Projecto sobre tumores hereditários muito raros ganha cinco milhões de euros

O principal objectivo de um projecto coordenado por cientistas do Porto é apostar mais na prevenção e reduzir o risco de desenvolver cancro em síndromes tumorais muito raras.

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Equipa do i3S lidera grupo que criará estratégia para prevenir cancros hereditários muito raros Gonçalo Dias

Cientistas do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto lideram um projecto, financiado em cinco milhões de euros, que pretende delinear uma estratégia europeia para reduzir o risco de cancro em doentes com síndromes tumorais hereditárias muito raras.

Este projecto visa “estimar o custo-benefício de intervenções preventivas e reduzir o risco de cancro” neste tipo de síndromes, diz o i3S, em comunicado. As síndromes tumorais hereditárias muito raras (RTRS, na sigla em inglês) são doenças raras causadas por variantes genéticas hereditárias. Muitos doentes assintomáticos de famílias com estas síndromes, quando não diagnosticados ou examinados, desenvolvem cancros “particularmente agressivos, levando à morte prematura.”

As RTRS constituem uma parte dos cancros hereditários que são raros e “negligenciados”, salienta o comunicado, lembrando que tal levou, em 2017, ao lançamento de uma Rede Europeia de Referência para as Síndromes de Risco de Tumor Genético (Genturis) pela Comissão Europeia.

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Parte da equipa do i3S que participa no projecto Preventable, com a líder Carla Oliveira (quarta a partir da esquerda) i3S

Segundo o instituto, a maioria dos sistemas de saúde continua a optar pelo tratamento do cancro, “apesar dos elevados custos que isso acarreta”, ao invés de “seguir o caminho da prevenção ou do diagnóstico precoce”. “É urgente demonstrar o custo-benefício da aplicação de medidas preventivas nas síndromes RTRS”, salienta no comunicado, Carla Oliveira, investigadora e coordenadora do projecto intitulado Preventable.

Oito síndromes raras

Ao longo dos três anos do projecto, os investigadores vão olhar para oito síndromes raras de cancro, nas quais é “elevada e muito elevada” a predisposição para desenvolver um ou mais cancros precoces.

Para estimar o custo-benefício das intervenções preventivas e reduzir o risco de cancro, a investigação vai recorrer a dados clínicos de famílias com estas doenças, à experiência dos profissionais e dos doentes.

Ao mesmo tempo, vão ser delineadas directrizes para a comunicação entre as equipas clínicas e entre os clínicos e doentes com o intuito de “demonstrar que uma estratégia europeia de redução de risco em doentes com RTRS, baseada na prevenção e diagnóstico precoce, permitirá reduzir a elevada mortalidade e diminuir os custos dos sistemas de saúde.”

No comunicado, Carla Oliveira acrescenta que o estudo é “completamente inovador e abrangente” ao se basear em dados “clínicos reais e complexos” de doentes com oito síndromes raras e não em modelos económicos preditivos. A investigadora recorda ainda que a mesma síndrome tumoral hereditária pode “causar muitas doenças diferentes na mesma pessoa e doenças diferentes em pessoas diferentes da mesma família”.

No âmbito do projecto, a equipa do i3S será responsável por recolher os dados de duas síndromes a que causa o cancro gástrico difuso e a que causa tumores gastrointestinais estromais , bem como por desenvolver a plataforma onde serão inseridos e partilhados todos os dados recolhidos no projecto.

Financiado em cinco milhões de euros pelo programa Horizonte Europa, da Comissão Europeia, o projecto Preventable envolve 15 instituições parceiras de Portugal, Espanha, França, Noruega, Países Baixos, Alemanha, Reino Unido e Bélgica.

Enquanto coordenador do projecto, o instituto do Porto vai receber 1,6 milhões de euros e as restantes instituições portuguesas envolvidas Centro Hospitalar Universitário de São João, Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (Ipatimup), a Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa e a Sociedade Portuguesa de Inovação Consultadoria Empresarial e Fomento da Inovação (SPI) cerca de um milhão de euros.

A Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa irá focar-se na análise comportamental das tomadas de decisão em relação aos modelos de cuidados de saúde em síndromes RTRS. Já o Ipatimup fará uso da experiência nesta área para dar visibilidade às RTRS e estimular a prevenção.

Ao mesmo tempo, o Hospital de São João, no Porto, vai mapear as trajectórias dos doentes diagnosticados e tratados com síndromes raras de cancro, bem como as medidas de prevenção primária e secundária que lhes foram aplicadas, e os respectivos custos e resultados clínicos decorrentes. E a SPI utilizará a experiência em projectos internacionais para actuar como “agente facilitador da inovação”, sendo responsável pela implementação de estratégias de comunicação e disseminação do projecto.

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