Algarve lança projecto para reduzir mosquito que transmite dengue ou Zika

O mosquito-tigre-asiático foi identificado em Portugal em 2017. Um novo projecto-piloto realizado no Algarve quer suprimir a população deste insecto, para prevenir o aparecimento de novas doenças.

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Este mosquito-tigre-asiático é uma peça importante na transmissão de vírus como o do Zika ou dengue James Gathany/CDC

Um projecto-piloto para controlar biologicamente a população do mosquito-tigre-asiático, espécie que pode transmitir a febre de dengue e o vírus de Zika está a ser desenvolvido em Faro por investigadores de saúde ambiental.

O projecto, único em Portugal, pretende testar a técnica do insecto estéril (SIT) para reduzir a população do mosquito Aedes albopictus, uma espécie que representa uma ameaça potencial de transmissão de várias doenças, entre as quais a dengue, Zika e chikungunya.

Recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para reduzir a população destes mosquitos e prevenir o aparecimento de doenças, a técnica SIT consiste em libertar machos estéreis que, ao acasalarem com as fêmeas, inviabilizam novas gerações destes mosquitos.

O projecto, com a duração de dois anos, é conduzido por investigadores do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) em colaboração com o serviço de saúde pública da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve, no âmbito da Rede Nacional de Vigilância de Vectores (REVIVE), tendo financiamento da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA).

A coordenadora regional do Algarve do programa REVIVE, Nélia Guerreiro, diz à agência Lusa que a monitorização da população daqueles insectos está a ser feita numa área específica de 40 hectares na zona de Gambelas, perto do aeroporto internacional de Faro, onde a espécie foi identificada em 2020.

“Durante três semanas foram desenvolvidas actividades de campo, com a libertação de cerca de 90 mil insectos esterilizados em laboratório e marcados, para que se possa validar a técnica SIT, enquanto ferramenta ecológica complementar para o controlo deste vector”, aponta.

Os resultados para perceber se os ovos que forem produzidos pelos mosquitos libertados no meio ambiente “são estéreis ou não, só deverão ser conhecidos perto do final do ano”, refere ainda a responsável.

Nélia Guerreiro adianta que monitorização feita desde 2020 à população de mosquitos na zona de Gambelas “permitiu recolher já dados muito robustos, nomeadamente a sua densidade, quando é que o mosquito está activo e quando perde actividade”.

“Devido aos dados recolhidos é que foi possível submeter um projecto deste tipo que pretende validar a técnica do mosquito estéril enquanto uma ferramenta ecológica complementar para um programa de controlo do vector, para no futuro poder ser usada para a supressão da população de mosquitos que existe numa determinada região”, conclui.

Com origem no Sudeste asiático, o Aedes albopictus tem vindo a disseminar-se globalmente através do transporte passivo de ovos originado em actividades comerciais, nomeadamente, o comércio global de pneus usados e plantas ornamentais.

O mosquito-tigre-asiático chegou à Europa através da Albânia, em 1979, e desde então foi já detectado em vários países, como Itália, França ou Espanha, sendo capaz de transmitir doenças como dengue, Zika e chikungunya, bem como parasitas filárias.

A espécie invasora foi detectada pela primeira vez em Portugal em Setembro de 2017 numa fábrica de pneus no Norte do país, o que desencadeou uma resposta de vigilância por parte das autoridades de saúde pública a nível local, regional e nacional.

Um ano depois, a mesma espécie foi detectada no Algarve em zonas muito pontuais, desconhecendo-se com precisão como foi feita a sua introdução.

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