O papel das leguminosas na resiliência dos sistemas alimentares

Hoje celebramos o Dia Mundial das Leguminosas, do famoso feijão, da fava, grão-de-bico ou lentilha, mas também do chícharo, da ervilha, e até mesmo do amendoim.

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"As leguminosas são excelentes fornecedoras de serviços de ecossistema" Filipa Fernandez/Arquivo

Hoje em dia fala-se muito da resiliência dos nossos sistemas alimentares, e na sua importância na promoção de sistemas agro-alimentares mais ecológicos. A resiliência pode ser definida como a manutenção das funções do sistema agro-alimentar frente ao stress imposto pelas perturbações bióticas ou abióticas, sejam elas graduais ou repentinas.

Falamos por exemplo da seca, das temperaturas extremas, de uma praga agrícola, ou de uma carência nutricional no solo. São os sistemas mais resilientes que nos permitem assegurar a produção de alimentos de forma sustentada e robusta, garantindo a provisão nutricional e ao mesmo tempo entregando importantes serviços de ecossistema. No entanto, para que um sistema seja resiliente, é necessário equilibrar as capacidades funcionais do mesmo tendo em conta as interacções entre os diferentes componentes bióticos e abióticos e a influência dos factores externos. Aqui falamos por exemplo das práticas agrícolas, das condições topográficas, pedo-climáticas e até mesmo dos aspectos socioeconómicos de uma determinada região.

Os tipos de produção agrícola mais resilientes são aqueles que mantêm um equilíbrio de todas as funções essenciais na região cultivada, mantendo-se estáveis ao longo do tempo. E conseguem fazê-lo sendo pouco dependentes de inputs externos, tais como agroquímicos – uma vez que a dependência cria vulnerabilidade.

Hoje celebramos o Dia Mundial das Leguminosas, do famoso feijão, da fava, grão-de-bico ou lentilha, mas também do chícharo, da ervilha, e até mesmo do amendoim. Além do seu elevado valor nutricional, estas culturas agro-biodiversas e de tradição milenar podem ter um papel chave na protecção dos sistemas agrícolas e na provisão de resiliência aos sistemas onde são cultivadas.

Para além do seu papel-chave na fertilização natural dos solos, a enorme diversidade de espécies e variedades de leguminosas permite encontrar variedades que são por exemplo capazes de crescer em solos pobres e ácidos, serem tolerante à seca, a temperaturas extremas, e aos ataques de diversas pragas. Permitem ser incluídas em sistemas de consorciação ou de rotação de culturas, ajudando também no controlo de infestantes, tolerantes a níveis excessivos de determinados metais pesados, na melhoria da qualidade do solo, e na promoção da biodiversidade.

As leguminosas são excelentes fornecedoras de serviços de ecossistema, e oferecem alternativas muito positivas no desenvolvimento de novas cadeias de valor. Múltiplos estudos publicados na última década, que olham para uma análise de ciclo de vida de produtos alimentares desenvolvidos com base em leguminosas e nas suas farinhas, mostram o potencial ecológico das leguminosas no desenvolvimento de novos produtos. Massas à base de grão-de-bico e hambúrgueres com base de proteína de ervilha têm um menor impacto ambiental do que as suas versões mais tradicionais, aumentando a resiliência dos sistemas alimentares.

Hoje, aproximando-se a Primavera (altura de cultivo de diversas leguminosas), se tiver essa possibilidade, que tal pensar em incluir um pequeno talhão de feijão no campo? Certamente haverá desafios a ultrapassar, tais como o próprio conhecimento do manejo da cultura, a dificuldade de selecionar material adaptado, maquinaria adequada, mas os benefícios podem valer a pena.​

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