Putin pôs em marcha uma limpeza nos serviços secretos, que culpa por erros na Ucrânia

O Presidente russo trocou o FSB, antes responsável por informar o Kremlin sobre o que acontecia na Ucrânia, pelo GRU. À frente da agência está Vladimir Alekseyev, acusado de envenenar Sergei Skripal e Alexei Navalny.

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Nas celebrações do Dia da Vitória, em Moscovo, Putin voltou a acusar a NATO de provocar a guerra EPA/MAXIM SHIPENKOV

À procura de culpados para os erros estratégicos na invasão da Ucrânia, Vladimir Putin escolheu apontar o dedo aos serviços secretos do Kremlin. Na sequência das falhas do FSB (Serviço Federal de Segurança), o Presidente russo dispensou o sucessor do antigo KGB e pôs a agência militar de espionagem, GRU (Departamento Central de Informações), ao comando da informação no país ocupado a 24 de Fevereiro.

De acordo com um artigo publicado na segunda-feira pelos jornalistas de investigação independentes, Irina Borogan e Andrei Soldatov, Vladimir Putin transferiu responsabilidades para Vladimir Alekseyev, um nome já conhecido da imprensa internacional. O GRU, órgão do ministério da Defesa de Moscovo, assume agora o dever de fornecer ao Kremlin informações sobre as “operações militares” e ajudar na conquista de território ucraniano.

Alekseyev, no topo do GRU, é acusado de engendrar o envenenamento do antigo espião russo Sergei Skripal e da filha, em 2018. A mesma substância — Novichok — foi usada dois anos mais tarde para envenenar Alexei Navalny, deixando o crítico de Putin em coma durante duas semanas.

Não se sabe quando se deu esta mudança, mas as tensões entre Putin e o FSB são evidentes desde Março deste ano. Os jornalistas Borogan e Soldatov já tinham denunciado o afastamento do general Serguei Beseda, antigo líder do 5.º Serviço do FSB, criado para preencher o vazio deixado na área da espionagem no estrangeiro após a queda da URSS.

Detido e preso em Lefortovo, prisão de Moscovo, Beseda foi acusado de desviar fundos destinados às tropas russas e de fornecer informações incorrectas ao Kremlin nas vésperas da guerra — é possível que venha a ser julgado por traição à pátria. Durante semanas, a informação transmitida a Putin terá sido pouco precisa, já que apenas chegava ao Presidente aquilo que queria ouvir, mais do que a realidade e as dificuldades no terreno.

Insatisfeito com o FSB, o Presidente russo terá, ainda, decidido o saneamento de mais de 150 agentes, como noticiou em Abril o jornalista russo da Bellingcat, Christo Grozev.

Mas a história da expulsão de Sergei Beseda continua na investigação de Borogan e Soldatov para o Centro de Análise Política Europeia. Já depois da suposta detenção, Beseda foi visto a entrar, a 29 de Abril, na sede do FSB, em Moscovo. Como? Putin terá percebido que era um erro prender o seu grande espião na Ucrânia, pela demonstração pública do fracasso dos seus serviços secretos. “Putin é intransponível [quando afirma] que a guerra tem decorrido ‘de acordo com o planeado’”, explicam os jornalistas. Para se manter fiel a essa narrativa fez de conta que “nunca aconteceu nada a Beseda”.

O Departamento Central de Informações tem mantido a discrição quanto à guerra na Ucrânia, onde já vários dos seus agentes foram mortos. As atenções apenas se viraram para o GRU quando a Microsoft o acusou de ser responsável por ataques informáticos ao Governo ucraniano.

Biden furioso com serviços secretos dos EUA

Ainda nesta segunda-feira, um oficial da Administração Biden disse ao The New York Times que o Presidente norte-americano ficou furioso com a fuga de informação sobre o envolvimento dos serviços secretos dos EUA nos ataques ucranianos a generais russos e ao navio Moskva. A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, foi mais moderada nas palavras e apenas disse que Biden ficou “descontente”.

Preocupado com a possibilidade de as notícias serem interpretadas por Putin como uma provocação, Joe Biden terá repreendido vários responsáveis pela Defesa norte-americana, incluindo Avril Haines, à frente dos serviços secretos do país, e William J. Burns, director da CIA. John Kirby, porta-voz do Pentágono, negou as informações avançadas pelo New York Times e garantiu à CNN que os EUA não tinham conhecimento sobre os planos para a destruição do Moskva.

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