Republicanos voltam a falhar eleição do speaker da Câmara dos Representantes

Kevin McCarthy foi novamente impedido de chegar à liderança por um grupo de colegas republicanos ultraconservadores, após seis rondas de votação.

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Kevin McCarthy enfrenta uma forte oposição de republicanos ultraconservadores Reuters/JONATHAN ERNST

A eleição do congressista republicano Kevin McCarthy para a presidência da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, dada como certa após a conquista da maioria pelo Partido Republicano nas eleições de Novembro, é um cenário cada vez mais distante.

Nesta quarta-feira, após uma sexta ronda de votações, e pelo segundo dia consecutivo, McCarthy voltou a ser impedido de subir ao cargo de speaker — o segundo na linha de sucessão do Presidente dos EUA — por um grupo de 20 colegas ultraconservadores, decididos a eleger um candidato ainda mais à direita. Perante o impasse, a sessão foi suspensa por volta das 21h30 (hora portuguesa) para ser retomada ao início da madrugada de quinta-feira (20h desta quarta-feira em Washington D.C.); e acabaria por voltar a ser suspensa e adiada para as 17h de quinta-feira (12h na hora local).

Alguns apoiantes de McCarthy, como o congressista Ken Buck, já começaram a pressionar o candidato a tomar uma decisão. "Eu disse ao Kevin que ele tem de fazer um acordo [com os ultraconservadores], ou então terá de dar uma oportunidade a outros, para ver se eles conseguem encontrar uma solução", disse Buck à CNN.

Uma hipótese que está a ser trabalhada é a escolha de quatro congressistas de cada um dos lados (pró-McCarthy e anti-McCarthy) para negociarem um acordo nas próximas horas.

Os revoltosos, quase todos apoiantes das queixas infundadas de fraude eleitoral lançadas por Donald Trump em 2020, exigem que as lideranças partidárias transfiram muito do seu poder de decisão para os congressistas, o que lhes daria mais margem para bloquearem a aprovação de propostas com gastos elevados, como o Orçamento que foi aprovado em Dezembro com alguns votos republicanos.

O grupo exige também a reintrodução de uma regra que permitia a um único congressista apresentar uma moção de censura contra o speaker — o que poderia deixar McCarthy numa posição de grande fragilidade durante o seu mandato.

A intenção dos ultraconservadores é a de bloquear, no final de 2023, mais uma inevitável subida do limite da dívida dos EUA, uma medida que tem sido tomada pelos dois partidos ao longo dos anos, e sem a qual o país poderia entrar em incumprimento e arrastar a economia mundial.

Sem sinais de que McCarthy admite renunciar à candidatura a speaker, e sem o menor indício de que os revoltosos estão dispostos a levantar o bloqueio, é difícil antecipar uma decisão rápida. Enquanto a Câmara dos Representantes não tiver um presidente em funções, os congressistas que venceram as eleições em Novembro não podem tomar posse, e nenhum trabalho legislativo pode ser feito.

Numa câmara com 222 congressistas do Partido Republicano e 212 do Partido Democrata (e um lugar ainda por decidir), McCarthy devia ter sido eleito logo na primeira ronda de votação, tal como aconteceu em todas as eleições para speaker desde 1923.

Em vez disso, o processo já teve seis votações em dois dias — o que só aconteceu em oito outras ocasiões em toda a história, todas elas antes da Guerra Civil de 1861-1865.

Nesta quarta-feira, as três votações do dia foram muito semelhante às três realizadas na terça-feira, com os congressistas do Partido Democrata a votarem em bloco (212) no seu candidato, Hakeem Jeffries, e a maioria dos republicanos (201) a votar em Kevin McCarthy. O republicano não consegue assim chegar aos 218 votos necessários para ser eleito, sendo que a ala anti-McCarthy uniu-se à volta do congressista Byron Donalds, da Florida.

Num sinal que pode ser interpretado como uma perda de influência de Donald Trump no Partido Republicano — ou de uma viragem ainda mais à direita na bancada republicana na Câmara dos Representantes —, o anterior Presidente dos EUA declarou o seu apoio a McCarthy e voltou, nesta quarta-feira, a apelar aos seus apoiantes que recuem no bloqueio, o que não surtiu o efeito pretendido.

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