Agatha Ruiz de La Prada numa carta de amor ao país no primeiro dia de Portugal Fashion

Esta quarta-feira, os desfiles da 51.ª edição da semana de moda do norte foram inaugurados com Katty Xiomara, Maria Gambina, Maria Carlos Baptista e a grande estreia da consagrada criadora espanhola Agatha Ruiz de La Prada.

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Agatha Ruiz de La Prada com as modelos no final do desfile EPA/JOSE COELHO
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Agatha Ruiz de La Prada EPA/JOSE COELHO
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Agatha Ruiz de La Prada EPA/JOSE COELHO
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Katty Xiomara LUSA/JOSE COELHO
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Katty Xiomara LUSA/JOSE COELHO
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Katty Xiomara LUSA/JOSE COELHO
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Katty Xiomara LUSA/JOSE COELHO
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A criadora Katty Xiomara EPA/JOSE COELHO
Pedro Passos Coelho
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Maria Gambina LUSA/JOSE COELHO
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Maria Gambina LUSA/JOSE COELHO
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Maria Gambina LUSA/JOSE COELHO
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Maria Carlos Baptista Ugo Camera/Portugal Fashion
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Maria Carlos Baptista Ugo Camera/Portugal Fashion
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Maria Carlos Baptista Ugo Camera/Portugal Fashion
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Maria Carlos Baptista Ugo Camera/Portugal Fashion
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Maria Carlos Baptista Ugo Camera/Portugal Fashion
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Maria Carlos Baptista Ugo Camera/Portugal Fashion
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Maria Carlos Baptista Ugo Camera/Portugal Fashion
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A designer Maria Carlos Baptista Ugo Camera/Portugal Fashion

Junto à passerelle improvisada à porta do Museu Nacional de História Natural e Ciência da Universidade do Porto, os curiosos param, enquanto as modelos vestidas por Katty Xiomara desfilam. Esta quarta-feira foram inaugurados os desfiles da 51.ª edição do Portugal Fashion num dia com destaque para o regresso de Maria Gambina, a afirmação de Maria Carlos Baptista, além da estreia de Agatha Ruiz De La Prada na Invicta. “Para mim, Portugal é brutalmente importante. Estou muito contente, este desfile é muito importante”, confessa ao PÚBLICO a criadora espanhola.

Nas salas do museu, as colecções de botânica, geologia ou zoologia deram temporariamente lugar à azáfama dos bastidores de uma semana de moda. Minutos antes do desfile de Katty Xiomara, as modelos começam a vestir-se, enquanto, ao lado, Maria Gambina faz a última prova. A moda veio habitar espaços emblemáticos da cidade, numa edição que a organização chamou de “compromisso”. Ao final da tarde, o ambiente ficaria mais leve perante o anúncio, na sequência de uma reunião com o ministro da Economia, de que a próxima edição deverá estar assegurada.

Mas não era nisso que os designers pensavam minutos antes de começar o desfile e a vontade de apresentar o trabalho dos últimos seis meses sobrepõe-se às preocupações. Katty Xiomara marcou o arranque com uma reflexão, Propaganda, que considerou ser adequada para ponderar o momento que a humanidade atravessa. “Na verdade, a propaganda nasce muito antes do que conhecemos como tal. Podemos até associar à religião. Ou, por lado, vem da palavra propagar”, começa por explicar a criadora venezuelana.

“Mas também se associa propaganda a regimes totalitários ─ o que faz sentido mencioná-la hoje”, argumenta, referindo-se ao regime de Vladimir Putin. Muitos dos regimes totalitários que marcam a história “nascem de uma ideia boa”: “É quase uma utopia do mundo melhor que acaba por se tornar uma distopia.” É esse caminho que faz no desfile, ao som do DJ Freud, onde o sonho vai dando lugar à propaganda, com uma alusão militar nos acessórios das modelos e na forma de caminhar.

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LUSA/JOSE COELHO

Nas peças, em contraste com os regimes que querem “uniformizar a sociedade”, Katty Xiomara promove a individualidade e surpreende pela sensualidade das rendas, transparências, folhos e laços, em cores suaves, femininas. “A ideia era contradizer algumas fórmulas”, assevera. Em jeito de crítica social, no principal estampado lê-se “blá, blá, blá”.

Trinta anos de Gambina

Maria Gambina regressa ao PF depois de ter estado ausente na última edição. Não marcou presença porque não quer apresentar “mais colecções com seis meses de antecedência”. E justifica ao PÚBLICO: “Não faz sentido para o meu negócio fazer esse investimento de ter uma colecção durante seis meses parada no meu atelier, porque só vendo na minha loja física e na loja online.”

“Faço 30 anos de carreira e lutei tanto. Tenho de me mentalizar que isto é mesmo um negócio”, confessa. “Não faço mais peças para museus ou para ficarem a ganhar pó”, diz, como que em declaração de interesses. É isso que define a proposta que habitou o Passeio dos Clérigos, com vista privilegiada para o ícone da cidade.

Não faltou o universo do futebol que traz frequentemente para as colecções, presente em várias malhas, em elementos divertidos. Mas, para este Inverno, traz uma novidade: descobriu o universo do reggae. “Esta colecção é um apanhado de tudo o que vivo, oiço e vejo. Vi um documentário sobre reggae e depois ouvi os 20 melhores álbuns de reggae”, conta. “Comecei a descobrir um lado menos conhecido desta música. E mensagem é toda paz e amor ─ é o que precisamos hoje.”

Numa proposta colorida, onde o néon chamou a atenção, apostou nas malhas e gangas sustentáveis, bem como nos impermeáveis. “Trabalhei o estampado a laser nas gangas. Foi um bom desafio. Gosto de experimentar coisas novas. Maria Gambina não é uma fórmula”, declara.

A roupa utilitária de Maria Carlos Baptista

Maria Carlos Baptista venceu o concurso Bloom em 2020 e desde então tem ganho destaque entre os novos criadores do PF, numa abordagem que tanto oscila entre o experimental, como se distingue pela paixão pela alfaiataria. “Senti necessidade de voltar à questão utilitária. Quando fui para moda queria ser alfaiate”, conta a antiga bailarina. “Nesta colecção fui fazendo peças por instinto, não pensei no conjunto”, revela.

Essa dimensão instintiva, acredita, “dá outra profundidade às peças”. Mas, desta vez, a profundidade não as impede de serem comerciais e era esse o seu objectivo. No desfile no Mosteiro São Bento da Vitória, trouxe o melhor que sabe fazer no contraste entre a alfaiataria de traços masculinos e os vestidos delicados acetinados, combinados com as jóias da Lage ─ tudo feito com materiais que tinha em casa, até para combater o desperdício.

“Sempre tive este encanto de tornar diferenciador este vestuário utilitário por ser meu. Não vou trazer um mundo novo”, observa. Mas depois de meses a confeccionar a colecção totalmente por sua conta, sem ajuda, ver as manequins com a sua roupa “é uma sensação de pausa merecida”, diz, emocionada. “Materializava as coisas em dança, agora materializo em roupa”, resume a jovem, que deixou a dança depois de uma lesão.

Para breve está a estreia de Maria Carlos Baptista no vestuário masculino, no sonho de “fazer alfaiataria”. Agora, quer tentar escalar a produção de algumas peças neste caminho para se afirmar enquanto marca, além da moda como uma arte experimental. Em simultâneo, ambiciona fazer cada vez mais peças em exclusivo, “criar uma ligação entre criador e cliente”.

A cor made in Portugal de Agatha Ruiz de La Prada

Por ano, Agatha Ruiz de La Prada faz em média 70 desfiles, mas poucos são tão especiais como este, confessa ao PÚBLICO, sentada na primeira fila da sala de desfiles, onde dentro de momentos irá encher a sala de cor, perante uma plateia em êxtase por a receber. “É muito emocionante estar aqui”, admite, sobre o primeiro desfile que faz a norte ─ a sul já fez inúmeras exposições.

É nesta zona do país que, há 30 anos, produz 90% das suas colecções. “Foi o El Corte Inglès que me trouxe para cá. Apresentaram-me as primeiras fábricas, em Riba de Ave, e ficamos para sempre”, recorda. Qual é a vantagem de continuar a produzir em Portugal? “As fábricas portuguesas são muito melhores do que as espanholas. Às espanholas, durante muitos anos, pedíamos para fazer uma camisola e o mínimo eram duas mil e de cada cor. Em Portugal dizia 50 e faziam 50”, reaviva.

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A criadora espanhola elogia a evolução da indústria têxtil portuguesa que vê ser melhorada “todos os dias”. “Por exemplo, a Inditex é espanhola, mas muita produção é portuguesa”, argumenta. E lamenta: “Do meu ponto de vista, o Governo aqui dá muito mais facilidades do que em Espanha. É pena, porque quando era pequena, havia muitas fábricas em Espanha. Fecharam todas.”

Mas a noite foi de celebração e cor. Para o desfile, a designer, que se distingue pela moda inspirada no pop-art, trouxe o melhor da sua colecção comercial, fabricada em Portugal, com algumas peças de autor em materiais ecológicos. “Quase todas as peças que trago são feitas com plátano, com bambu, com algas. É a colecção mais ecológica que fiz na minha vida”, resume. Agora, celebra, já é possível ser “ecológica e também muito alegre”, já que antes “os tecidos reciclados eram muito tristes”.

Destaque para um dramático vestido branco com camadas ou para a criação que fechou o desfile: um vestido vermelho e cor-de-rosa cheio de volumes. Todas as modelos envergavam o clássico coração de Agatha Ruiz de La Prada na cabeça. Foi quase uma prova de amor por Portugal: “Para mim, Portugal é brutalmente importante.” E a criadora não se coíbe de elogiar a moda nacional que acompanha de perto, sobretudo graças aos amigos Ana Salazar, Miguel Vieira e Fátima Lopes. “A moda aqui é extraordinária, extraordinariamente intelectual, muito mais do que em Espanha.”

Esta quinta-feira, a moda continua a habitar a cidade com os desfiles dos jovens talentos na Escola Superior Artística do Porto e a final do Concurso Bloom, na Alfândega, bem como as apresentações de Lilly Afonso, Nopin, Nuno Miguel Ramos, David Tlale e o desfile dos sapatos e malas portugueses, promovido pela Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS).

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