Diabetes de tipo 2 pode acelerar progressão de cancro da mama

Entre 20% a 28% das pessoas com cancro da mama também são diagnosticadas com diabetes mellitus de tipo 2. Estudo da Universidade do Porto aponta para dois alvos que poderão oferecer uma terapia direccionada para quem tem este tipo de diabetes e cancro da mama.

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O cancro da mama em mulheres com diabetes mellitus de tipo 2 é normalmente diagnosticado em fases mais tardias da doença Manuel Roberto

A desregulação da insulina e da leptina, comuns na diabetes de tipo 2, cria um “ambiente metabólico favorável” ao desenvolvimento do cancro da mama, conclui um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). Esta investigação pode desvendar uma nova forma de abordagem terapêutica para casos de cancro da mama.

“A grande dependência das células tumorais em ‘combustíveis’, como a glicose e a glutamina, constitui uma vulnerabilidade metabólica específica do tumor, o que pode criar janelas terapêuticas adicionais para erradicar as células tumorais”, refere a investigadora Cláudia Silva, da FMUP, em comunicado.

Em causa estão as diferentes características metabólicas associadas à diabetes mellitus de tipo 2 e a convicção de que estas podem desencadear o início e a progressão de cancro da mama, sendo os efeitos mais evidentes no subtipo mais agressivo da doença.

Com este estudo, os investigadores procuraram perceber qual a ligação entre as características mais comuns encontradas em pacientes com diabetes de tipo 2 e a captação celular de glicose e glutamina, dois nutrientes das células de cancro da mama.

De acordo com a FMUP, os resultados demonstraram que níveis elevados de importantes componentes da desregulação metabólica que se verifica na diabetes mellitus de tipo 2, como a insulina e a leptina, interferem na proliferação, migração, formação de novos vasos sanguíneos e sobrevivência das células tumorais e não tumorais da mama.

Esta realidade “proporciona um ambiente metabólico favorável para o desenvolvimento de cancro da mama”, lê-se no resumo do estudo.

Cláudia Silva acredita que, com esta descoberta, pode estar-se perante um novo alvo para o tratamento de cancro da mama em pacientes com diabetes mellitus de tipo 2, isto porque os dados deste estudo sugerem que os tumores da mama são sensíveis à inibição farmacológica de dois principais transportadores de nutrientes.

“Uma terapia direccionada pode ser uma estratégia eficaz para reduzir ou prevenir o início, promoção e progressão de cancro da mama em doentes com diabetes mellitus de tipo 2”, aponta Cláudia Silva.

Adicionalmente, estes dois transportadores podem ser usados como biomarcadores para o risco de desenvolvimento de cancro da mama em pacientes com diabetes mellitus de tipo 2.

O cancro da mama é descrito como a neoplasia maligna mais comum entre as mulheres a nível mundial, sendo que entre 20 a 28% dos casos têm também diagnóstico de diabetes de tipo 2.

“O cancro da mama em mulheres com diabetes mellitus de tipo 2 é frequentemente diagnosticado numa fase avançada em comparação com mulheres sem diabetes, o que pode explicar o aumento até 50% da mortalidade nestes casos”, acrescenta a autora do estudo.

Intitulada “O papel do transporte de nutrientes pelas células cancerosas na interacção entre diabetes mellitus de tipo 2 e o cancro da mama” (numa tradução de inglês para português), esta a investigação foi realizada no âmbito do doutoramento em Metabolismo - Clínica e Experimentação, sob orientação de Fátima Martel, professora da FMUP.

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