Juros da dívida europeia sobem com sinais vindos dos EUA

Minutas da reunião da Fed mostram que subidas dos juros nos EUA podem acontecer já a partir de Março, pressionando o BCE a também actuar mais cedo.

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EPA/OLIVIER HOSLET

As taxas juro dos títulos de dívida pública dos países da zona euro acentuaram esta quinta-feira a tendência de subida que já vinham registando nas últimas semanas, mostrando que as expectativas de uma subida de juros mais rápida por parte do Banco Central Europeu (BCE) são agora mais fortes nos mercados.

De acordo com os dados publicados pela Reuters, Itália e Espanha viram, esta manhã, as taxas de juro da dívida a 10 anos subir para 1,295% e 0,636% respectivamente, os valores mais altos desde Julho do ano passado, enquanto na Alemanha este indicador chegou aos -0,5%, um nível que, embora ainda negativo, é o mais alto desde Maio de 2019.

No caso de Portugal, a subida da taxa de juro dos títulos de dívida a 10 anos foi, na manhã desta quinta-feira, até próximos dos 0,55%, um valor que ainda não ultrapassa os 0,561% registados no passado mês de Novembro.

É, no entanto, evidente – na generalidade dos países da zona euro, incluindo Portugal – a tendência de subida das taxas de juro da dívida pública registada desde meados do passado mês de Dezembro, quando o Banco Central Europeu realizou a sua última reunião. Nessa altura, os juros da dívida a 10 anos estavam, no caso de Portugal, na casa dos 0,26%.

A tendência forte de subida significa que, nos mercados, os investidores passaram, depois dos resultados da última reunião do conselho de governadores do BCE, a apostar numa retirada mais rápida das medidas de apoio à economia que o banco central lançou durante a crise. Em particular, aponta-se agora para que a primeira subida das taxas de juro do BCE ocorra mais cedo do que era antes esperado.

Esta convicção foi reforçada no final desta quarta-feira depois de se ficar a saber, através da publicação das minutas da última reunião da Reserva Federal norte-americana (Fed), que a autoridade monetária dos EUA pode começar a subir as suas taxas de juro já em Março, em vez de Abril ou Maio, como era antes previsto.

Esta aceleração da subida de taxas nos EUA coloca o BCE ainda sob maior pressão para agir, numa altura em que a taxa de inflação na zona euro regista o valor mais alto desde a criação da moeda única.

Na reunião de Dezembro, a entidade liderada por Christine Lagarde manteve os seus planos de uma retirada lenta e progressiva dos estímulos à economia, mas fez questão de deixar claro que irá ser flexível na resposta à evolução da economia e da inflação, não colocando totalmente de lado a possibilidade de uma subida das taxas de juro de referência do BCE ocorrer já no decorrer deste ano.

Embora as taxas de juro do BCE definam apenas o custo que é suportado pelos bancos para obterem financiamento junto do banco central no curto prazo, o seu nível acaba por constituir uma referência para os custos de financiamento a médio e longo prazo em toda a economia e, em particular, para as taxas de juro que os Estados têm de suportar nos empréstimos que obtém junto dos mercados. Para além disso, antes de subir taxas, o BCE deverá também colocar um ponto final no seu programa de compra de títulos de dívida pública, algo que tem vindo a contribuir de forma decisiva para manter as taxas de juro da dívida a níveis historicamente baixos.

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