OPEP+ corta forte na produção de petróleo e ameaça abrir a porta a mais inflação

Arábia Saudita, Rússia e demais países produtores vão reduzir a produção diária em mais de um milhão de barris. Analistas esperam um salto no preço na reabertura dos mercados. EUA criticam decisão.

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Os representantes dos países da OPEP+ reúnem-se nesta segunda-feira, mas já anunciaram que medidas vão tomar Reuters/Dado Ruvic (arquivo)

A Arábia Saudita e os outros países do oligopólio do petróleo que são membros da OPEP+ anunciaram neste domingo que vão cortar fortemente na produção, com menos 1,16 milhões de barris por dia. O anúncio foi feito na véspera do encontro desta organização agendado para segunda-feira, e surpreendeu analistas de mercado e governantes em todo o mundo. O Governo federal dos EUA foi dos primeiros a reagir, dizendo que era um corte "desaconselhável".

Apesar de já não ser esperado que esta organização aumentasse a sua produção, indo de alguma forma em socorro das economias mundiais que têm visto os preços dos combustíveis a subir e a contribuir para a maior subida da inflação em décadas, este anúncio parece ter sido recebido com surpresa e choque em algumas capitais ocidentais. Além da decisão em si, não é habitual as decisões serem tomadas fora das reuniões daquela entidade.

Teme-se que esta decisão abra a porta a mais inflação. Em Março, os preços do crude caíram para valores a rondar os 72/73 dólares o barril (de Brent, referência para a economia portuguesa) atingindo mínimos desde Novembro de 2021. Com este corte adicional, a expectativa é que os preços subam logo a partir da reabertura dos mercados, na segunda-feira.

Analistas de mercado ouvidos pela agência Reuters estimaram que os contratos para entrega futura podem subir no imediato três dólares por barril. O preço já vinha em crescendo, tendo-se fixado em cerca de 85 dólares e outros analistas citados pela mesma agência estima que a subida imediata possa ir aos dez dólares por barril.

A OPEP+, de que fazem parte a Arábia Saudita e outros produtores aliados, bem como a Rússia, estaria desta forma a antecipar-se a uma possível redução na procura", disse outro analista. Os sauditas deverão reduzir a produção diária em 500 mil barris, tendo o ministro da Energia argumentado que se tratava de uma "redução voluntária" e uma "medida de prevenção destinada a apoiar a estabilidade do mercado de petróleo".

A Administração federal dos EUA vê as coisas de outra forma. Washington sustenta que o mundo precisa de preços mais baixos para apoiar a recuperação económica e baixar a inflação, o que é um cenário que se torna mais difícil se a oferta de petróleo for ainda mais reduzida do que já tinha sido nos planos iniciais para 2023.

"Não cremos que estes cortes sejam aconselháveis neste momento tendo em conta a incerteza nos mercados, e deixámos isso muito claro", afirmou um porta-voz do Conselho Nacional de Segurança, citado pela Reuters.

Estes cortes irão começar em Maio e prolongar-se-ão até ao final do ano. Iraque, Emirados Árabes Unidos Argélia, Koweit, Omã e Cazaquistão confirmaram, todos, um corte nas respectivas produções, assim como a Rússia, que já tinha feito uma redução de forma unilateral em Fevereiro, quando entrou em vigor o limite de preços imposto pelos governos ocidentais, em resposta à guerra russa na Ucrânia, e como forma de tentar reduzir os lucros do Kremlin com o petróleo.

O Governo português previa, na sua proposta de Orçamento do Estado para 2023, um preço médio de 78 dólares o barril. Ultimamente, o Brent tem flutuado numa banda algo limitada, entre os 75 e os 90 dólares, mas alguns analistas já têm vindo a avisar que o preço está pressionado pela reabertura total da economia chinesa.

Já se projectava, por isso, uma subida de preço mais à frente, em 2023, mesmo sem contar com este novo anúncio, que só virá piorar as projecções que assentavam na perspectiva de que a oferta não iria chegar para toda a procura.

Uma alteração substancial do preço do petróleo pode obrigar muitos governos a terem de refazer as contas, já que a descida da inflação na energia, que tinha vindo a registar-se, pode alterar-se e transformar em novas subidas de preço.

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