China diz que encontro entre Presidente de Taiwan e McCarthy será visto como uma “provocação”

Presidente de Taiwan iniciou esta quarta-feira uma visita à América Central durante a qual irá fazer duas paragens nos EUA.

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Tsai Ing-wen iniciou uma viagem de dez dias pela América Reuters/ANN WANG

A China avisou que vai encarar como uma “provocação” qualquer encontro entre a Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, e o presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Kevin McCarthy, durante as duas escalas que a líder taiwanesa vai fazer no país durante os próximos dias.

Tsai saiu de Taiwan esta quarta-feira para iniciar uma visita de dez dias a dois países da América Central, uma região onde restam alguns dos poucos Estados que mantêm relações diplomáticas oficiais com a República da China (a designação oficial de Taiwan). Entre as visitas à Guatemala e ao Belize, a comitiva taiwanesa deverá realizar duas escalas nos EUA – uma em Nova Iorque e outra na Califórnia, segundo as autoridades da ilha.

Apesar de não haver uma confirmação oficial, Tsai deverá encontrar-se com McCarthy na Califórnia.

A poucas horas de Tsai levantar voo, o Governo chinês avisou para o impacto que esse encontro pode vir a ter. “Se ela contactar o presidente do Congresso dos EUA, esta será uma nova provocação que viola gravemente o princípio ‘uma só China’, prejudica a soberania e a integridade territorial da China e destrói a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan”, afirmou a porta-voz do Gabinete de Assuntos de Taiwan da China, Zhu Fenglian, numa conferência de imprensa esta quarta-feira.

“Manifestamos uma oposição firme a isto e iremos adoptar medidas para responder de forma resoluta”, acrescentou a responsável.

Os encontros entre dirigentes taiwaneses e norte-americanos são um tema que gera habitualmente muito desgaste nas relações entre a China e os EUA. Washington e Taiwan não têm relações diplomáticas oficiais desde 1979, quando os EUA passaram a reconhecer oficialmente a República Popular da China. Desde então, tem funcionado uma ambiguidade diplomática que tem, até ao momento, permitido alguma convivência.

Embora não tendo relações oficiais com Taiwan, os EUA mantêm uma forte ligação com a ilha, sobretudo do ponto de vista militar. Recentemente o Presidente norte-americano, Joe Biden, disse estar disponível para defender o território de uma potencial invasão chinesa. Parte desse quase reconhecimento diplomático de Taiwan por Washington tem por base encontros informais entre alguns dos seus dirigentes.

Um responsável norte-americano recordou que Tsai já participou em vários encontros em passagens anteriores pelos EUA e desvalorizou as críticas da China. “Não há qualquer razão para que Pequim utilize as escalas como uma desculpa ou pretexto para levar a cabo actividades agressivas ou coercivas contra Taiwan”, afirmou, citado pela Reuters.

Em Agosto do ano passado, a então presidente do Congresso, Nancy Pelosi, visitou Taiwan e encontrou-se com Tsai, tornando-se na figura mais importante da hierarquia política norte-americana a fazê-lo em mais de vinte anos. Pequim condenou veementemente essa visita e intensificou as actividades militares em torno do Estreito de Taiwan, incluindo através do lançamento inédito de um míssil balístico.

Para contornar os obstáculos relacionados com a ausência de relações oficiais entre Taiwan e os EUA é habitual que um líder taiwanês aproveite viagens ao continente americano para realizar “escalas técnicas” em território norte-americano, durante as quais são organizados encontros com dirigentes norte-americanos. A viagem dos próximos dias será a sexta ocasião em que Tsai vai visitar os EUA desde que chegou à presidência, em 2016.

“A determinação de Taiwan em andar pelo mundo apenas irá ficar cada vez mais forte”, afirmou Tsai, momentos antes de embarcar para a América Central. “Estamos calmos, confiantes, inflexíveis e sem provocações”, acrescentou.

McCarthy chegou a indicar pretender visitar Taiwan, à semelhança da sua antecessora, mas as autoridades taiwanesas terão preferido que fosse Tsai a deslocar-se aos EUA para evitar um aprofundamento da crise com Pequim.

A visita de Tsai à Guatemala e ao Belize acontece poucas semanas depois de as Honduras terem anunciado o corte de relações diplomáticas com Taiwan, a favor do estabelecimento de uma ligação com a China. Actualmente, Taiwan conta com o reconhecimento diplomático de apenas 13 Estados.

Poucos dias antes de Tsai iniciar o seu périplo americano, a China recebeu o ex-presidente taiwanês, Ma Ying-jeou, que se tornou no primeiro líder da ilha a visitar a República Popular desde o fim da Guerra Civil em 1949 – que redundou na fuga do governo nacionalista do Kuomintang para Taiwan, após ser derrotado pelas forças comunistas de Mao Tsetung.

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