Governo israelita anuncia que propõe dissolução do Parlamento, abrindo caminho a eleições

Ministro dos Negócios Estrangeiros, Yair Lapid, será o chefe de Governo interino até às legislativas, as quintas em três anos, que deverão realizar-se em Outubro.

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Naftali Bennett e Yair Lapid: a coligação improvável chegou ao fim, lançando Israel numa situação política imprevisível ABIR SULTAN/EPA

O primeiro-ministro israelita, Naftali Bennett, e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Yair Lapid, anunciaram que vão apresentar, na próxima semana, uma proposta de dissolução do Parlamento, para abrir caminho a novas eleições, que se vão realizar provavelmente no final de Outubro.

Os dois disseram que não era possível estabilizar a coligação formada no início de Junho do ano passado e que pôs fim aos 12 anos de Benjamin Netanyahu na chefia do Governo e a sucessivas eleições que não resultaram numa maioria para nenhum campo, levando a repetição atrás de repetição. Esta eleição antecipada será a quinta em três anos.

No entanto, analistas e jornalistas como Noga Tarnopolsky avisam contra leituras apressadas sobre “um regresso de Netanyahu”, o ex-primeiro-ministro acusado por corrupção, apesar de este ser um dos políticos a celebrar – reagiu com um vídeo dizendo que esta “é uma noite de uma óptima notícia para milhões de israelitas”, em resultado “de um ano de luta determinada da oposição no Knesset e de muito sofrimento para muitos israelitas” causado “pelo pior governo” do país.

As próximas eleições, diz o jornalista do Haaretz Anshel Pfeffer, serão marcadas pelo tema Netanyahu, de novo, e ainda pela questão da participação de um partido árabe israelita no Governo – a coligação actualmente no poder foi a primeira a incluir um partido árabe israelita, e Netanyahu, que primeiro ainda tentou ganhar o apoio do partido de Mansour Abbas para governar, deverá fazer campanha contra a inclusão deste partido e contra os árabes israelitas, ou palestinianos com cidadania israelita, em geral, antevê o jornalista.

O Governo juntou partidos totalmente diferentes, da esquerda pacifista à direita nacionalista, do partido árabe a defensores dos colonatos judaicos em território ocupado. Desde que, em Abril, perdeu a maioria de apenas um lugar no Parlamento com a saída de uma deputada da coligação, havia a sensação de que o governo estava a prazo.

Por outro lado, há quem aponte a possibilidade de Netanyahu conseguir reunir uma coligação com os deputados actuais e evitar ir a eleições, como especula Yakov Katz, director do Jerusalem Post. Gideon Saar, dissidente do Likud de Netanyahu, e Ayelet Shaked, antiga ministra da Justiça e cuja parceria política com Bennett parece ter acabado nesta segunda-feira (a imprensa diz que não foi informada da decisão do primeiro-ministro), poderiam ser a chave para essa possibilidade.

Enquanto isso, o país espera a visita do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que chega a 14 de Julho e que deverá, segundo os media israelitas, ser recebido por Lapid. Não era claro o futuro político de Bennett, com especulação de que poderia ficar encarregado da questão iraniana ou ainda que poderia retirar-se da política.

As novas eleições serão disputadas por campos que mudaram muito – se as anteriores foram marcadas pela queda abrupta de Benny Gantz e do seu “partido dos generais” (o mesmo Gantz que quase derrotou Netanyahu, mas acabou por passar a sua “linha vermelha” e concordar entrar num governo com o líder do Likud), as próximas poderão ser marcadas pela grande divisão (há quem diga mesmo “implosão") do partido de Bennett, o Yamina.

E é imprevisível o que poderá significar eleitoralmente para Lapid o tempo que passará na chefia, ainda que interina, do que Governo.

Lapid ganhou muito com a construção da coligação, sendo visto como a sua principal força, e o facto de ter dado a Bennett a possibilidade de ser o primeiro-ministro, deixando para si a possibilidade, muito diminuta, de ocupar o cargo na segunda metade do mandato da coligação. Isso fez com que seja, agora, a única figura com estatuto para ser considerado uma alternativa a Netanyahu, sublinhou no Twitter Anshel Pfeffer.

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