Rússia dispara míssil de cruzeiro no mar do Japão

Ministério da Defesa russo divulga vídeo de um ensaio de lançamento de um míssil Kalibr a partir de um submarino. EUA e Coreia do Sul anunciam exercícios militares de larga escala na região.

Foto
Marinha de guerra russa (numa parada militar em São Petersburgo, na imagem) tem intensificado os exercícios no Extremo-Oriente ANTON VAGANOV/Reuters

Com os olhos de grande parte do mundo focados na Ucrânia e no conflito provocado pela invasão russa daquele país europeu, as principais potências aproveitam para testar armamento e capacidade militar operativa e logística noutros palcos de tensão geopolítica, nomeadamente na região da Ásia-Pacífico.

Esta sexta-feira, o Ministério da Defesa da Federação Russa partilhou um vídeo, através do Telegram, de um ensaio militar realizado à luz do dia e que envolveu o lançamento de um míssil de cruzeiro a partir de um submarino nuclear no mar do Japão.

Citado pela agência russa TASS, o ministério disse tratar-se de um míssil do tipo Kalibr – muito usado, por exemplo, pela frota de guerra russa no mar Negro para atacar infra-estruturas energéticas na Ucrânia e com capacidade para atingir alvos a cerca de 1000 quilómetros de distância – que “atingiu um alvo designado no campo táctico de Siurkum, na região de Khabarovsk, à hora prevista”.

A Rússia tem vindo a reforçar, nos últimos anos, a sua presença e capacidade militar no Extremo Oriente, nomeadamente em redor das ilhas Curilas, mais a Leste, um território conquistado pela União Soviética ao Japão no final da II Guerra Mundial e que ainda hoje é disputado entre Moscovo e Tóquio, por causa da sua posição geoestratégica à saída do mar de Okhotsk e à entrada do oceano Pacífico.

Em Setembro do ano passado, perto da data do aniversário da vitória dos soviéticos sobre o Japão, as Forças Armadas russas realizaram vários exercícios militares em duas (Etorofu/Iturup e Kunashiri/Kunashir) das quatro ilhas reivindicadas por Tóquio, localizadas a poucas dezenas de quilómetros da ilha japonesa de Hokkaido, a segunda maior do país.

Poucos meses depois, Moscovo anunciou a instalação de um sistema de mísseis na ilha de Paramushir, com capacidade para disparar projécteis até 500 quilómetros de distância.

Não se estranhou, por isso, que o Japão “pacifista” tenha incluído a Rússia, a par da China e da Coreia do Norte, como as principais ameaças à sua segurança na região Ásia-Pacífico na última grande revisão da sua política de Defesa, revelada em meados de Dezembro, e que revelou a intenção de duplicação do seu orçamento militar, de 1% para 2% do PIB, no espaço de cinco anos.

Trata-se do maior gasto militar japonês desde a II Guerra e vai fazer do Japão o terceiro país do mundo que mais gasta em Defesa – atrás dos EUA e da China.

“Olhando para a sua vizinhança, o Japão enfrenta o ambiente securitário mais grave e mais complexo desde o final da II Guerra Mundial”, por causa da pressão “daqueles que procuram alterar unilateralmente o statu quo através da força”, lê-se no principal documento estratégico japonês, que inclui russos, chineses e norte-coreanos nesse clube de “desafios estratégicos” ao Japão.

Em resposta, o Kremlin disse que o investimento japonês vai “provocar inevitavelmente novos desafios securitários e vai conduzir a tensões acrescidas na região da Ásia-Pacífico”.

EUA e Coreia do Sul movimentam-se

Também nesta sexta-feira, informou o Ministério da Defesa da Coreia do Sul, norte-americanos e sul-coreanos levaram a cabo exercícios militares na região, que envolveram as respectivas Forças Aéreas, nomeadamente aviões bombardeiros B-1B, dos EUA, e caças F-15K e KF-16, da Coreia do Seul.

Depois, num comunicado conjunto, os dois aliados anunciaram exercícios militares de larga escala entre os dias 13 e 23 deste mês, que terão como objectivo lidar com a “agressão” da Coreia do Norte e “dissuadir” o regime de Kim Jong-un a prosseguir com os sucessivos testes balísticos do último ano.

Designados como “Freedom Shield” (“Escudo de Liberdade”, tradução livre), serão os maiores exercícios entre EUA e Coreia do Sul desde 2017, noticia a Reuters.

“[A operação] ‘Freedom Shield’ foi desenhada para reforçar as capacidades de defesa e de resposta da aliança, focando-se, no cenário de exercícios, em coisas como a mudança do ambiente securitário, a agressão da Coreia do Norte e as lições aprendidas em recentes guerras e conflitos”, explicam os aliados.

O anúncio destas manobras surge poucas semanas depois de o regime norte-coreano ter exibido pelo menos uma dúzia de alegados mísseis intercontinentais numa parada militar em Pyongyang e após um ano em que foram testados pelo menos 70 projécteis balísticos – um recorde absoluto.

EUA, Coreia do Sul e Japão temem agora que a Coreia do Norte se esteja a preparar para um ensaio nuclear, que, a confirmar-se, será o primeiro teste deste género desde 2017.

Sugerir correcção
Ler 16 comentários