Sete feridos, nove aldeias evacuadas e centenas de hectares ardidos este domingo

Comandante nacional estima que tenham ardido 2500 hectares de espaços rurais deste a passada quinta-feira. Estimativa oficial aponta para um total de 13 mil hectares destruídos desde o início do ano até este domingo.

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Fogo de Ourém, que começou há três dias, foi o que mobilizou mais operacionais (mais de 600) durante o dia. LUSA/PAULO CUNHA

Pelo menos sete pessoas feridas, nove povoações evacuadas, sete habitações e dois anexos danificados e centenas de hectares ardidos. Era este o balanço possível dos incêndios rurais deste domingo, pouco antes das 22h.

Nessa altura, no Comando Nacional de Emergência e Protecção Civil (CNEPC) continuava-se a acompanhar a evolução de três fogos considerados preocupantes: um que nasceu em Ourém (Cumeada) há três dias e que ainda mobiliza esta noite mais de 600 operacionais; outro que deflagrou em Pombal (Vale da Pia) na sexta-feira à tarde e um terceiro que começou este domingo às 15h15 em Canedo, Ribeira de Pena, no distrito de Vila Real.

Este último era o que motivava a maior atenção no comando nacional, já depois das 21h30. “Temos a cabeça do incêndio activa e a progredir com velocidade e o flanco esquerdo a lavrar numa zona de difícil acesso”, justificava ao PÚBLICO Rodrigo Bertelo, oficial do CNEPC. Relativamente aos outros dois fogos, a situação estava mais controlada, com grande parte do perímetro desses incêndios já circunscrito. “Estamos numa fase de consolidação e rescaldo, mas como temos algumas reactivações ainda consideramos a ocorrência activa”, explicava o oficial do comando nacional referindo-se à ignição que nasceu em Vale da Pia. O balanço do fogo de Ourém era semelhante, com Rodrigo Bertelo a sinalizar que apesar das operações de combate estarem a ocorrer favoravelmente, o vento que se fazia sentir no local dificultava o trabalho dos 649 operacionais presentes.

Os meios aéreos já não estavam a operar àquela hora, incluindo os dois aviões Canadair que Espanha disponibilizou através do Mecanismo de Protecção Civil da União Europeia.

Pelas 19h já o comandante nacional André Fernandes, fazia o balanço do dia contabilizando cinco bombeiros feridos, um dos quais com gravidade. “Trata-se de um bombeiro que deu uma queda no incêndio de Ansião e que fez uma fractura exposta no pulso”, precisou o responsável, que acrescentou ainda que dois civis tiveram de ser assistidos em unidades de saúde. Rodrigo Bertelo contabilizava ainda 25 operacionais e quatro civis assistidos nos locais dos incêndios, sem necessidade de outros cuidados.

Sobre as evacuações, André Fernandes adiantou que todas foram feitas com carácter preventivo e sem incidentes, agradecendo à população a compreensão. Cinco foram aldeias perto do incêndio de Ourém, (Charneca, Abades, Casal do Rei, Lumiar e Ameixieira) e quatro devido ao fogo de Pombal, (Martim Vaqueiro, Ramalheira, Gramatinha e Mato).

13 mil hectares ardidos este ano

Questionado pelos jornalistas, André Fernandes adiantou que a área ardida estimada desde quinta-feira, quando começou esta fase de incêndios, e até este domingo é de “sensivelmente 2500 hectares”.”É uma área ardida que está a ser trabalhada e, de facto, o importante agora é conseguir estabilizar os incêndios, conseguir repor a normalidade e a segurança global nestas áreas afectadas e depois far-se-á um levantamento da área ardida e será comunicado”.

O número é superior ao apurado pelo EFFIS, Sistema Europeu de Informação de Fogos Florestais, que, através de vários satélites, regista fogos com áreas ardidas superiores a um hectare em toda a Europa, contabilizando em Portugal desde o início do mês 1885 hectares. O valor foi actualizado no sábado, faltando pelo menos contabilizar a área ardida correspondente a este domingo.

O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas também faz uma estimativa com base em métodos semelhantes, informando no seu site que até este domingo arderam quase 13 mil hectares desde o início do ano, resultantes de 5425 ocorrências.

Apesar do nível de alerta que se tem vivido, os números estão muito distantes dos vividos nos anos mais trágicos dos incêndios florestais, como 2017, em que o grande fogo de Pedrógão Grande/Góis consumiu mais de 45 mil hectares. Nesse ano, os fogos destruíram mais de 530 mil hectares.

André Fernandes disse ainda que, até às 18h30 deste domingo tinham-se registado 107 incêndios, menos do que os 124 contabilizados à mesma hora de sábado, mas mais do que os 92 de sexta-feira.”Vemos aqui algum decréscimo e é expectável que hoje consigamos ter menor número de ignições comparativamente com o dia de ontem [sábado]”, afirmou. Mesmo assim lamentou o aumento do número de ignições face ao ano passado, tendo repetido os alertas para que os cidadãos não façam fogo nos espaços rurais nem usem máquinas que possam dar origem a um incêndio.

O mesmo apelo tinha feito o Presidente da República que apelou aos portugueses e aos “responsáveis autárquicos” que limitem actividades que “envolvam riscos” em zonas rurais, considerando que todos os cidadãos “estão no teatro de operações em termos potenciais”. “A floresta pode ter condições para arder - e agora, infelizmente, há uma parte que tem muitas condições para arder -, mas não arderá, se não houver também (...) negligência que provoque - pelo uso do fogo, nomeadamente da proximidade de habitações, pelo uso de máquinas que aumentem o risco de fogo - a criação de circunstâncias propícias a causar incêndios”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente falava na sede da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil, em Carnaxide, Oeiras, depois de participar na reunião do Centro de Coordenação Operacional Nacional, em que também marcou presença o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, e a secretária de Estado da Protecção Civil, Patrícia Gaspar.

Durante o dia, um incêndio em Belas, Sintra, e outro em Glória do Ribatejo, Salvaterra de Magos, causaram alguma preocupação, mas acabaram por ser resolvidos sem grandes sobressaltos. Também o fogo que lavrava há três dias em Carrazeda de Ansiães, no distrito de Bragança, foi dado como dominado ao fim da tarde.

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