Encontrados corpos de jornalista e activista assassinados na Amazónia

Foram encontrados os corpos de Dom Phillips e Bruno Pereira que, segundo as autoridades brasileiras, foram mortos por pescadores ilegais na Amazónia. Um dos detidos confessou o crime e encaminhou a polícia ao local do duplo assassinato.

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Protesto pelo desaparecimento do activista indígena Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips no Brasil EPA/Raphael Alves

Os corpos do jornalista britânico Dom Philips e do activista e indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira foram encontrados na noite de quarta-feira numa zona remota da Amazónia, no local onde um dos principais suspeitos do caso conduziu os agentes federais depois de ter confessado os crimes. As autoridades acreditam que se são os restos mortais de Phillips e Pereira, apesar de os corpos ainda terem de ser identificados, algo que acontecerá em Brasília durante esta quinta-feira.

Numa conferência de imprensa do Comité de Gestão de Crise, realizada esta quinta-feira no estado de Manaus, o superintendente regional da Polícia Federal, Eduardo Fontes, indicou que Amarildo da Costa de Oliveira, conhecido como Pelado, assumiu voluntariamente no final da noite de quarta-feira a sua participação no crime. Para além disso, Pelado comprometeu-se a mostrar onde cometeu o duplo assassinato.

"No final da noite da passada quarta-feira, Amarildo da Costa de Oliveira resolveu confessar a prática criminosa. Explicou com detalhes e apontou o local onde havia enterrado os corpos. Saímos de manhã cedo para o local e procedemos à reconstituição do crime. Depois fomos para a zona onde o detido disse que havia enterrado os corpos [no Vale do Javari] e onde havia afundado a sua embarcação”, revelou Alexandre Fontes.

O Vale do Javari foi referido como sendo uma zona de acesso “bastante complicado” o que tem atrasado o processo, admitiu Eduardo Fontes. “O objectivo era encontrá-los com vida”, concluiu o delegado da Polícia Civil Guilherme Torres, enviando condolências às famílias do jornalista e do activista.

Durante a conferência de imprensa, as autoridades revelaram ainda que existe um terceiro suspeito do crime.

A investigação da Polícia Federal destacou ainda que um suposto financiamento da actividade ilegal de pesca e caça e o narcotráfico na região são o pano de fundo do crime. Pelado indicou que a embarcação onde viajavam as duas vítimas foi afundada propositadamente com sacos de terra - para além do motor que foi arrancado.

O jornal britânico The Guardian, para o qual Dom Phillips escrevia, disse que o “anúncio [da Polícia Federal] pôs um triste fim a uma busca de dez dias que horrorizou a nação e destacou os crescentes perigos enfrentados por aqueles que ousam defender o meio ambiente e as comunidades indígenas do Brasil, que enfrentam um ataque histórico sob o Presidente de extrema-direita do país, Jair Bolsonaro.”

Em 2019, Phillips tornou-se alvo dos apoiantes do Presidente Jair Bolsonaro após questioná-lo num evento a respeito da escalada da desflorestação na Amazónia. “Primeiro, vocês têm que entender que a Amazónia é do Brasil, não é de vocês. A primeira resposta é essa daí”, respondeu Bolsonaro ao jornalista, antes de acrescentar: “ele poderia viver em qualquer lugar do mundo, mas escolheu viver aqui”, disse.

O jornal promove, agora, uma campanha de arrecadação de fundos para os familiares dos desaparecidos.

O jornal norte-americano The Washington Post também destacou declarações de Bolsonaro, em que o Presidente afirma que as reportagens de Phillips desagradavam muitas pessoas quer na Amazónia quer por todo o Brasil, sugerindo que o jornalista deveria ter tomado mais precauções na sua viagem.

“Esse caso tem sido acompanhado de perto no Brasil, onde uma das das questões mais polémicas é sobre se a floresta amazónica deve ser desenvolvida ou preservada. O Presidente Jair Bolsonaro, um forte defensor do desenvolvimento, que já apoiou a desflorestação ilegal, culpou Phillips pelo seu próprio desaparecimento”, escreveu.

Os alegados autores do assassínio são os irmãos pescadores Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como “Pelado”, e Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como “Dos Santos”. O primeiro foi detido na semana passada e foi considerado o principal suspeito e o segundo foi detido na terça-feira.

Dom Phillips, jornalista e colaborador do jornal The Guardian, e Bruno Araújo Pereira, activista dos direitos indígenas, estavam desaparecidos desde 5 de Junho, no Vale do Javari, região remota e de selva na Amazónia brasileira perto da fronteira com Peru e Colômbia, onde realizavam uma investigação sobre ameaças de invasores e criminosos contra os indígenas.

O desaparecimento do jornalista e do activista indígena gerou uma enorme onda de preocupação entre os movimentos ambientalistas e mesmo em algumas organizações internacionais, tais como o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que pediu ao Governo brasileiro para reforçar as buscas.

O Vale do Javari, segunda maior reserva indígena do Brasil, é conhecido por ser palco de conflitos relacionados com o narcotráfico, roubo de madeira e mineração ilegal.

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