Maioria republicana na Câmara dos Representantes passou por Nova Iorque

O sentimento de insegurança marcou a campanha eleitoral num estado mais conhecido pelas suas políticas progressistas, e acabou por determinar o descalabro do Partido Democrata.

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Em 2021, o democrata Eric Adams foi eleito presidente da Câmara de Nova Iorque com um discurso anticrime Reuters/BRENDAN MCDERMID

A partir de Janeiro, o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, vai enfrentar um Congresso dividido ao meio pela primeira vez desde que chegou à Casa Branca, com a curta maioria do Partido Republicano na Câmara dos Representantes a prometer bloquear-lhe a agenda política até ao fim do mandato. E a culpa dessa nova realidade pode estar dentro de casa: foi em Nova Iorque, um estado visto como um bastião das políticas progressistas, que os candidatos republicanos tiveram a sua melhor prestação nas eleições de 8 de Novembro.

Ao todo, os republicanos triunfaram em 12 dos 26 distritos eleitorais de Nova Iorque – mais quatro do que nas eleições de 2020, incluindo três conquistados a congressistas do Partido Democrata e uma vitória num distrito eleitoral criado após os censos de 2020/2021.

Quando falta ainda conhecer o resultado de duas das 435 eleições realizadas a 8 de Novembro em todo o país – uma na Califórnia e uma no Colorado, ambas a caminho de uma recontagem –, o cenário mais provável para a composição da Câmara dos Representantes, a partir de Janeiro, é uma maioria republicana de 223-212.

Os ganhos em Nova Iorque foram determinantes para a curta maioria republicana na câmara baixa do Congresso dos EUA. Num ciclo eleitoral a meio do mandato de Biden – quando se esperava, como é habitual, uma vitória esmagadora do partido na oposição –, os republicanos escaparam à tangente a uma derrota histórica e humilhante, depois de o eleitorado ter penalizado nas urnas, um pouco por todo o país, muitos candidatos apoiados pelo anterior Presidente dos EUA, Donald Trump.

Ao contrário do que aconteceu em estados no interior e no Sul do país, onde o fim do direito constitucional ao aborto e as leis restritivas aprovadas pelo Partido Republicano motivaram muitos eleitores independentes a votarem em candidatos do Partido Democrata, o principal tema de campanha, em Nova Iorque, foi o sentimento de insegurança. No Verão, as supermaiorias democratas na assembleia legislativa de Nova Iorque aprovaram uma emenda constitucional para proteger o direito ao aborto no estado, o que terá relativizado o impacto da decisão do Supremo Tribunal dos EUA aos olhos do eleitorado nova-iorquino independente.

Ao mesmo tempo, as reformas das leis criminais do estado, em 2020, aprovadas pela mesma supermaioria democrata, contribuíram para um aumento do sentimento de insegurança, principalmente nos subúrbios da cidade de Nova Iorque.

Uma dessas reformas pôs fim ao pagamento de uma caução monetária por suspeitas de crimes não-violentos, com o objectivo de poupar os mais pobres, geralmente de minorias, a meses de prisão preventiva. Durante a campanha eleitoral, essa nova lei foi usada pelo Partido Republicano para retratar os candidatos democratas como fomentadores da criminalidade – apesar de não haver dados que liguem a lei de 2020 ao aumento da criminalidade desde o início da pandemia de covid-19, e de os números serem, ainda assim, muito inferiores aos registados nas décadas de 1980 e 1990.

O colapso do Partido Democrata em Nova Iorque ficou patente na derrota do congressista Sean Patrick Maloney contra o candidato republicano Mark Lawler. Maloney, de 56 anos, foi o coordenador da estratégia do seu partido nas eleições para a Câmara dos Representantes a nível nacional, e acaba por ser afastado do Congresso após cinco eleições consecutivas, entre 2012 e 2020.

E, em Long Island, os republicanos triunfaram nos quatro distritos eleitorais da ilha da região metropolitana da cidade de Nova Iorque, incluindo dois lugares retirados ao Partido Democrata.

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