Nicarágua corta laços com Taiwan e restabelece relações diplomáticas com a China

Em cinco anos, Taiwan perdeu o reconhecimento oficial de oito países, restando apenas 14 nações com quem mantém relações diplomáticas.

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Os representantes da China, Ma Zhaoxu (à direita), e da Nicarágua, Laureano Ortega, durante a cerimónia de restabelecimento de laços diplomáticos Reuters/XINHUA

Taiwan perdeu mais um aliado diplomático e conta agora com apenas 14 nações que reconhecem a sua soberania. Desta vez foi a Nicarágua que restabeleceu relações diplomáticas com a China, pondo fim a uma ligação de décadas com a ilha.

“A República Popular da China é o único governo legítimo que representa toda a China, e Taiwan é uma parte inalienável do território chinês.” É através desta formulação, presente num comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros nicaraguense, que foi garantido o restabelecimento de relações diplomáticas entre Manágua e Pequim.

O acordo foi fechado na cidade chinesa de Tianjin, após uma série de reuniões em que participaram dois dos filhos do Presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, diz o El País. Poucas horas antes, o Governo de Manágua tinha anunciado o corte de relações oficiais com Taiwan – uma condição obrigatória para quem quer ter laços diplomáticos com Pequim.

Ortega já tinha cortado relações com Taiwan em 1985, mas os laços foram retomados nos anos 1990 pela Presidente Violeta Barríos de Chamorro.

O governo taiwanês lamentou a decisão que diz vir “desvalorizar os muitos anos de amizade entre os povos de Taiwan e da Nicarágua”. “Como membro da sociedade internacional, Taiwan tem o direito a ter intercâmbios e desenvolver relações diplomáticas com outros países”, declarou o ministério dos Negócios Estrangeiros.

Washington também criticou o corte de relações entre a Nicarágua e Taiwan. “Sem o mandato que tem origem em eleições livres e justas, as acções não podem reflectir a vontade do povo nicaraguense”, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price.

A perda do reconhecimento da Nicarágua é mais um golpe para Taiwan, que conta agora com relações oficiais com apenas 14 países. Essa tendência tem acelerado nos últimos anos, sobretudo desde que a Presidente Tsai Ing-wen chegou ao poder, em 2016, adoptando uma postura menos conciliadora com Pequim face aos seus antecessores.

Em cinco anos, Taiwan perdeu oito aliados diplomáticos (Burkina Faso, República Dominicana, São Tomé e Príncipe, El Salvador, Panamá, Ilhas Salomão e Kiribati, para além da Nicarágua) e tem cada vez menos margem de manobra perante a ofensiva chinesa. O regime de Pequim tem usado a sua enorme influência geopolítica e económica para emagrecer a lista de países com quem Taiwan mantém relações oficiais.

A generalidade dos países tem relações diplomáticas com a China, enquanto reduz as ligações com Taiwan a contactos não oficiais. É o que acontece com os EUA, que reconhecem oficialmente a República Popular Chinesa, mas mantêm laços muito próximos de Taiwan, sobretudo a nível militar, com o objectivo de dissuadir Pequim de uma hipotética invasão.

No caso da Nicarágua, a decisão não apanhou Taiwan totalmente de surpresa. O regime liderado por Daniel Ortega tem adoptado um comportamento cada vez mais autoritário. Nos meses que antecederam as eleições presidenciais de Novembro – cujos resultados não foram reconhecidos pelos EUA – foram detidos praticamente todos os candidatos da oposição ao Governo.

Nesse período, as relações entre Washington e Manágua deterioraram-se de forma acelerada, com a aplicação de inúmeras sanções contra dirigentes do regime nicaraguense. No mesmo dia em que a Nicarágua cortou as relações com Taiwan, o Departamento de Estado norte-americano anunciou sanções contra Néstor Moncada Lau, um assessor de Ortega, acusando-o de fraude e corrupção, diz o El País.

“Parece que Ortega se fartou”, disse à Reuters uma fonte diplomática de Taiwan, a propósito do corte de relações.

A sangria de aliados de Taiwan na América Central pode não ficar por aqui. A Presidente recém-eleita das Honduras, Xiomara Castro, tinha prometido uma aproximação a Pequim, embora fontes do seu gabinete tenham dito que não está no horizonte próximo a possibilidade de estabelecer relações formais com a China.

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