João Gomes Cravinho com “expectativas positivas” após campanha “muito participada”

As quintas eleições gerais em Angola perpetuam a disputa entre os dois principais partidos do país, o MPLA (Governo) e a UNITA (oposição), que tentam conquistar a maioria dos 220 lugares da Assembleia Nacional. João Lourenço já votou e também apelou ao voto: “É Angola que ganha.” CNE autoriza voto com BI caducado.

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O líder da UNITA apelou ao voto dos angolanos nas eleições gerais AMPE ROGERIO/LUSA

O ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, manifestou “expectativas positivas” sobre a forma como estão a decorrer as eleições desta quarta-feira em Angola, sublinhando uma campanha eleitoral “muito participada”. Pelas 18h (a mesma hora em Portugal continental), os votos começaram a ser contados.

“A nossa expectativa é muito positiva. Dia de eleições é sempre um dia de grande participação cívica e democrática”, disse João Gomes Cravinho.

O ministro falava aos jornalistas, em Kiev, capital ucraniana, onde cumpriu uma visita oficial de um dia que coincide com o 31.º aniversário da independência da Ucrânia, mas também com os seis meses da guerra que a Rússia iniciou a 24 de Fevereiro.

O chefe da diplomacia disse não ter “informação específica” sobre a forma como está a decorrer a votação em Angola, mas destacou a campanha eleitoral muito participada que antecedeu a votação de hoje.

“Falei ontem [terça-feira] com o nosso embaixador em Luanda que me deu conta de uma campanha muito participada como se quer em democracias. Portanto, as nossas expectativas são positivas”, sublinhou Gomes Cravinho.

Candidato da UNITA apela ao voto e critica processo

O líder da UNITA apelou ao voto dos angolanos nas eleições gerais desta quarta-feira, mas criticou os procedimentos eleitorais, dando o exemplo da sua mesa de voto em que os cadernos de eleitores não foram distribuídos aos fiscais.

A votar no bairro 28 de Agosto, em Luanda, um bairro de casas antigas e chão de terra, Adalberto Costa Júnior disse esperar que “os votos sejam todos contados” nas eleições em que a União Nacional para a Independência de Angola (UNITA), o principal partido da oposição, tenta destronar o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder).

“Fiz a minha actualização” do registo eleitoral e “percebi que fui deslocado para outro local”, mas “fiquei satisfeito e votei no meio do meu povo e constatei que a votação está a ser feita sem cadernos eleitorais aos fiscais, apenas um caderno eleitoral na mesa”, afirmou aos jornalistas Adalberto Costa Júnior, instantes depois de votar na Escola Estrela da Manhã, na zona do Kilamba.

“Ainda assim, eu faço um apelo a todos os angolanos: vamos todos ao voto. Hoje é um dia histórico, é um dia em que eu espero que todos votem em ambiente de absoluta tranquilidade e no respeito das leis”, afirmou Costa Júnior.

O candidato da UNITA disse esperar que seja possível “cumprir com a festa que são as eleições” e que “os votos sejam todos, mas todos respeitados”.

João Lourenço apela ao voto: “É Angola que ganha”

O candidato do MPLA que se recandidata a um novo mandato como Presidente da República, João Lourenço, votou nesta quarta-feira às 8h, apelando aos eleitores a que exerçam o seu direito de voto.

“Acabámos de exercer o nosso direito de voto, é rápido e é simples”, disse João Lourenço, exibindo o dedo indicador com tinta indelével e convidando os cidadãos eleitores a fazerem o mesmo.

No meio de uma enorme confusão de jornalistas que envolveram João Lourenço para registar o momento, o candidato do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) salientou que todos saem a ganhar: “É a democracia que ganha, é Angola que ganha”, declarou.

A assembleia de voto n.º 105 foi pequena para as dezenas de jornalistas, eleitores e observadores internacionais que se acumularam no local e onde estiveram também o presidente da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), Manuel Pereira da Silva, o ministro de Estado e da Casa Civil, Adão de Almeida, a governadora de Luanda, Ana Paula Carvalho, entre outras individualidades.

O actual vice-presidente angolano, Bornito de Sousa, também já votou, desta feita na Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto. De acordo com o Jornal de Angola, o político disse que estas eleições eram especiais por marcarem a primeira vez que os cidadãos angolanos residentes fora do país podem votar.

Fernando da Piedade Dias dos Santos, presidente da Assembleia Nacional de Angola, também já votou e apelou aos cidadãos que exerçam o seu direito ao voto com “disciplina e alegria”, cita o Jornal de Angola.

Candidato do PRS votou com “sentimento de alegria” e pede afixação das actas

O candidato do Partido de Renovação Social (PRS) a Presidente da República de Angola, Benedito Daniel, votou nesta quarta-feira às 9h locais e manifestou “sentimento de alegria e de dever cumprido”, exortando à afixação das actas-sínteses nas assembleias.

“O sentimento é de alegria, é um dever cumprido e hoje é dia de festa, tínhamos de votar, viemos e exercemos o nosso direito de voto e esperamos que os cidadãos também possam exercer o seu direito de voto”, afirmou o líder do PRS, após exercer o seu direito de voto na assembleia 1377, no Instituto Superior Politécnico do Bita, em Luanda.

Benedito Daniel disse também esperar que a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) possa corresponder às expectativas dos eleitores.

“Pode haver esta ou aquela questão, mas esperamos que se possa afixar nas assembleias de voto as actas-sínteses que revelam os resultados efectivos da votação”, exortou o candidato dos renovadores sociais.

O líder da Convergência Ampla de Salvação de Angola — Coligação Eleitoral (CASA-CE), Manuel Fernandes, manifestou nesta quarta-feira, depois de votar, “plena confiança” no resultado eleitoral do actual terceiro partido com mais assentos no Parlamento angolano.

“Temos a plena certeza de que, depois de uma profunda reflexão, e olhando as várias propostas de programa de Governo, sem sombra de dúvida, a CASA-CE vai ter resultados positivos”, afirmou Fernandes, que votou esta manhã no Bairro Militar, em Talatona, perto da capital angolana.

Candidato da FNLA acredita na vitória porque “não vai ao combate para perder”

O líder da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) disse nesta quarta-feira que o seu partido “vai vencer” as eleições, “porque quem vai para o combate não vai para perder”, tendo enaltecido o cumprimento do seu dever cívico. Nimi a Simbi, que votou numa das urnas da assembleia 1371, em Viana, Luanda, acredita que o seu partido vai vencer o sufrágio e formar Governo.

“A minha expectativa é para ganhar, quem vai ao combate não vai para perder, mas sim para ganhar, acreditem no partido porque a FNLA vai ser Governo”, disse, em declarações aos jornalistas. O candidato a Presidente da República de Angola assegurou também que o problema “da desunião já não se coloca a nível da FNLA”, referindo-se às disputas em tribunal pela liderança do partido.

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A líder do Partido Humanista de Angola (PHA), única candidata à presidência de Angola, Florbela Malaquias, manifestou um “sentimento de realização” após votar e reiterou a promessa de humanizar Angola, “que se encontra completamente desumanizada em todos os sentidos”. “É muito importante [o meu voto] e sobretudo nesta arrancada para a humanização de Angola dar este passo é fundamental, é o sentimento de realização pessoal e colectiva, tanto minha, do partido como do cidadão”, disse Florbela Malaquias, que votou no bairro do Maculusso, distrito urbano da Ingombota, em Luanda.

Em declarações à saída da assembleia, onde exerceu o seu direito de voto, a presidente dos humanistas reafirmou que “vai humanizar Angola” em caso de vitória, nestas quintas eleições gerais angolanas. “Podem esperar [os angolanos] pela humanização do país completamente desumanizado em todos os sentidos, no sentido material, espiritual, moral e então estou convicta de que todos juntos podemos construir uma sociabilidade mais razoável, mais normal, porque vivemos num modo anormal”, salientou.

O candidato do Partido Nacional para a Justiça em Angola (P-Njango) considerou as eleições como “ocasião soberana” para a escolha dos governantes e exortou os eleitores a esperarem os resultados em casa, contrariando o movimento “Votou, sentou”. Segundo Dinho Chingunji, que votou na assembleia 916, distrito do Nova Vida, município do Kilamba Kiaxi, em Luanda, hoje é o dia em que o cidadão tem o “direito e ocasião soberana” para escolher os seus governantes. “E como cidadão vim cá exercer o meu direito de cidadania e espero que este processo seja exemplar para todos os angolanos e para o mundo”, disse Chingunji, em declarações aos jornalistas.

“Daí que exortamos todos os cidadãos a regressarem para as suas casas e a esperar pelos resultados”, salientou, contrariando o movimento “Votou, sentou” propalado por alguns partidos e membros da sociedade civil, que pedem os eleitores para permanecerem nas imediações das assembleias.

Quintino Moreira, líder da Aliança Patriótica Nacional (APN), sem assento no Parlamento angolano, manifestou-se “optimista” em relação à obtenção de uma “bancada parlamentar vasta” em resultado das eleições gerais que hoje decorrem em Angola. “Estamos optimistas. Qualquer competidor que vai para a luta eleitoral, e no caso vertente a APN, se não ganhar eleições, vai garantidamente estar na Assembleia Nacional com uma bancada parlamentar vasta, que vai permitir que não haja maiorias absolutas na ‘casa das leis’”, afirmou nesta manhã de quarta-feira Quintino Moreira, depois de depositar o seu voto numa assembleia em Talatona, perto da capital angolana.

Líder da Igreja Católica angolana enaltece “respeito e serenidade” na votação

O presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) manifestou-se “orgulhoso” pela adesão dos angolanos às urnas e enalteceu o “respeito, serenidade, calma e o espírito de paz e de participação” como decorre a votação.

“É com muito orgulho que vejo que as pessoas estão a acorrer às urnas, com muito respeito e serenidade, com muita calma e com muito espírito de paz e de participação”, afirmou o arcebispo católico José Manuel Imbamba, na cidade de Saurimo, Lunda Sul, onde exerceu o seu direito de voto.

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O responsável da CEAST disse esperar igualmente que as quintas eleições gerais angolanas, cuja votação arrancou oficialmente às 7h locais, marquem positivamente o convívio dos angolanos e o compromisso destes com a sociedade.

“Que marque também aquela responsabilidade que cada cidadão tem de colocar a sua pedra de bem, de justiça, de solidariedade e de reconciliação para que Angola seja de todos e que a cidadania saia a ganhar, a pátria saia a ganhar e que Angola fale mais alto do qualquer outro aspecto”, exortou ainda o líder da Igreja Católica angolana.

O presidente do Observatório Eleitoral Angolano, o arcebispo Gabriel Mbilingi, que votou nos arredores de Lubango, afirmou que “todos devem empenhar-se para que as eleições decorram em ambiente de harmonia e fraternidade entre os angolanos”, cita o Jornal de Angola.

CNE autoriza voto com BI caducado

A Comissão Nacional Eleitoral (CNE) angolana deliberou que cidadãos com bilhete de identidade (BI) caducado ou com cópia de solicitação de novo documento podem votar nas eleições desta quarta-feira, referindo que processo decorre em “ambiente de serenidade”.

Segundo o porta-voz da CNE, Lucas Quilundo, a medida, deliberada hoje pelo plenário do órgão, após uma reunião extraordinária, abrange todos os angolanos residentes em Angola e no exterior por estar em causa um “direito sublime” de todos cidadãos.

Segundo Lucas Quilundo, que falava no segundo briefing do dia, sete horas após o início da votação em Angola e no exterior, a deliberação surge por a Lei Orgânica sobre as Eleições Gerais fazer apenas referência à validade do BI para cidadãos dentro do país. Mas o mesmo, explicou, “já não ocorre em relação aos cidadãos eleitores no exterior, portanto o requisito do BI válido não está presente entre os documentos que se impõem para a votação dos cidadãos eleitores”.

“Sendo certo que a eleição é a mesma e o direito ao sufrágio é um direito político universal, as eleições caracterizam-se por ser um momento sublime” e do “exercício da soberania popular”, assinalou. Deste modo, prosseguiu, “não seria correcto por via de norma de legislação infraconstitucional limitar o exercício desse direito fundamental, inclusive criando oportunidades diferenciadas para os cidadãos, por isso o plenário deliberou por esta permissão”.

As quintas eleições gerais em Angola perpetuam a disputa entre os dois principais partidos do país, o MPLA (Governo) e a UNITA (oposição), que tentam conquistar a maioria dos 220 lugares da Assembleia Nacional.

João Lourenço, actual Presidente, tenta um segundo mandato e tem como principal adversário Adalberto Costa Júnior.

No total, concorrem oito formações políticas, que tentam conquistar o voto dos 14,4 milhões de eleitores. As cerca de 13 mil assembleias de voto no país e diáspora vão estar abertas entre as 7h e as 17h (mesma hora em Lisboa).

O processo eleitoral, que tem cerca de 1300 observadores nacionais e internacionais, tem sido criticado pela oposição, considerando-o pouco transparente.

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