Modatex do Porto promove exposição de camisolas poveiras

As 14 camisolas poveiras tricotados pelos alunos do primeiro curso promovido pelo centro de formação têxtil estarão expostas nos dias 2 e 3 de Fevereiro.

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O ressurgimento do interesse na centenária camisola poveira deu-se em Março de 2021, devido a uma polémica com a designer norte-americana Tory Burch Nelson Garrido

Esta semana, na quarta e quinta-feira, o MODATEX Porto acolhe uma exposição dedicada à camisola poveira. Estarão expostas as 14 camisolas tricotados pelos alunos do primeiro curso promovido pelo centro de formação. Durante quatro meses, os alunos aprenderam a técnica artesanal de fabrico das históricas camisolas de lã da Póvoa de Varzim, que ganharam uma nova atenção em 2021 quando a designer norte-americana Tory Burch as vendeu como sendo uma criação da sua autoria.

A iniciativa, além de marcar o encerramento da formação que decorreu entre 20 de Setembro de 2021 e 21 de Janeiro de 2022, pretende, uma vez mais, “sensibilizar a comunidade em geral para a cultura e o saber fazer inerente a esta tradição ancestral”, explica o Modatex, em comunicado. O curso resultou de uma parceira entre o centro de formação da indústria têxtil e a Patripove - Associação de Defesa e Consolidação do Património Poveiro.

As 14 camisolas poderão ser vistas no edifício do centro de formação na Rua Professor Augusto Nobre, no Porto, entre as 19h e as 21h desta quarta-feira, 2 de Fevereiro. No dia seguinte será possível visitar a exposição entre as 9h e as 12h30 e as 13h30 e as 17h. A entrada é livre.

A frequência do curso da Modatex foi gratuita, mediante a aquisição de um kit, no valor de 60€, pelo formando, com todo o material necessário para elaborar a camisola poveira. No final da exposição, a propriedade dos trabalhos será dos formandos, confirmou o Modatex ao PÚBLICO. Em breve deverão ser anunciadas novas datas desta formação, informaram, ainda.

O ressurgimento do interesse na centenária camisola poveira deu-se em Março de 2021, devido a uma polémica com a designer norte-americana Tory Burch, que colocou à venda uma camisola poveira por 695€ (sete vezes mais o valor comercial), identificando-a como uma criação original, inspirada na baja mexicana. Pouco depois, a Câmara Municipal da Póvoa de Varzim comunicou que ia criar um centro de formação para a produção do típico artesanato. As inscrições nos dois primeiros cursos de formação, um em articulação com o IEFP e outro dinamizado através da Associação Amigos do Museu da Póvoa de Varzim, num formato de Curso de Ocupacional de Tempos Livres, esgotaram rapidamente.

Todavia, no final do curso promovido pelo IEFP, as formandas viram-se impossibilitadas de ficar com as camisolas, já que os trabalhos tinham sido “feitos com materiais adquiridos com verba do erário público”, justificou aquele organismo, ao PÚBLICO. A regra, garantia, aplica-se “transversalmente a todos os tipos de formação” e justifica que “a lógica dos trabalhos é a da aprendizagem, não é a da propriedade do formando”.

Cada camisola poveira envolve cerca de 50 horas de trabalho manual ─ avaliado em 99€, o valor máximo fixado pela autarquia ─ e conta muitas vezes uma história através dos desenhos. Do ponto de vista do modelo, a camisola não é muito diferente de outras camisolas de lã usadas pelos homens do mar. O que a distingue, para além da própria lã, que tem origem na serra da Estrela, são os motivos bordados a linha vermelha e preta, que até ao século XIX eram mais ligados ao universo da ruralidade minhota (e incluíam flores e espigas, por exemplo), mas que, já no século XX, foram substituídos por figuras associadas à pesca.

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