Universidade Nova de Lisboa prepara licenciatura interdisciplinar sobre o oceano em 2023

Curso, que ainda tem de ser aprovado pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior para avançar, envolverá também a Universidade de Algarve e está a ser arquitectado por Assunção Cristas.

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O nome da futura licenciatura é em inglês: Ocean Rui Gaudêncio

Em 2023, a Universidade Nova de Lisboa (UNL) espera ter, em parceria com a Universidade do Algarve, uma nova licenciatura dedicada às questões do oceano — contanto que a proposta seja aprovada pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES), que deverá terminar o seu o processo de avaliação de novos cursos até 15 de Junho.

A licenciatura Ocean (é assim que a designam e as aulas serão dadas em inglês) pretende transmitir ao corpo estudantil uma perspectiva do mar que cruze diferentes áreas de conhecimento — as cadeiras irão da sustentabilidade e das alterações climáticas a assuntos tão diversos (porém relacionados) como direito marítimo, economia azul, energia hídrica, oceanografia, ordenamento do território náutico e relações internacionais. Cinco dos nove pólos da Nova estarão envolvidos: a Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT), a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH), a Faculdade de Economia (SBE, na sigla em inglês), a Faculdade de Direito (NSL, na sigla em inglês) e o anteriormente designado Instituto Superior de Estatística e Gestão de Informação (IMS, na sigla em inglês).

A responsável pelo projecto é Assunção Cristas, que foi ministra da Agricultura e do Mar entre 2011 e 2015. A ex-líder do CDS, que lecciona na NSL, conta ao PÚBLICO que idealizou este curso, pois estava “convicta” de que faltava no panorama académico “uma licenciatura que oferecesse uma formação de base muito transversal no que diz respeito aos temas do mar”.

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Assunção Cristas está convicta de que, cruzando diferentes áreas de conhecimento, este curso será "inovador" Nelson Garrido

“Portugal tem, per capita e a nível europeu, o segundo maior número de investigadores na área do mar. E temos muito conhecimento especializado, sobretudo ao nível de mestrados. Mas não temos ainda uma formação de base que muna os estudantes de uma visão global sobre os desafios (e as oportunidades) do oceano”, afirma Assunção Cristas, para quem esta será uma licenciatura “inovadora”.​

“Enquanto preparávamos o dossier que apresentámos à A3ES, fizemos um levantamento dos cursos que têm a ver com o mar. E nenhum tem esta abrangência”, defende. “Por exemplo, há faculdades que dão mais primazia às questões do ramo da biologia, mas depois acabam por ter menos conhecimento especializado em direito. A minha profunda convicção é a de que estamos a fazer algo de inovador ao juntar biologia, direito, economia, gestão e outros saberes numa só licenciatura”, diz.

A vontade da UNL de cruzar áreas de conhecimento é tanta que algumas das cadeiras serão dadas por mais do que uma faculdade, diz Assunção Cristas. A disciplina que versará sobre o mar e “os desafios interdisciplinares” a ele associados, por exemplo, irá envolver os cinco pólos da UNL que se encontrarão ligados ao curso.

Outras cadeiras poderão ser leccionadas, em parte, por instituições não académicas. A cadeira de Oceanografia, por exemplo, será dada tanto pela Universidade do Algarve como pelo Instituto Hidrográfico (IH), organismo da Marinha Portuguesa. “Temos vindo a dialogar com todas as instituições que representam o sector. O IH é uma das entidades interessadas naquilo que estamos a tentar desenvolver”, salienta Assunção Cristas. “Começámos este diálogo pelas instituições portuguesas, mas vamos alargar o leque. Estamos, neste momento, à procura de mais parcerias”, diz ainda.

“Abrir oportunidades de trabalho e estabelecer contactos”

A ser aprovado, o curso será de três anos — e em cada semestre serão leccionadas “disciplinas de todas as áreas do saber”. O semestre inaugural deverá ser composto por cadeiras em que serão transmitidos aos alunos princípios elementares de direito marítimo, economia azul e oceanografia, por exemplo. Surgirão, posteriormente, disciplinas sobre “o mar e as alterações climáticas” — “O oceano é um grande actor neste contexto da crise ambiental. Por um lado, está muito exposto aos efeitos do aquecimento global. Por outro, tem soluções para combatermos a emergência climática”, diz Assunção Cristas — e “o oceano e a cultura”, entre outras.

Ao longo do último semestre, decorrerá um seminário em que serão debatidas questões relativas ao oceano. “Todas as semanas, especialistas internacionais e pessoas ligadas a instituições públicas portuguesas darão sessões aos nossos estudantes”, diz Assunção Cristas. “Sendo esta uma licenciatura nova e sem histórico, é importante que o sector possa conhecer os nossos estudantes e vice-versa”, afirma ainda, esclarecendo que a ideia passa muito por “abrir oportunidades de trabalho e estabelecer contactos”.​

O corpo docente ainda não está totalmente definido, mas Assunção Cristas e as restantes “pessoas nucleares” do curso — Antonieta Cunha e Sá (da SBE), Júlia Seixas (da FCT), Regina Salvador (da FCSH) e Roberto Henriques (da IMS) — serão alguns dos professores.

Falando sobre aquilo que este curso poderá vir a significar para a UNL em termos de oferta formativa, João Amaro de Matos, vice-reitor da universidade, diz ao PÚBLICO que a instituição “começou a casa pelo telhado” e agora está “a construir as paredes”. “Ao longo dos anos, temos desenvolvido, através dos nossos mestrados, vários tipos de especialização em torno do mar. Agora, vamos ter um curso que dará aos estudantes a possibilidade de, no início do seu percurso académico, desenvolverem competências em cinco áreas de conhecimento diferentes, mas interligadas”, diz o professor catedrático.​

“​A licenciatura não criará especialistas em nenhuma área específica, mas formará pessoas versáteis e preparadas para, mais tarde, se especializarem no seu campo de maior interesse”, afirma ainda o vice-reitor, dizendo acreditar que, dada a abrangência do curso, as taxas de empregabilidade serão “​bastante positivas”.

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