Com quatro vestidos, Chiara Ferragni alertou para o ódio, violência e sexismo

Os coordenados são da responsabilidade de Maria Grazia Chiuri, directora criativa da Dior, e querem incentivar as mulheres a saírem da “jaula”, sem remorsos.

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O primeiro vestido ETTORE FERRARI/EPA
Rosanna Banfi
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O vestido "jaula" ETTORE FERRARI/EPA
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O segundo vestido de Chiara Ferragni imitava um corpo nu ETTORE FERRARI/EPA
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A empresário Chiara Ferragni, ao centro. À esquerda, o director artístico de Sanremo, Amadeus. À direita, o cantor Gianni Morandi ETTORE FERRARI/EPA
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O discurso de Chiara ETTORE FERRARI/EPA
,Festival de Música de Sanremo 2023
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Chiara e Amadeus ETTORE FERRARI/EPA
,Festival de Música de Sanremo 2023
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"Pesanti Libera" ETTORE FERRARI/EPA
Festival de Música de Sanremo 2023
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O terceiro vestido ETTORE FERRARI/EPA

A italiana Chiara Ferragni é das influencers mais conhecidas no mundo e aproveitou a exposição mediática para se pronunciar contra os estereótipos de género. Na primeira gala do festival Sanremo, em Itália, Ferragni usou quatro vestidos assinados pela Dior a evocar temas como o ódio, a violência e o sexismo. É a prova de como a moda passa sempre uma mensagem.

Na primeira noite do festival da canção italiano, Chiara Ferragni apostou tudo no guarda-roupa, com a ajuda de Maria Grazia Chiuri. Ao lado do cantor e compositor Gianni Morandi, a influencer foi a co-anfitriã da primeira de cinco galas. “Pensati Libera” (Pense livremente, em tradução livre) podia ler-se nas costas do primeiro coordenado.

“As palavras simples, mas fortes vêm da obra de Claire Fontaine que esperamos inspirarem todas as mulheres a sentirem-se livres para sair do papel que lhes é imposto pela sociedade”, escreveu a blogger no Instagram, antes do arranque da primeira gala, nesta terça-feira.

Ela própria, acrescenta, não quer ser “rotulada” pelo “patriarcado” e faz “todos dias” uma promessa a si mesma: “Luto para não me sentir culpada pelo meu sucesso, enquanto mulher.” A culpa é um tema que toca no coração de muitas mulheres, que a elogiam nos comentários da publicação que reúne quase 1,5 milhões de gostos.

O vestido preto tem uma silhueta clássica da Dior, com um corpete modelado e saia rodada, uma homenagem ao New Look da casa de moda francesa. À volta dos ombros, a italiana levou uma estola branca bordada com o mantra Pensati Libera. De acordo com a edição italiana da Vogue, Ferragni já teria sido convidada por diversas vezes para apresentar o concurso, mas só agora terá conquistado a confiança necessária para aceitar o desafio, acredita-se.

O vestido nu

Apesar da elegância do primeiro vestido, é o segundo coordenado que está a fazer furor nas redes sociais, por se assemelhar a um corpo nu. A peça personalizada por Maria Grazia Chiuri mimetiza o corpo de uma mulher e é adornado com milhares de microcristais que quase o iluminam.

A usar o vestido, Chiara Ferragni aproveitou a oportunidade para ler uma carta que escreveu destinada à criança que foi antes de se tornar mulher. No discurso, a empresária defende que se tivesse dado ouvidos a todos os que a insultaram nas redes sociais, nunca teria tido sucesso, primeiro através do blogue The Blonde Salad, que não se tardaria a tornar numa marca, e, mais tarde, nas redes sociais.

É lá, lamentou, que é atacada por homens e mulheres por partilhar a vida pessoal e, desde que é mãe, esse ódio aumentou. Porquê? Por exemplo, por se fotografar em roupa interior ou mostrar demais Leone e Vittoria, os dois filhos. A influencer pediu que não se deixe o medo e o preconceito tornarem-se “uma jaula”.

Assumir a “nudez”, aponta a directora criativa da Dior, em comunicado, significa “não ter nada a esconder” e é uma forma de mostrar como o corpo “vai além do desejo masculino” e “é inviolável”. O vestido quer “homenagear a beleza dos corpos das mulheres numa época em que, alguns países do mundo, ameaçam os seus direitos de reprodução, a liberdade de estudar e trabalhar, e o direito a uma vida tranquila é tirado pela guerra”.

Vestido contra o ódio

No terceiro vestido, Grazia Chiuri escreveu algumas das críticas que são dirigidas a Chiara Ferragni nas redes sociais, sobretudo quanto à aparência, ao corpo e à maternidade. O modelo branco de corte feminino é bordado com pérolas negras —​ quase como um livro onde se escreve preto no branco.

“Nojenta”; “Photoshop, o rabo verdadeiro é flácido”; “é uma mãe pouco presente”: são alguns dos insultos bordados ao longo de corpo de Chiara. Na gala de Sanremo, a empresária apareceu junto de representantes da associação italiana D.i.Re, uma rede de mulheres contra a violência, para falar sobre o tema. O que terá recebido de pagamento, por apresentar o festival da canção vai ser doado a 82 centros e abrigos para mulheres vítimas de violências, em todo o país.

Com estas declarações, sublinharam, não querem incitar ao silêncio, nem limitar a liberdade de expressão. Querem, sim, sublinhar que não é permitido insultar livremente e confundir isso com uma opinião. Nem tudo deve ser permito nas redes sociais.

A jaula

A jaula que Chiara falava no seu discurso dá vida ao quarto e último vestido do serão, criado para “libertar as novas gerações dos estereótipos de género, nos quais as mulheres se sentem enjauladas”, explica a influencer no Instagram. É por esse motivo que surge ao lado da filha Vittoria na sessão fotográfica.

A criação de Grazia Chiuri é um macacão repleto de cristais sobreposto com uma jaula em tule e “representa a esperança de quebrar as convenções impostas pelo patriarcado”. Uma esperança, incentivam, que está “nas meninas de hoje que serão as mulheres de amanhã”.

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