Neandertais caçavam há 125 mil anos elefantes-de-presas-direitas

Cortar uma presa com uma média de dez toneladas (como um elefante de uma espécie já extinta) antes que a carne apodreça exigiria vários dias de trabalho para cerca de 20 homens.

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A cientista Sabine Gaudzinski-Windheuser ao lado da reconstituição de um elefante Palaeoloxodon antiquus Lutz Kindler/MONREPOS
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A cientista Sabine Gaudzinski-Windheuser ao lado da reconstituição de um elefante Palaeoloxodon antiquus Lutz Kindler/MONREPOS
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A investigadora Sabine Gaudzinski-Windheuser a examinar o fémur de um elefante Lutz Kindler/MONREPOS

Os elefantes-de-presas-direitas, já extintos, eram animais enormes, duas vezes maiores do que os actuais elefantes africanos. Há 125 mil anos, apesar do tamanho impressionante, os neandertais caçavam esta espécie, revela um estudo agora divulgado.

Esta nova investigação lança uma nova luz sobre a compreensão destes humanos pré-históricos, que caçavam estes elefantes de 13 toneladas e quatro metros de altura.

"Os neandertais eram capazes de gerir enormes quantidades de comida", não apenas a resultante da caça de cavalos, bovinos ou veados, adiantou à agência AFP Wil Roebroeks, co-autor deste estudo publicado na revista Science Advances. "Ou [eram capazes] de mantê-la por muito tempo - e isso já é algo que não sabíamos - ou simplesmente porque viviam em grupos muito maiores do que se pensava", com mais bocas para alimentar, acrescentou.

Cortar uma presa com uma média de dez toneladas antes que a carne apodreça exigiria vários dias de trabalho para cerca de 20 homens, estimaram os investigadores.

Esta quantidade forneceria alimento suficiente para 25 pessoas comerem durante três meses, ou um mês no caso de 100 pessoas. Para preservar a carne, talvez a secassem em fogueiras.

À pergunta como é que os neandertais conseguiam matar estes animais colossais, não há uma resposta certa, mas uma das hipóteses é que estes imobilizavam o animal em áreas lamacentas onde ficaram presos, ou em armadilhas escavadas, antes de os abater com lanças.

Durante muito tempo, os investigadores questionaram-se sobre a presença, em diversos sítios arqueológicos, de ossos de elefantes próximos a ferramentas de pedra: os neandertais eram realmente capazes de caçá-los ou apenas se alimentavam de animais mortos por causas naturais?

A prova de que caçavam os animais, como uma marca de impacto ou uma lança cravada num osso, nunca foi observada, o que não é surpreendente, dada a envergadura destes elefantes (Palaeoloxodon antiquus), cujos estudos genéticos têm sido associados aos actuais elefantes africanos.

Mas no local conhecido como Neumark-Nord 1, perto da actual cidade de Halle, na Alemanha, uma pista alertou os cientistas: os restos de cerca de 70 elefantes, o maior grupo conhecido, eram na grande maioria machos adultos. Esta falta de diversidade deve-se à selecção por caçadores, de acordo com o estudo.

Ao contrário das fêmeas, que viviam em manadas, os machos solitários devem ter sido mais fáceis de matar. Estes também representavam mais comida, devido ao seu tamanho maior.

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Marcas de cortes nos ossos dos elefantes Wil Roebroeks/Universidade de Leiden

Os investigadores analisaram então os ossos extremamente bem preservados de quase 60 desses elefantes no microscópio, que demonstraram ter marcas claras de ferramentas em pedra utilizadas pelos neandertais para cortá-los: golpes de alguns centímetros no máximo.

"Estas são as clássicas marcas de corte geradas ao cortar a carne e raspá-la dos ossos", explicou Wil Roebroeks, professor de arqueologia da Universidade de Leiden, nos Países Baixos.

O ambiente onde esses neandertais viviam e onde os animais foram encontrados, perto de um lago, pode ser propício para encurralá-los num solo lamacento, segundo a nova investigação. A caça ao elefante foi praticada naquela zona pelos neandertais por um período de pelo menos dois mil anos, ou dezenas de gerações.

Mas os neandertais viveram na Terra durante muito tempo, entre há cerca de 400 mil e 40 mil anos.

Na Europa, "na maior parte do tempo fez muito mais frio do que hoje", ao contrário do período analisado em Neumark, explicou Wil Roebroeks.

Diante uma alimentação mais farta graças, esta espécie humana conseguiu adoptar um estilo de vida mais sedentário, em grupos maiores. No entanto, a questão do número destes grupos permanece extremamente difícil de determinar com precisão.

De qualquer forma, o estudo demonstra, diz Wil Roebroeks, que "o mundo dos neandertais era muito diversificado" e que estes "não eram apenas escravos da natureza, ou seja, aqueles hippies originais que viviam da terra".

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