Biden: ofertas de dinheiro e promessa de responsabilizar assassinos de jornalista não convencem palestinianos

Na Cisjordânia, ao lado de Abbas, o Presidente norte-americano defendeu a solução de dois Estados mas afirmou que “o terreno não está fértil” para negociações com Israel.

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A conferência de imprensa de Biden e Abbas e em Belém ATEF SAFADI/EPA
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O protesto dos jornalistas palestinianos EVELYN HOCKSTEIN/REUTERS
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Lapid e Biden, na longa despedida no aeroporto EPA/ABIR SULTAN / POOL

Shireen Abu Akleh, a jornalista da Al-Jazeera ​morta com uma bala na cabeça em Maio, “era uma cidadã norte-americana e uma orgulhosa palestiniana”, disse Joe Biden numa conferência de imprensa em Belém, ao lado de Mahmoud Abbas. A morte de Abu Akleh ensombrou a curta passagem do Presidente norte-americano pela Cisjordânia – faixas e bandeiras a recordá-la foram espalhadas pelas ruas e os jornalistas palestinianos levaram T-shirts com o seu rosto para a conferência de imprensa, deixando ainda uma cadeira vaga com a sua fotografia. “Os Estados Unidos vão continuar a insistir numa explicação total sobre a sua morte”, prometeu Biden.

O problema é que os actos contam mais do que as palavras e os palestinianos não acreditam que Washington responsabilize Israel: de acordo com a ONU, foi um tiro israelita que a matou; a análise à bala feita pelos EUA diz que não é possível concluir quem a disparou, considerando, ainda assim, como “provável” que o disparo tenha sido feito por militares israelitas. Familiares de Abu Akleh pediram a Biden um encontro durante esta sua viagem; a Casa Branca afirmou que o Presidente estaria disponível para os receber em Washington.

Depois de quase dois dias repletos de encontros, visitas e cerimónias em Israel, Biden guardou umas horas para os palestinianos. “Vai passar 45 minutos em Belém, comparado com 45 horas” em Israel, comentara o chefe da delegação da Al-Jazeera na Palestina, Walid al-Omary, considerando que a visita não passava de “uma formalidade”.

Sem ter nada para anunciar sobre novos esforços dos EUA para relançar negociações com Israel, o chefe de Estado norte-americano confirmou o retomar de financiamento à agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA), interrompido por Donald Trump, e repetiu que o seu “compromisso com o objectivo de uma solução de dois Estados não mudou” (já o dissera na véspera, ao lado do primeiro-ministro Yair Lapid). “Apesar de o terreno não estar neste momento fértil para recomeçar negociações, a minha Administração não vai desistir de aproximar palestinianos e israelitas”, garantiu.

É tempo de “virar a página da ocupação israelita da nossa terra”, disse Mahmoud Abbas, que falou antes de Biden na conferência de imprensa. “Israel não pode continuar a agir como um Estado acima da lei”, acrescentou, pedindo o fim da expansão de colonatos e da violência dos colonos. Em concreto, Abbas apelou a Biden para reabrir o consulado para os palestinianos em Jerusalém Oriental e o gabinete da Organização da Libertação da Palestina em Washington, ambos encerrados na presidência Trump. Pediu ainda que a OLP seja retirada lista de terroristas dos EUA. “Não somos terroristas”.

A actual Administração norte-americana chegou a defender a reabertura do consulado e do gabinete da OLP, mas desistiu por pressão israelita.

Biden aproveitou uma visita ao hospital Augusta Victoria em Jerusalém Oriental (ocupada), antes de partir para Belém e se reunir com o presidente da Autoridade Palestiniana, para anunciar 200 milhões de dólares em ajuda à UNRWA e 100 milhões em assistência financeira à Rede de Hospitais de Jerusalém Oriental, uma soma que ainda depende da aprovação do Congresso.

Assim que a conferência de imprensa com Abbas terminou, Biden dirigiu-se ao aeroporto de Telavive (com tempo ainda para uma longa despedida com Lapid e outros dirigentes israelitas) para viajar para Jidá, na Arábia Saudita, a última e mais polémica paragem da sua viagem ao Médio Oriente. Se a passagem pela Palestina ficou marcada pelo assassínio de Abu Akleh, a ida à monarquia árabe está desde o anúncio ensombrada pelo assassínio de outro jornalista, Jamal Khashoggi, o saudita residente nos EUA morto no consulado de saudita de Istambul, em 2018, numa operação que a CIA concluiu ter sido autorizada pelo príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman.

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