Dizer não aos maus tratos infantis

Em algumas alturas é preciso ter coragem para pôr as crianças em primeiro lugar. É preciso lutar contra pais castigadores, cruéis. Porque os há. É preciso formar profissionais da educação que sintam a sua profissão como uma missão.

Foto
NUNO FERREIRA SANTOS/Arquivo

Abril é o Mês Internacional da Prevenção dos Maus Tratos na Infância. A norte americana Bonnie Finney, em 1989, amarrou uma fita azul à antena do carro em memória dos netos que tinha sofrido de maus tratos pela mãe e pelo namorado que os levaram à morte. O impacto foi brutal e viral e rapidamente a notícia se espalhou pelo mundo inteiro.

O que podemos fazer para proteger as crianças dos maus tratos, em geral? A ideia de protecção pode ser vista de muitas maneiras e uma delas é precisamente a, em educação, pensar sempre em primeiro lugar quando se toma uma decisão, o que é melhor para as crianças? Se esta for a prioridade educativa, em casa, na escola e no mundo do trabalho, estaremos certamente a investir positivamente na vida das crianças e favorecer uma infância feliz, estruturada e facilitadora de adultos capazes.

Em algumas alturas é preciso ter coragem para pôr as crianças em primeiro lugar. É preciso lutar contra pais castigadores, cruéis. Porque os há. É preciso formar profissionais da educação que sintam a sua profissão como uma missão. É preciso ter chefes e líderes no trabalho que percebam a importância dos filhos e do seu bem-estar na vida dos colaboradores e funcionários. A prevenção contra os maus tratos infantis começa desde pequeninos em que se acarinham as vidas de bebés e crianças, em que se nutre o coração por vidas que não vamos acompanhar, mas sabemos que são vida e que só por isso devem ser preservadas.

Em algumas alturas, enquanto directora de escola, tive de tomar atitudes contra a vontade dos pais. Mais, tive de tomar atitudes que iam contra os pais. Histórias que nunca esquecerei, com instâncias diferentes como PSP, CPCJ, PJ, IAC, entre outras que colaboram com as escolas em situações muito difíceis. A pergunta que sempre me norteou foi esta: o que é melhor para a criança? E sempre foi muito proveitoso alargar a discussão com diversos parceiros e pensar sobre diferentes pontos de vista, antes de tomar uma decisão. Há pais e mães que não têm qualquer sentido da paternidade e maternidade. Há pessoas que têm filhos para satisfazer uma necessidade que as pode levar até onde querem chegar. Há histórias de muitas cores e matizes.

Mas também há histórias que contrastam com toda esta escuridão: pais que lutam de forma abnegada pelo bem-estar dos seus filhos, mães que são verdadeiros exemplos de efectiva liderança, que sabem elevar os filhos e torná-los autênticas estrelas, pais que exemplarmente se interessam e encaram as situações com realidade e vontade de superação, pais e irmãos que se movem face a doenças e outras infelicidades.

Mais do que histórias tristes, devemos partilhar aquelas que nos fazem sorrir e nos emocionam, pois os bons exemplos são geradores de outros bons exemplos. Há jovens que são bem-sucedidos, na sua medida, pois tiveram pais que se empenharam para que isso acontecesse. Não deixaram a educação dos filhos ao acaso e tiveram-na como uma prioridade.

Há professores e educadores que são autênticos substitutos dos pais, enquanto modelo e garante de orientação.

Como se vive a promoção da infância nos círculos em que nos movimentamos? Afinal o que nos move perante as crianças e a sua infância? O que sentimos quando pensamos nelas? Que lugar ocupam na nossa lista de prioridades?

As crianças são o bem mais precioso que uma sociedade e cultura pode ter, são o garante da continuidade e sustentabilidade de uma civilização, e o modo como as acarinharmos e preservarmos a sua infância será determinante para a evolução da sociedade.

Laço azul é dizer “não” aos maus tratos infantis.

Sugerir correcção
Comentar