAM), cerca de 13 milhões de pessoas estão a passar fome por causa da seca. Quase metade destas pessoas vive na Etiópia.

“Sabemos que agir cedo para evitar uma catástrofe humanitária é vital, mas a nossa capacidade de resposta tem sido limitada devido à falta de financiamento”, avisou, há cerca de um mês, Michael Dunford, responsável pela actividade do PAM na região que compreende o Corno de África. O responsável afirmou que, para a agência humanitária conseguir salvar vidas ao longo dos próximos seis meses, precisará de receber apoios na ordem dos 400 milhões de euros.

Dunford referiu também que “os preços dos alimentos e da água estão a subir vertiginosamente”, sublinhando que “a quantidade de cereais que podia ser comprada com a venda de uma cabra”​ caiu mais de 40% no Quénia e mais de 80% em partes da Somália.

Na Etiópia, onde a seca já terá resultado na morte de um milhão de cabeças de gado, a quantidade de crianças malnutridas é alarmante: segundo a UNICEF, a percentagem de crianças a darem entrada em instituições hospitalares para serem tratados casos de malnutrição aguda subiu 15% em apenas um ano. Também na Etiópia, a seca está, ainda, a fazer disparar o casamento infantil: desesperados, muitos pais estão a tentar encontrar maridos ricos para as suas filhas adolescentes ou pré-adolescentes porque não têm como as alimentar.​

Segundo o PAM, é provável que, até ao fim deste ano, o número de pessoas a passarem fome no Corno de África suba até aos 20 milhões.

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