Ucrânia atacar alvos na Rússia é “completamente legítimo”, diz secretário de Estado britânico

O secretário de Estado das Forças Armadas britânico sublinhou que “não é necessariamente um problema” se as armas enviadas pelo Reino Unido para a Ucrânia forem usadas para atingir locais em solo russo.

Foto
Incêndio junto ao depósito de combustível de Belgorod, Rússia RUSSIAN EMERGENCIES MINISTRY/Reuters

O secretário de Estado das Forças Armadas do Reino Unido, James Heappey, mostrou apoiar os ataques ucranianos em território russo, tendo afirmado que “não é necessariamente um problema” se a Ucrânia utilizar as armas enviadas pelo Reino Unido para tal.

James Heappey acrescentou que o Reino Unido acredita que é “completamente legítimo” que Kiev identifique alvos na Rússia com o objectivo de travar os ataques em território ucraniano.

“O facto é que a Ucrânia era um país soberano que vivia pacificamente dentro das suas fronteiras e foi então que outro país decidiu violar essas fronteiras e trazer 130.000 soldados para o país”, disse James Heappey, em entrevista à estação britânica Times Radio.

“Isso iniciou uma guerra entre a Ucrânia e a Rússia e, na guerra, a Ucrânia precisa de atingir profundamente os seus oponentes para atacar as suas linhas de logística, os seus abastecimentos de combustível, os seus depósitos de munições, e isso faz parte”, acrescentou.

James Heappey destacou ainda, citado pelo diário britânico The Guardian, que é “completamente legítimo” que a Ucrânia aponte a alvos na Rússia para “interromper a logística que, se não fosse interrompida, contribuiria directamente para a morte e carnificina em solo ucraniano”.

O secretário de Estado das Forças Armadas britânico sublinhou que “não é necessariamente um problema” se as armas enviadas pelo Reino Unido para a Ucrânia forem usadas para atingir locais em solo russo. “Há muitos países em todo o mundo que operam equipamentos importados de outros países. Quando esses equipamentos são usados, tendemos a não culpar [o país] que os fabricou, mas sim o país que os disparou”, disse.

Heappey afirmou também que, “com todo o apoio que os ucranianos estão a receber de todo o mundo”, há “todas as hipóteses” de as forças ucranianas serem capazes de repelir as tropas russas, num tom mais optimista do que o de Boris Johnson — que reconheceu, na sexta-feira, que existe uma “possibilidade realista” de que as forças russas possam sair vitoriosas do conflito na Ucrânia.

Rússia lança avisos

O Ministério da Defesa russo acusou na terça-feira o Reino Unido de emitir declarações que encorajam a Ucrânia à utilização de armamento ocidental para promover ataques em território russo, e avisou que caso se verifique essa situação os militares russos poderão retaliar e atingir estruturas governamentais em Kiev.

O ministério responsabilizou directamente o ministro das Forças Armadas britânico. Na declaração, o Ministério da Defesa russo também indica que “as Forças Armadas russas estão preparadas para responder a ataques retaliatórios com armas de precisão de longo alcance dirigidas a centros em Kiev que adoptem essas decisões”.

Sublinhou ainda que “a presença de cidadãos de um ou vários países ocidentais nos centros de decisão ucranianos não coloca necessariamente um problema para a Rússia em tomar a decisão de desencadear uma acção de retaliação”.

Até ao momento, as forças militares russas evitaram atingir edifícios presidenciais, do governo ou instalações militares em Kiev durante a sua campanha na Ucrânia, que entrou no terceiro mês.

“Milhares de vidas russas serão perdidas”

Segundo o secretário de Estado das Forças Armadas britânico, no Leste do país o conflito será travado entre duas forças “muito mais equilibradas”, tendo os ucranianos “a vantagem” de terem estabelecido “posições defensivas” que foram “preparadas ao longo dos últimos oito anos”, posições essas que serão “extraordinariamente difíceis” de derrubar.

Em declarações anteriores à BBC, Heappey disse que o Presidente russo, Vladimir Putin, está determinado a reivindicar algum tipo de vitória antes do Dia da Vitória, que se assinala a 9 de Maio, uma pressão que poderá forçar os russos a cometerem erros.

O secretário de Estado das Forças Armadas britânico disse ainda que os comandantes russos sabem que é “militarmente insensato” tentar atingir os seus objectivos numa data concreta. “É uma loucura absoluta lançar uma ofensiva antes de terem reunido todo o seu poder de combate e que estejam a abdicar de qualquer vantagem que possam ter conquistado”, afirmou, destacando que a região do Donbass não se encontra actualmente num estado “favorável” à realização de intensas manobras militares.

“A pressão política de Putin e a arrogância que ele demonstrou, o seu desejo de permanecer lá nos degraus do Kremlin a 9 de Maio e ser um herói, significa que milhares de vidas russas serão perdidas e que os russos vão abdicar da vantagem numérica que deveriam ter”, concluiu. Com Lusa


Actualizado às 18h44 com a reacção da Rússia

Sugerir correcção
Ler 2 comentários