Governo escocês já tem data para novo referendo à independência: 19 de Outubro de 2023

“Se vivemos em democracia, a vontade da maioria dos deputados do Parlamento escocês tem de ser respeitada”, defendeu a primeira-ministra Sturgeon – com ou sem a anuência de Boris Johnson e do Governo britânico.

Foto
A primeira-ministra e o seu vice, John Swinney, antes da intervenção sobre a independência no Parlamento RUSSELL CHEYNE/Reuters

Há seis anos que Nicola Sturgeon repete que um novo referendo sobre a independência da Escócia terá de acontecer, permitindo ao eleitorado europeísta escocês, que recusou o "Brexit", reavaliar o seu papel num Reino Unido fora da União Europeia. “Há um mandato mais forte do Parlamento escocês para um referendo de independência do que alguma vez houve no Parlamento do Reino Unido para um referendo do ‘Brexit’”, disse esta quarta-feira a primeira-ministra escocesa, depois de ter avançado com uma data para a consulta – o ano, 2023, já tinha sido anunciado como limite; junta-se agora o dia, 19, e o mês, Outubro.

“A vontade da maioria dos deputados do Parlamento escocês tem de ser respeitada”, afirmou Sturgeon. “A questão da independência não pode ser suprimida. Tem de ser resolvida democraticamente. E isso tem de ser feito através de um processo que esteja acima de qualquer suspeita e que imponha confiança”, dissera na véspera, durante uma intervenção perante os deputados, ao mesmo tempo que o seu Governo publicava a legislação com os planos finais para realizar o referendo.

Nas legislativas de Maio de 2021, o Partido Nacional Escocês (SNP), de Sturgeon, ficou perto da maioria absoluta (conseguiu 64 dos 65 lugares necessários), mas aliou-se aos sete deputados do Partido dos Verdes, desenhando assim uma confortável maioria pró-independência.

Com Londres a continuar a opor-se à realização de uma segunda consulta – na primeira, em 2014, a maioria dos escoceses disseram “não” à independência, com 55% contra 45 –, Sturgeon insiste que o direito dos escoceses a repetirem a votação não dependerá do Governo britânico. “O que eu não estou disposta a fazer, e nunca farei, é deixar que a democracia escocesa fique prisioneira de Boris Johnson ou de qualquer primeiro-ministro”, sublinhou a dirigente nacionalista.

Sturgeon explicou que vai agora escrever a Boris Johnson, pedindo permissão para organizar a consulta. Independentemente da resposta, a dirigente escocesa esclareceu que já pôr em marcha planos para conseguir autorização legal para avançar mesmo contra a vontade do primeiro-ministro e do Governo do Partido Conservador (que se opõe ferozmente à consulta e integra a oposição na Escócia).

Face às dúvidas sobre a legalidade de um referendo sem autorização de Londres, Sturgeon diz que o tema será apresentado ao Supremo Tribunal do Reino Unido, não sendo ainda possível antecipar quando é que o caso será ouvido. Sem autoridade legal para avançar, o SNP irá apresentar-se às próximas legislativas britânicas (previstas para 2025) perguntando aos eleitores se a Escócia deve ser independente, afirmou ainda.

Sem querer pronunciar-se directamente sobre os anúncios feitos em Edimburgo, o primeiro-ministro britânico disse que a prioridade actual do Reino Unido passa por gerir as pressões económicas que o país enfrenta. O seu porta-voz acrescentou depois que o Governo não considera ser o momento certo para debater a realização de um novo referendo, a posição mantida por Londres desde a primeira consulta. As últimas sondagens sugerem que os escoceses estão muito divididos entre o “sim” e o “não”, não permitindo antecipar um resultado.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários