Rangel recusa trabalhar para PSD “em segundo lugar” ou para ser vice-primeiro-ministro

Em entrevista à SIC, o candidato disse que ia trabalhar para liderar um PSD com “maioria estável no parlamento” ou sozinho ou com coligações com partidos da direita “moderados”. Paulo Rangel admitiu ainda que poderá aceitar uma antecipação do calendário eleitoral do PSD, mas só “se for juridicamente possível”, acusando Rui Rio de ter tido “três posições num mês” sobre o tema.

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Paulo Rangel foi entrevistado na noite desta sexta-feira na SIC LUSA/RODRIGO ANTUNES

O candidato à liderança do PSD, Paulo Rangel, recusou esta sexta-feira responder se viabilizaria um Governo do PS minoritário ou se aceitaria o apoio dos socialistas em caso inverso, rejeitando cenários de um “PSD em segundo lugar” ou de ser “vice-primeiro-ministro”.

Em entrevista à SIC, conduzida pela jornalista Débora Henriques, Paulo Rangel foi por várias vezes questionado sobre cenários de governabilidade após as legislativas de 30 de Janeiro, repetindo que vai trabalhar para liderar um PSD com “maioria estável no parlamento” ou sozinho ou com coligações com partidos da direita “moderados”.

“Sei que há outros que gostam de trabalhar em cenários, há pessoas que gostariam de ser vice-primeiros-ministros, eu quero ser primeiro-ministro”, afirmou o eurodeputado, numa crítica implícita ao actual presidente do PSD e recandidato ao cargo, Rui Rio, que admite dialogar com o PS “em nome do interesse nacional”, embora sem executivos de Bloco Central.

Rangel disse que irá descartar governos “de Bloco Central e com o Chega” e, questionado se não é pouco prudente ser tão definitivo, contrapôs que “é preciso clareza” e lembrou que o socialista António Guterres liderou um governo minoritário durante quatro anos.

“Não pense que vou apontar para um PSD que vai ficar em segundo lugar”, afirmou, repetindo que o voto no PS é actualmente “inútil”, porque a solução da Geringonça se esgotou, mas também “injusto”, apontando situações como as dificuldades nas urgências dos hospitais.

Ao longo da entrevista, Paulo Rangel foi dizendo “não querer entrar em tricas” com Rui Rio, com quem disputará eleições directas para a presidência do PSD, reiterando que a partir da marcação das legislativas, na quinta-feira, “o adversário é António Costa, e não Rui Rio”.

Ainda assim, e sobre o prazo escolhido pelo Presidente da República, deixou mais uma crítica implícita ao opositor interno, dizendo que apontou a data que lhe parecia “mais razoável” — 20 ou 27 de Fevereiro — mas que, “ao contrário de outros”, não fez “nenhum condicionamento” a Marcelo Rebelo de Sousa.

Questionado se, vencendo as directas, tentará um consenso com Rio para a elaboração das listas de deputados — que têm de ser entregues até 20 de Dezembro —, Rangel salientou que no PSD esse processo “é feito de baixo para cima”, começando com propostas das concelhias e depois das distritais. “Naturalmente, havendo um líder eleito, é ele que tem de conduzir o processo”, afirmou, dizendo apenas que dará “sinais de agregação”.

Rangel admite antecipação de calendário interno

Paulo Rangel admitiu ainda que poderá aceitar uma antecipação do calendário eleitoral interno, mas só “se for juridicamente possível”, acusando Rui Rio de ter tido “três posições num mês” sobre o tema.

Na mesma entrevista à SIC, o eurodeputado foi questionado sobre a proposta do presidente e recandidato do PSD de “comprimir” os prazos das eleições directas e do Congresso do partido, que serão discutidos no Conselho Nacional de sábado. “Se for possível juridicamente antecipar mais, contarão sempre comigo”, afirmou, embora mostrando algumas reservas sobre essa hipótese.

Rangel acusou Rui Rio de ter tido “três posições num mês” sobre o tema, tendo começado por defender as directas “o mais depressa possível — “a 4 de Dezembro, como vão ser”. Depois, Rangel diz que Rio apelou a que se reflectisse se não deveriam ser adiadas e que, na quinta-feira, defendeu numa entrevista à TVI tanto o adiamento como a redução dos prazos. “Não oferece nem estabilidade nem credibilidade ao partido”, criticou.

Questionado se esta antecipação pode ser uma boa ideia, Rangel disse que não se irá opor se Rio “descobrir uma fórmula” que ofereça segurança jurídica, embora considerando que talvez fosse mais simples antecipar apenas o Congresso.

“Se as directas forem a 4 de Dezembro e o Congresso entre 17 e 19 de Dezembro é perfeitamente possível cumprir os prazos das legislativas. Estou aqui para trabalhar com qualquer prazo”, assegurou. “A melhor solução é estabilidade”.

Na última reunião do Conselho Nacional do PSD, há cerca de três semanas, as eleições directas foram marcadas para 4 de Dezembro e o Congresso para 14, 15 e 16 de Janeiro.

O calendário aprovado tinha sido inicialmente proposto pela direcção, mas, na véspera do Conselho Nacional e após alertas do Presidente da República de que poderia haver uma crise política, Rio apelou à suspensão da disputa interna para depois de se esclarecer se o Orçamento do Estado era ou não aprovado. A proposta acabaria rejeitada com 71 votos contra, 40 a favor e 4 abstenções.

Perante o chumbo do Orçamento a 27 de Outubro, mais de 60 conselheiros nacionais e dirigentes distritais fizeram um pedido de um Conselho Nacional extraordinário para antecipar o Congresso para entre 17 e 19 de Dezembro, que mereceu o apoio de Paulo Rangel, e que deverá ser votado no sábado.

O Presidente da República convocou eleições legislativas antecipadas para 30 Janeiro de 2022 na sequência do “chumbo” do Orçamento do Estado do próximo ano, no parlamento, em 27 de Outubro.

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