EUA dizem que análise à bala que matou Shireen Abu Akleh não permite concluir quem a disparou

Departamento de Estado afirma que “é provável” que a bala tivesse sido disparada pelas forças israelitas, mas não vê sinais de intencionalidade.

Foto
Shireen Abu Akleh fazia desde 1997 a cobertura de questões palestinianas na Al Jazeera RANEEN SAWAFTA/Reuters

O Departamento de Estado dos Estados Unidos afirmou esta segunda-feira que investigadores independentes não conseguiram chegar a uma conclusão definitiva sobre a origem da bala que matou a jornalista Shireen Abu Akleh, de nacionalidade norte-americana e palestiniana, em Maio, na Cisjordânia, acrescentando que a análise que conduziram às investigações dos dois lados mostra que é provável que tenha sido disparada por um militar israelita.

A jornalista da Al Jazeera foi morta por um tiro, apesar de ter colete à prova de bala com a palavra “press” e capacete, quando fazia a cobertura de uma operação militar de Israel em Jenin (Cisjordânia ocupada, onde Israel levava a cabo raides frequentes na sequência de uma série de ataques contra israelitas em que alguns dos responsáveis eram dessa localidade). Um colega, Ali Samoudi, foi ferido no ombro.

Até agora, todas as investigações que têm vindo a ser efectuadas – da ONU ao Bellingcat, passando por três grandes investigações de meios de comunicação social dos Estados Unidos – CNN, The Washington Post e The New York Times – chegaram à conclusão de que os tiros foram disparados por militares israelitas, com base nas posições das forças no terreno, som da bala na gravação ou padrão de disparos.

“Foram disparadas várias balas únicas, aparentemente com alvo definido, na direcção deles [dos jornalistas] a partir da direcção das forças de segurança israelitas”, disse Ravina Shamdasani, a porta-voz da ONU. “Uma única bala deixou Ali Samoudi ferido no ombro, outra bala única atingiu Abu Akleh na cabeça e matou-a de imediato.”

"Provável” que disparo tenha sido israelita

Fazendo um resumo das investigações tanto de Israel como da Autoridade Palestiniana, o coordenador de segurança nacional dos EUA disse que era provável que o disparo tivesse sido efectuado pelos militares israelitas no local, acrescentando que não havia razão para achar que fora intencional, segundo um comunicado divulgado esta segunda-feira.

A investigação da CNN nota que o tipo de disparos leva a fazer crer que não tenha sido um disparo acidental a matar a jornalista. O especialista em armas explosivas Christ Cobb-Smith analisou o padrão de tiros no local, incluindo uma bala numa árvore, e chegou à conclusão que os tiros não foram disparados de rajada, como os disparados pelos combatentes palestinianos, mas sim com intenção. “Ela era um alvo”, disse.

A CNN explicava já que saber apenas o tipo de bala não era suficiente para definir de que lado tinha vindo o disparo, já que tanto o exército israelita como os combatentes palestinianos usam armas semelhantes (M16 e variantes) e as mesmas munições, balas de 5,56mm. Apenas uma investigação conjunta, analisando bala e armas suspeitas, poderia permitir fazer uma correspondência entre o projéctil e a arma que o disparou. Israel vinha a fazer da análise da bala o ponto central da sua conclusão de que não era possível atribuir culpa no caso.

A Autoridade Palestiniana concluiu que a bala foi disparada intencionalmente por um militar de Israel, mas recusou-se a entregar a bala ao Estado hebraico por não confiar na idoneidade da perícia. No fim-de-semana, os palestinianos aceitaram que esta fosse analisada pelos EUA com a condição de que Israel não tivesse participação no processo.

Surgiu depois a informação de Israel iria fazer uma investigação, e mais tarde de que afinal os peritos apenas tinham estado presentes na análise efectuada na embaixada dos EUA em Israel. Do lado dos EUA, veio a informação de que o país queria divulgar uma conclusão sobre o caso antes da viagem do Presidente, Joe Biden, a Israel e à Cisjordânia, na próxima semana.

Israel ficou, no entanto, descontente com a conclusão, diz o diário Times of Israel com base em duas fontes não nomeadas. Os responsáveis não esperavam que os EUA apontassem responsabilidades, mesmo que “prováveis”, a Israel sem que a análise da bala fosse conclusiva.

Já os palestinianos expressaram o descontentamento de modo público pondo em causa a afirmação norte-americana de que a bala estaria demasiado danificada para pode fazer a correspondência com a arma. “Fomos surpreendidos por estas declarações. Os dados técnicos que estão em nossa posse indicam que o estado da cápsula é viável para uma correspondência com a arma de fogo [que a disparou], disse o procurador público palestiniano Akram al-Khatib, que supervisiona a investigação. A conclusão dos EUA é “inaceitável” face às provas recolhidas pela Autoridade Palestiniana, declarou.

Sugerir correcção
Ler 7 comentários