Magusto da Velha: quatro séculos a fazer chover castanhas, dois anos a levá-las porta a porta

Tradição natalícia de Aldeia Viçosa, na Guarda, adapta-se novamente à pandemia: se o povo não pode ir às castanhas, vão as castanhas ao povo. “Tudo para que tenhamos muitos mais Magustos da Velha no futuro”.

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Magusto da Velha: imagem relativa a edições pré-pandemia JF Aldeiça Viçosa
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Os saquinhos de castanhas tal como preparados em 2020 JF Aldeiça Viçosa
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Não falta a Jeropiga JF Aldeiça Viçosa
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Magusto da Velha: imagem relativa a edições pré-pandemia JF Aldeiça Viçosa

Afinal, ainda é não desta que os habitantes de Aldeia Viçosa, na Guarda, se voltarão a apinhar no largo da igreja, a 26 de Dezembro, em homenagem a uma velha benemérita daquela localidade serrana. Contrariamente ao que tinha previsto, a junta de freguesia local não irá realizar o tradicional Magusto da Velha nos moldes habituais, devido à contenção necessária durante estas semanas de pandemia.

Porque o habitual é muito chamativo e não falta ninguém à chamada: trata-se do lançamento de 150 quilos de castanhas a partir da torre da igreja. A alternativa passa por repetir o formato adoptado em 2020: as castanhas e o vinho vão ser distribuídos de porta a porta. “Se as pessoas não podem ir à velha, vai a velha ter com as pessoas”, anuncia Luís Prata, presidente da junta de Aldeia de Viçosa.

À semelhança do que aconteceu a 26 de Dezembro de 2020, serão preparados “sacos individuais com um quilo de castanhas cada” para serem entregues nas casas dos habitantes da aldeia. Se o São Pedro ajudar, por volta das 14 horas, “sairá um pequeno cortejo à rua, a dramatizar a ‘velha’ e com animação musical”, acrescenta o autarca.

Tudo com “o devido distanciamento e segurança”, assevera. A par com o saco de castanhas, segue também o vinho, outro dos produtos que está na génese da tradição secular. Já a oração em memória da velha benemérita da aldeia – a mulher que deixou em testamento a ordem para distribuir castanhas e vinho pelo povo - terá de ser feita por cada habitante, na sua própria casa (em condições normais, seria feita na igreja, a abrir a festa).

A decisão de cancelar o Magusto da Velha, assim como os tradicionais Madeiros de Natal do município, já tinha sido tomada antes de serem conhecidas as novas medidas de combate à covid-19 e foi justificada com base na evolução da situação pandémica no país e no concelho. “Tudo para que tenhamos muitos mais Magustos da Velha no futuro”, sustenta Luís Prata.

Esta tradição singular conta já com cerca de 400 anos e deverá ser alvo de uma candidatura a património cultural imaterial nacional.

Na aldeia, recorde-se, têm vindo a ser defendidas duas teses quanto à identidade da velha: uma que defende ser “Isabel Gil, viúva de um senhor importante da Guarda”, outra que defende ter sido “uma monja”.

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