Incêndios. Portugal acciona mecanismo europeu e Espanha envia dois aviões. Marcelo alerta para “pico” de risco

O Presidente da República avisa para “um pico” no risco de incêndios, com um “agravamento” a partir de terça-feira.

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Incêndio no concelho de Ourém, este domingo PAULO CUNHA/LUSA

A Comissão Europeia mobilizou este domingo dois aviões espanhóis para combater os incêndios em Portugal, que accionou o Mecanismo Europeu de Protecção Civil, anunciou o executivo comunitário.

“Portugal activou o Mecanismo Europeu de Protecção Civil para solicitar assistência de emergência para os incêndios na parte central do país”, disse a Comissão Europeia num comunicado.

“Como resposta imediata, a Comissão Europeia mobilizou esta manhã dois aviões de combate a incêndios Canadair da sua frota localizada em Espanha”, referiu.

Estes dois aviões anfíbios juntam-se aos 60 que integram o Dispositivo Especial de Combate a Incêndios e começaram a operar este domingo, acrescenta, em nota à comunicação social, o Ministério da Administração Interna.

Presidente teme próximos dias

O Presidente da República avisou este domingo que, nos próximos dias, se irá atingir “um pico” no risco de incêndios, com um “agravamento” a partir de terça-feira que pode durar entre três e quatro dias.

“Temos sobretudo, nos próximos dias, um pico, se quiserem, isto é uma situação muito mais grave do que a que corresponde à situação, já complicada, no período dito de Verão”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente da República falava aos jornalistas na sede da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil, em Carnaxide, Oeiras (Lisboa), depois de participar na reunião do Centro de Coordenação Operacional Nacional (CCON), em que também marcou presença o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, a secretária de Estado da Protecção Civil, Patrícia Gaspar, e o secretário de Estado da Conservação da Natureza e Florestas, João Paulo Catarino.

Marcelo afirmou que, dentro do pico dos próximos dias, é possível dividir o risco de incêndios “em duas fases”: uma entre este domingo e segunda-feira, e outra a partir de terça-feira, que poderá durar “um número de dias variável, entre três e quatro”.

“Quando se fala em hoje [domingo] e amanhã [segunda-feira], estamos numa situação que é grave, que pode dar a situação amanhã, porventura, de um aparente desagravamento, e que pode ser ilusório, no sentido de levar as pessoas a facilitar na sua reacção, quando há dados que permitem apontar para um agravamento no dia seguinte”, advertiu.

O chefe de Estado referiu que, na fase que irá durar até segunda-feira, “ainda não há os ventos que se teme” virem a existir “com uma intensidade que não tem existido até agora” a partir de terça-feira.

Marcelo referiu ainda que “a mancha abrangida” pelos incêndios neste momento “é uma”, na segunda-feira “será mais ou menos a mesma, mas, em princípio, poderá aumentar de forma drástica” a partir de terça-feira, “cobrindo todo o território nacional, menos uma faixazinha no litoral norte”.

“Portanto, é isso que leva a dizer que possa haver a partir de dia 12, incluindo dia 12, não só um alargamento da extensão da área de risco, como dos factores de risco (...) [com] elevadas temperaturas que podem subir então – nomeadamente as máximas – e a humidade baixa que pode agravar-se então, baixando essa humidade, [a] somar-se uma intensidade dos ventos não necessariamente verificáveis hoje e amanhã”, sublinhou.

O Presidente da República deixou assim um apelo: “É preciso neste momento, perante este pico, fazer tudo para que o saldo final, no termo destes dias, desta semana, seja um saldo que seja o mais positivo possível e não o mais negativo possível. É este esforço que temos todos que fazer”.

“Não há comparação” entre preparação actual e de 2017

O Presidente da República considerou que “não há comparação” entre a preparação actual no combate a incêndios e a de 2017, afirmando que, hoje em dia, a “informação disponível é muito melhor do que jamais foi”.

“Isso não tem comparação. Quando eu recordo 2017, e recordo a realidade que existia em termos de estruturas de informação que havia — e havias muitas já — mas esta é mais sofisticada: de entidades envolvidas, de coordenação de entidades... Não há comparação”, respondeu o Presidente da República depois de questionado se considera que Portugal está mais bem preparado para lidar com os incêndios do que em 2017, quando ocorreu a tragédia de Pedrógão Grande.

Marcelo sublinhou que a “informação hoje disponível é muito melhor do que jamais foi, muito melhor em todos os domínios”.

“Sabemos mais e conhecemos melhor: isto permite prever melhor, planear melhor e prevenir melhor. (...) Hoje é possível acompanhar, mais do que nunca, minuto a minuto, em todo o território nacional e nomeadamente território continental”, referiu.

O chefe de Estado considerou que “não há dúvida” que se “aprendeu muita coisa” com os incêndios de 2017, ressalvando, no entanto, que nunca se aprenderá tudo e que é “preciso aprender muito mais nesta realidade”.

“Vemos os Estados Unidos da América grande país que, mesmo aprendendo tudo, é um drama o que acontece com os fogos florestais todos os anos, e mesmo países europeus, mais variados, a começar no país vizinho [Espanha], que está sempre a aprender, porque é cada vez mais complicada e imprevisível a situação”, indicou.

Marcelo pede limite de atividades em zonas rurais

O Presidente apelou ainda a que os portugueses e os “responsáveis autárquicos” limitem actividades que “envolvam riscos” em zonas rurais, considerando que todos os cidadãos “estão no teatro de operações em termos potenciais”.

“Por aquilo que [os portugueses] façam ou não façam, a floresta pode ter condições para arder – e agora, infelizmente, há uma parte que tem muitas condições para arder -, mas não arderá, se não houver também (…) negligência que provoque – pelo uso do fogo, nomeadamente da proximidade de habitações, pelo uso de máquinas que aumentem o risco de fogo - a criação de circunstâncias propícias a causar incêndios”, afirmou.

Marcelo frisou que os portugueses “têm que ter a noção de que todos eles estão, à sua maneira (…) no teatro de operações em termos potenciais”, apelando a que a população em geral, “mas também responsáveis autárquicos”, limitem as actividades que envolvam riscos em zonas rurais.

“Certo tipo de certames, ou organizações, merendas, piqueniques colectivos, festejos em zona rural que envolvam, ou possam envolver, consequências em termos de ignição, devem ser condicionadas neste período”, sublinhou.

O Presidente da República deu designadamente o exemplo de uma “competição motorizada numa zona florestal”, que passe por “áreas onde pode, de repente, haver uma travagem, uma derrapagem” que provoque “uma ignição”, apelando a que esse tipo de actividades seja “revista”.

“Eu sei que incomoda muito estar a mudar o percurso de uma competição de motard – incomoda muito –, mas passa de meio rural, ou florestal, para meio urbano, o risco diminui. Umas festas, que são muitas nesta altura, no meio rural, serem condicionadas, num pequeno esforço, durante um número limitado de dias, para evitar o tal pico que corremos o risco de ter”, referiu.

Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que sabe que, depois de dois anos de pandemia, “se vive na sociedade portuguesa um clima de desconfinamento” – o que considerou “natural” e “legítimo” –, mas alertou para o sentimento de que os incêndios são um fenómeno longínquo para os cidadãos que vivem em zonas urbanas.

“Esse desconfinamento convida a que as pessoas vejam este fenómeno dos incêndios como uma coisa longínqua: ‘nós estamos aqui, e os incêndios estão lá noutro país’. Só, que, por acaso, esse outro país é cada vez mais próximo do país onde as pessoas desconfinam, porque mesmo nas áreas urbanas há uma grande proximidade de alguns dos incêndios”, sublinhou, dando o exemplo dos incêndios que lavram em Ourém – que, “no fundo, são a grande Lisboa” – ou em Santarém, que “pertence à realidade que é a grande Lisboa”.

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