Deco: quatro em dez portugueses sem margem financeira, se a crise piorar

Inquérito promovido pela Deco Proteste mostra que 73% dos participantes admitiram que os seus hábitos de consumo já foram afectados, pelo menos em parte, pelos efeitos da guerra na Ucrânia.

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Nelson Garrido

Um inquérito lançado pela Deco Proteste, com vista a analisar o impacto da guerra na Ucrânia na vida dos consumidores portugueses, revelou que “quatro em cada dez inquiridos dizem não ter margem financeira se a crise se agravar”. Ainda assim, “73% dos inquiridos concordam com as sanções à Rússia e são da opinião de que a União Europeia deve mantê-las, mesmo que afectem também as economias dos Estados-membros”.

O inquérito, realizados simultaneamente em Portugal, na Bélgica, em Espanha e em Itália, envolvendo 4191 cidadãos, com idades entre os 25 e os 74 anos anos, “mostra que a conjuntura está a afectar uma importante proporção de europeus”.

De acordo com um comunicado da Deco Proteste, divulgado esta terça-feira, “quase um em quatro dos europeus que participaram no estudo descrevem a situação financeira do seu agregado familiar como difícil e 39% afirmam que estão pior do que há um ano”. E, ainda no conjunto dos quatro países, “são 35% os que dizem não ter margem de manobra financeira, se a situação se agravar, valor ligeiramente abaixo da realidade portuguesa (40%).

“O receio de gastar dinheiro nestes tempos incertos foi uma das consequências que a guerra trouxe para 81% dos portugueses. No entanto, a proporção é muito mais baixa nos restantes países incluídos na análise, oscilando entre os 58% da Bélgica e os 63% de Espanha”, segundo a mesma fonte.

Realizado na última semana de Abril, através de um inquérito online, o estudo em Portugal envolveu 1021 participantes. Neste universo, “73% referem que a invasão russa, em marcha desde Fevereiro, tem afectado, pelo menos, parcialmente, a sua qualidade de vida”.

“Por exemplo, a alimentação tem sido uma das esferas mais afectadas pela inflação, com mais de metade dos inquiridos a escolherem marcas mais baratas no supermercado, como as das insígnias (53%), e com 40% a cortarem nos alimentos que não entendem como essenciais, como é o caso do álcool, dos doces e dos salgados”, lê-se no comunicado.

Relativamente a despesas da casa, “a água e a energia também são usadas com mais moderação e 46% dos participantes afirmam desligar mais vezes os electrodomésticos ou evitar usá-los”. E, “nas deslocações, metade dos inquiridos revela usar menos o carro e 35% alega fazer uma condução mais económica”.

A sofrer “uma redução prudencial estão as actividades sociais, culturais e de lazer” e “a compra de produtos de lazer e de vestuário está em compasso de espera ou foi mesmo cancelada”, segundo a fonte.

Quanto à educação, “a Deco Proteste constata que um em dez participantes tem passado por mais dificuldades quanto ao pagamento das despesas de educação dos filhos”.

“Para já, os resultados do inquérito mostram que a saúde é a área em que os portugueses menos ajustes se dispõem a fazer”. Os cuidados dentários, a compra de óculos ou aparelhos auditivos, as consultas e as sessões de psicoterapia têm sido adiados ou cancelados num moderado número de situações”, lê-se no comunicado, que refere ainda que “64% dos inquiridos dizem-se ainda afectados no plano da saúde mental”.

“Ao futuro económico incerto, soma-se o receio de um cenário nuclear, presente na mente de 75% dos portugueses, contrastando com a visão dos participantes de outros países europeus – apenas 56% a 67% de belgas, italianos e espanhóis revelam idêntico estado de espírito”, refere o comunicado.

A grande maioria dos inquiridos nacionais estima ainda “a continuação do aumento dos preços da energia (91%) e dos combustíveis (89%)”, e “87% consideram que muitos produtos sem relação com o conflito estão agora mais caros”.

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