João Gomes Cravinho: “A expectativa é a de que a Declaração de Lisboa constitua um forte ímpeto político”

Promover o estudo das ligações clima-oceano é uma prioridade da política externa portuguesa, que se concretiza na realização da Conferência dos Oceanos da ONU em Lisboa, diz o ministro dos Negócios Estrangeiros.

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Esta conferência "alguns dos maiores expoentes nos vários domínios das ciências e tecnologias dos oceanos", disse o ministro Nuno Ferreira Santos

Como é que um pequeno país como Portugal acabou a organizar a Conferência dos Oceanos da ONU e que benefícios pode o país tirar de ser o anfitrião
Os países não se medem aos palmos e no caso dos oceanos a nossa dimensão territorial não é proporcional à enorme área marítima que temos sob a nossa jurisdição.

Além disso, o bom encargo que é sermos anfitriões desta que é a maior cimeira dos oceanos alguma vez realizada, tem muito a ver com a liderança que assumimos ao longo dos anos, por exemplo sendo co-facilitadores da declaração política da I Conferência dos Oceanos [em 2017], bem como do perfil elevado que temos em diferentes processos multilaterais ligados ao mar. Isto sem esquecer a importância estratégica que atribuímos ao mar, não só como desígnio nacional, mas também enquanto elemento fundamental do desenvolvimento sustentável.

O facto de a conferência se realizar em Portugal permitiu dar destaque à ciência portuguesa? Pode exemplificar?
Esta conferência vai permitir trazer a Portugal um grande número de cientistas e alguns dos maiores expoentes nos vários domínios das ciências e tecnologias dos oceanos, assim como representantes dos maiores centros de investigação oceânica de todo o mundo.

Só para dar um exemplo: a conferência vai contar com oito diálogos interactivos, nos quais a ciência se destaca pelo papel que desempenha no apoio aos processos de tomada de decisão para a sustentabilidade dos oceanos. Estes momentos têm também em vista o estabelecimento de parcerias entre o sector privado, a comunidade científica e as entidades governamentais à escala nacional, regional e internacional.

Quais devem ser os pontos fortes da declaração final da conferência de Lisboa?
A expectativa é a de que a Declaração de Lisboa constitua um forte ímpeto político para que os Estados, bem como outras entidades relevantes, como as empresas, instituições financeiras e fundações, apresentem compromissos e soluções concretas, baseados na ciência e inovação e também dotados dos recursos financeiros necessários.

Portugal tem dois objectivos concretos neste importante evento. Promover o nexo clima-oceano, porque é, sem dúvida, uma prioridade da política externa nacional. Estamos muito empenhados em atingir a neutralidade carbónica em 2050 e o mar tem um papel determinante na prossecução desse objectivo.

Depois, o futuro – que já é hoje – envereda por uma nova economia azul cada vez mais sustentável, algo que só é possível com o envolvimento do sector privado e das instituições financeiras. Por isso, há que aproveitar a presença de actores relevantes.

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