“A Páscoa não me traz nenhuma alegria”. Ortodoxos ucranianos celebram Páscoa no meio da guerra

Não houve cessar-fogo para que o importante feriado do calendário da Igreja Ortodoxa na Ucrânia pudesse ser celebrado em segurança.

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Soldados ucranianos celebram a Páscoa Ortodoxa em Kharkiv Reuters/SERHII NUZHNENKO
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Serviço religioso numa igreja de Mariupol Reuters/ALEXANDER ERMOCHENKO
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Pequeno almoço de Páscoa para refugiados ucranianos em Nadarzyn, perto de Varsóvia EPA/MATEUSZ MAREK

A chegada da Páscoa ortodoxa, celebrada uma semana depois da Páscoa católica romana, não trouxe um muito desejado cessar-fogo à Ucrânia, que tenta resistir a uma invasão da Rússia iniciada há dois meses. Em várias cidades ucranianas e também pela Europa, para onde milhões de pessoas fugiram nos últimos dois meses, a data foi assinalada com emoção e pedidos de paz.

Em Kiev, centenas de crentes concentraram-se à porta da catedral de São Volodimir, carregados com cestos de comida à espera de serem benzidos pelo padre – um costume da Páscoa ortodoxa. Mikhailo, um soldado fardado, trouxe os alimentos no seu capacete, dizendo à Associated Press não ter outra forma para transportar os produtos para a cerimónia. “Espero que venha a usar o capacete apenas para isto”, afirmou.

Com a retirada russa da capital nas últimas semanas, a sensação de segurança aumentou, mas os tempos mais perigosos continuam frescos na memória. “A Páscoa não me traz nenhuma alegria, choro muito. Não nos conseguimos esquecer de como vivemos”, conta Olena Koptil, que diz ter passado um mês com outras 12 pessoas escondida numa cave, com receio dos bombardeamentos russos.

Em Lviv – cidade no extremo ocidental da Ucrânia que tem servido como ponto de acolhimento e de passagem de quem foge da guerra –, Volodimir, de 53 anos, também levou um cesto com comida para ser abençoada às portas da Igreja da Intervenção da Virgem Maria. “As pessoas julgam que as festas devem ser alegres, trazer alívio e tornar as coisas mais fáceis, e quando se sentem bem viram as costas à fé verdadeira. Agora estamos a atravessar tempos difíceis e as pessoas estão a aproximar-se de Deus”, explicou, em declarações à CNN.

Nas cidades que acolheram muitos dos mais de cinco milhões de ucranianos que abandonaram o país desde o início da guerra, como Varsóvia, a Páscoa ortodoxa também foi assinalada. Anna Janushevich disse à Reuters que esta foi a primeira vez que passou o feriado fora do seu país, mas prefere falar do desejo de regressar. “Sonho conseguir voltar para celebrar a Páscoa em minha casa e que a minha filha possa estar com a família”, afirmou.

Numa mensagem para assinalar o feriado, o Presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, pediu aos seus compatriotas para manterem a esperança em tempos melhores. “A luz irá vencer a escuridão, o bem irá vencer o mal, a vida irá vencer a morte e, por isso, a Ucrânia irá vencer”, declarou.

As Nações Unidas emitiram um apelo para que fosse declarado um cessar-fogo durante as celebrações da Páscoa ortodoxa, mas os combates continuaram este domingo. A Ucrânia acusou a Rússia de bombardear a fábrica metalúrgica Azovstal, em Mariupol, onde se encontram perto de mil civis e militares ucranianos, cercados por forças russas. As autoridades russas dizem que uma aldeia na região fronteiriça de Belgorod foi atingida por um míssil ucraniano.

Na Rússia, a Páscoa também foi celebrada este domingo e o Presidente russo, Vladimir Putin, marcou presença numa missa na Catedral de Cristo Salvador, em Moscovo, dirigida pelo patriarca Cirilo, chefe da Igreja Ortodoxa Russa. Cirilo, que tem sido acusado de pôr a igreja ao serviço do Kremlin, pediu um fim rápido para a guerra na Ucrânia, mas não condenou o conflito iniciado por Moscovo, diz a Reuters.

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