O que é que o IPCC nos anda a dizer desde 2018?

O Relatório de Síntese do IPCC publicado esta segunda-feira é o último deste sexto ciclo de avaliação. O que nos disseram os seis relatórios deste ciclo?

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A Terra vista da Apolo 16 em Abril de 1972 DR

O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) produz relatórios aproximadamente a cada cinco anos que representam um consenso científico global sobre as alterações climáticas, as suas causas e o seu impacto. O IPCC encontra-se actualmente no seu sexto ciclo de avaliação (AR6), durante o qual produziu os relatórios de avaliação dos seus três Grupos de Trabalho, três relatórios especiais, um aperfeiçoamento do relatório metodológico e, esta segunda-feira, o Relatório de Síntese. A mensagem tem sido (e continua a ser) de urgência.

O relatório do ano passado abordou os principais motores do aquecimento global e os elementos centrais da ciência climática. Seguiram-se dois relatórios importantes este ano — um em Fevereiro abordando como o mundo terá de se adaptar aos impactos climáticos, desde a subida dos mares à diminuição da vida selvagem, e outro em Abril sobre formas de “mitigação” ou refinação das emissões de aquecimento climático.

Assim, o relatório publicado esta segunda-feira será o último dos produtos AR6. Aqui se resume o conteúdo dos três Relatórios de Avaliação dos três Grupos de Trabalho (Base das Ciências Físicas, Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade e Mitigação das Alterações Climáticas) e os três Relatórios Especiais: Aquecimento Global de 1,5°C, Alterações Climáticas e Terra, O Oceano e a Criosfera num Clima em Mudança.

Alterações Climáticas 2021: A Base da Ciência

A contribuição do Grupo de Trabalho I para o Sexto Relatório de Avaliação aborda a compreensão mais actualizada do sistema climático e das alterações climáticas, reunindo os últimos avanços da ciência climática.

Alterações Climáticas 2022: Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade

A contribuição do Grupo de Trabalho II para o Sexto Relatório de Avaliação avalia os impactos das alterações climáticas, analisando os ecossistemas, a biodiversidade, e as comunidades humanas a nível global e regional. Analisa igualmente as vulnerabilidades e as capacidades e limites do mundo natural e das sociedades humanas para se adaptarem às alterações climáticas.

Alterações Climáticas 2022: Mitigação das Alterações Climáticas

O relatório do Grupo de Trabalho III fornece uma avaliação global actualizada dos progressos e compromissos de mitigação das alterações climáticas, e examina as fontes de emissões globais. Explica a evolução dos esforços de redução e mitigação das emissões, avaliando o impacto das promessas climáticas nacionais em relação aos objectivos de emissões a longo prazo.

2018. Aquecimento Global de 1,5°C

Nos próximos anos, o aumento da temperatura global vai levar à subida do nível da água do mar, ao aumento dos fenómenos climáticos extremos em número e em intensidade, à destruição de alguns ecossistemas, a perdas na produção de alimentos e por aí em diante. Tudo isto são certezas quase absolutas para a comunidade científica.

Mas há uma forma de, pelo menos, atenuar estas alterações: limitando o aumento da temperatura global a 1,5 graus Celsius em relação aos valores pré-industriais. E, apesar de exigir um esforço significativo, ainda é possível fazê-lo, diz o relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla inglesa) divulgado em Outubro de 2018.​

2019. Alterações Climáticas e Terra

Relatório sobre Alterações Climáticas e Solo mostra como o insustentável peso dos humanos na Terra é um problema que só pode ser resolvido pelos humanos, com mudanças e adaptações e, sobretudo, com a redução de emissões de gases com efeito de estufa. “Sustentabilidade” ainda é a palavra-chave para um futuro melhor.​

2019. O Oceano e a Criosfera num Clima em Mudança

Mais inundações costeiras, mais tempestades tropicais, menos biodiversidade, menos glaciares, milhões de pessoas que vivem em regiões costeiras em risco: as alterações climáticas deixam o oceano doente, afectando toda a vida na Terra – são estes os traços gerais do primeiro relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) da ONU dedicado unicamente aos oceanos e às partes geladas do planeta. Funciona como uma espécie de “diagnóstico” do impacto das alterações climáticas, com informação mais actualizada do que nunca.​

2023: Relatório de Síntese do ciclo AR6

O relatório síntese de todos os relatórios publicados anteriormente, divulgado esta segunda-feira, refere que limitar o aquecimento global a 1,5 graus acima dos valores anteriores à Revolução Industrial ainda é possível, mas é uma meta que se torna cada vez mais distante. “As nossas escolhas e acções durante esta década terão impactos agora e durante milhares de anos”, alerta-se num dos documentos do IPCC. O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que este relatório era um "guia de sobrevivência para a humanidade".