Portugal emite três mil milhões em dívida a 20 anos com juro de 1,2%

A procura dos investidores pela dívida portuguesa foi superior a 20.000 milhões de euros, superando a oferta em 6,6 vezes.

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A Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública – IGCP é liderada por Cristina Casalinho Daniel Rocha

Portugal realizou, esta quarta-feira, a primeira emissão de dívida do ano, numa operação de venda de obrigações do Tesouro que contou com o apoio de bancos estrangeiros e do Novo Banco. Foram emitidos 3000 milhões de euros e os investidores exigiram um juro de 1,2%.

A operação decorreu depois de a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública – IGCP ter contratado um sindicato bancário, liderado por cinco bancos estrangeiros (BNP Paribas, Crédit Agricole CIB, Morgan Stanley, J.P. Morgan e Nomura) e por um banco nacional (o Novo Banco), para vender obrigações do Tesouro com maturidade a 20 anos.

A venda ficou fechada esta quarta-feira: foram emitidos três mil milhões de euros em obrigações do Tesouro, com data de vencimento em Abril de 2042 e um prémio de 60 pontos base em relação à taxa de mid-swap, que negoceia na casa dos 0,6%. A taxa de juro fixou-se, assim, em 1,2%.

Como termo de comparação, os juros da dívida portuguesa a 20 anos negoceia, por esta altura, em torno dos 0,87% no mercado secundário, a cair ligeiramente em relação à taxa registada na última sessão.

Procura “forte” em cenário de subida de juros

A primeira emissão de dívida pública portuguesa de 2022 acontece numa altura em que as taxas de juro têm vindo, ao longo das últimas quatro semanas, desde a última reunião do Banco Central Europeu (BCE), a registar uma subida progressiva na zona euro, que tem sido transversal aos vários países da região, desde a Alemanha até Portugal.

Este movimento é registado num momento em que o mercado espera que o BCE venha a retirar os estímulos à economia mais rapidamente do que o previsto, numa resposta à subida da inflação que poderá passar pela subida antecipada das taxas de juro de referência e com o fim das compras de dívida pública.

É neste cenário de agravamento do risco das dívidas soberanas, e consequente aumento dos prémios para os investidores, que a operação desta manhã foi realizada, registando-se uma procura claramente superior à oferta. A procura pelas obrigações de dívida portuguesa foi superior a 20.000 milhões de euros, superando em 6,6 vezes a oferta.

“No seu primeiro leilão do ano, Portugal emitiu com sucesso 3000 milhões de dívida de longo prazo, com a procura a superar os 20.000 milhões de euros. O IGCP surpreendeu o mercado ao fazer um leilão a 20 anos, quando o mesmo esperava um novo ‘benchmark’ para Portugal a 10 anos. Não obstante, a procura acabou por ser muito forte, numa altura em que assistimos a uma subida generalizada dos prémios de risco das dívidas soberanas europeias”, comenta Filipe Silva, director de Investimentos do Banco Carregosa, numa nota enviada às redacções.

Mesmo assim, considera o responsável, a operação foi realizada num período em que os custos se mantêm baixos. “O IGCP acaba por tirar partido do ainda baixo nível de taxas de juro para fazer uma emissão de longo prazo e com um prémio de risco inferior ao custo médio que a dívida nacional apresenta”, refere.

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