Brincar às moções

Face à moção de censura da IL, a única posição, lógica e coerente, do PSD, só pode ser a abstenção.

Há partidos para quem aparecer permanentemente, seja a que preço for, é importante, porque constitui uma espécie de prova de vida. Partidos para quem o movimento é tudo, porque o fim é quase nada.

Ocorreu-me isto a propósito do timing da apresentação, pela Iniciativa Liberal, de uma moção de censura ao Governo.

Desconheço quais os reais motivos subjacentes a esta decisão. Se as circunstâncias da sua vida interna. Se uma tentativa de criar supostas dificuldades ao PSD. Se outro qualquer. Mas não deixo de registar que, na passada legislatura, quando o Governo não tinha maioria no Parlamento, nada fez de semelhante. E que agora, quando o executivo goza de maioria absoluta, avançou corajosamente. Faz-me lembrar aquela conhecida frase: “Agarrem-me, senão eu bato-lhes.”

Haverá, no PSD, certamente, quem ache que o partido deveria secundar essa atitude, votando favoravelmente a moção. Mas acha mal. Porque o PSD está – diria mesmo, tem de estar – noutro plano, em termos de estratégia e em termos de responsabilidade.

Apresentar uma moção de censura nesta altura – sublinho, nesta altura – é brincar com coisas sérias. Porque houve eleições há menos de um ano. Porque delas resultou uma maioria parlamentar absoluta. Porque é um favor ao Governo, permitindo-lhe, de algum modo, relegitimar-se politicamente num momento de especial fragilidade.

Que a actuação deste Governo é um desastre, é uma evidência. E já não é de agora. Por isso, no cenário político que temos, um partido de oposição responsável, como é o PSD, não deve distrair-se com soundbites ou faits divers. Deve focar-se, antes, em ser exigente face ao Governo, confrontá-lo com os seus erros e incapacidades, afirmar uma alternativa coerente.

Em suma: face à moção de censura que será debatida na quinta-feira, a única posição, lógica e coerente, do PSD, só pode ser a abstenção. Sinalizando, por um lado, que não está com quem é inconsequente e, por outro, que não está com quem é incompetente.

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