Rangel rejeita críticas a encontro com Marcelo: “Aconteceu a coisa mais natural do mundo”

Em entrevista à RTP3, o candidato à liderança do PSD diz que um voto no PS é um voto inútil. Se fosse primeiro-ministro, fecharia a porta a um Governo de bloco central, mas admite dialogar com o parceiro habitual, o CDS, e com a Iniciativa Liberal.

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Paulo Rangel é candidato às eleições no PSD MÁRIO CRUZ/LUSA

Paulo Rangel disse esta quarta-feira à noite, em entrevista à RTP3, que o encontro que teve esta terça-feira com o Presidente da República, serviu para apresentar a candidatura a líder do PSD e que se tratou da “coisa mais natural do mundo”, dizendo ainda não entender a atenção à volta do assunto.

Na tarde de terça-feira, enquanto ainda decorria o debate orçamental, Marcelo Rebelo de Sousa recebeu o candidato à liderança do PSD. De acordo com uma nota divulgada pela Presidência, o encontro terá decorrido a pedido do eurodeputado social-democrata.

Na manhã desta quinta-feira, o líder do PSD, disse que o encontro para alegadamente discutir a data das eleições legislativas, não só é “estranho” como “não é minimamente aceitável” e “condiciona o país às directas do PSD”. Marcelo Rebelo de Sousa sacudiu as críticas de Rui Rio, dizendo que ter a audiência com Rangel antes da votação do OE “era a melhor altura”.

“Aconteceu a coisa mais natural do mundo. Assim que eu apresentei a minha candidatura ao PSD, e só depois de o fazer, pedi uma audiência ao Presidente para explicar que era candidato a líder e quais eram as razões para o ser. O senhor Presidente agendou para o dia de ontem [quarta-feira] e eu fui fazer essa apresentação. Era a minha obrigação e penso que achou isso natural”, justificou Rangel, negando que tenham sido discutidas alegadas datas para as eleições legislativas.

“É natural que, se há alguém que é candidato à liderança do segundo maior partido e que aspira a ser um partido maioritário e a governar Portugal dentro de meses, é natural que queira explicar isso. Não é normal que um Presidente queira ouvir todas as pessoas que quiser e ouvir os actores políticos? É um líder de um partido que vai dizer quem o Presidente pode ouvir ou não e em que dias?”, questionou o candidato. “Se alguém se quer vitimizar ou fazer disto um grande caso, é alguém que não está a olhar para os problemas do país”.

Convidado da Grande Entrevista da RTP3 no dia em que o já anunciado chumbo do Orçamento do Estado (OE) para 2022 foi oficialmente confirmado, Paulo Rangel disse que não lhe compete marcar datas de eleições e que acha “pouco comum” líderes partidários pressionarem o Presidente da República para que o faça. “O PSD não está em estado de emergência nem em estado de excepção. Consegue fazer o seu processo eleitoral interno até ao dia 4 de Dezembro, eventualmente com antecipação do congresso, que acho altamente recomendável”, referiu o eurodeputado, lembrando que já era defensor desta antecipação desde meados de Outubro.

“O PSD tem de ter um líder para ir a eleições legitimado”, diz o candidato, não vendo na falta de tempo um obstáculo para que isso aconteça. “O tempo é combatível”.

Haver eleições antecipadas é “altamente provável"

O eurodeputado considerou "altamente provável” que a possibilidade de eleições antecipadas, depois do chumbo do OE2022, se concretize. “O facto que nós temos é apenas a reprovação da proposta de lei do Orçamento. Tendo em conta todo o panorama político que está à volta, tenho muito poucas dúvidas que vai conduzir à dissolução do Parlamento e esta à convocação de eleições legislativas antecipadas logo a seguir a isso”, disse. 

Paulo Rangel afirmou que o que ficou claro neste processo foi a ruptura da “geringonça, muito por culpa do Partido Socialista”. “Se há um culpado pela crise política é António Costa e o partido que este lidera, que criou uma ilusão que havia diálogo possível com partidos da extrema-esquerda e da esquerda radical”, apontou.

O candidato disse ainda que, ao “contrário de outros”, como Rui Rio, acha que o Governo fez bem em não se demitir perante a possibilidade de eleições antecipadas. “Acho que é melhor ter um Governo em funções até às eleições do que ter um Governo demitido, uma vez que a razão que leva à dissolução não é uma crise do Governo, é haver uma crise da aprovação orçamental e não haver nenhuma solução”, disse.

Questionado sobre se será melhor para o país haver eleições antecipadas, o eurodeputado respondeu que “o melhor para o país seria não ter havido crise política nesta fase”. Afirmou que os orçamentos aprovados ao longo dos anos acabaram por ser prejudiciais para os portugueses, dando o exemplo do sector da saúde. “O caos que está instalado na saúde no pós-pandemia é absolutamente inacreditável”, disse, acrescentando que o sucesso do processo de vacinação contra a covid-19 em Portugal não é mérito do Governo, mas sim do vice-almirante Henrique Gouveia e Melo.

Não a bloco central

Na entrevista à RTP3, Paulo Rangel referiu que todos os portugueses deveriam perceber que “António Costa começou hoje a campanha eleitoral e começou-a no Parlamento”. “António Costa é primeiro-ministro há seis anos. O país hoje está melhor do que estava? Esta solução de governar com a esquerda radical, não podendo, em muitos casos, levar os nossos compromissos europeus até onde eles deviam ser levados foi uma boa solução? Como será o pós-eleições? O voto no PS e em António Costa é um voto inútil porque não vai poder governar à esquerda e não se vai entender com o PCP e com o BE”.

O eurodeputado não acredita que existe um cenário de maioria absoluta para o PS, uma vez que Costa já foi a eleições duas vezes: “Na primeira até perdeu e na segunda não teve maioria absoluta”. “Só há verdadeiramente uma alternativa para um Governo estável em Portugal, um Governo moderado que vá do centro esquerda, ao centro direita e à direita moderada: é o PDS”, disse.

Mas o candidato à liderança do PSD afastou a possibilidade de uma governação em bloco central caso venha a ser eleito. Diz que tanto ele como Rui Rio têm interesse em que o processo eleitoral “role normalmente”, uma vez que daí sairá um “líder legitimado”. “O sinal que foi dado pelas autárquicas ainda reforça mais a relevância de ser candidato do que antes. Ele mostra que há um grande descontentamento com o PS, mas não há verdadeiramente uma adesão ao PSD. Para isso é preciso uma adesão ao líder”, afirmou, classificando a oposição do seu partido como “débil”.

Rangel é da opinião que é necessário renovar as gerações de políticos, dentro e fora do PSD, e que Portugal “tem líderes velhos”. “Eu não teria um Governo de 20 ministros, como este, nem um de dez, como Passos Coelho. Isso depois agrega muitas pastas. Os nossos problemas de 2021 não são os de 2015. É a transição digital, é o problema ecológico e a educação”, referiu.

“A nossa grande aspiração é obviamente ter uma maioria absoluta do PSD, mas, se não tivermos, não vamos deixar de liderar um Governo por causa disso e desde que tenhamos condições para liderar de forma estável”, disse o candidato, relembrando que o parceiro tradicional do PSD é o CDS, mas reconhecendo na Iniciativa Liberal “uma força política com o qual podemos ter um diálogo frutuoso e uma plataforma de Governo se ela for necessária”.

Ainda assim, Rangel acredita que o PSD deve apresentar-se a eleições sozinho. “Admito que o PSD pode convencer o seu líder de que é melhor encontrar outra alternativa, mas do meu ponto de vista o PSD deve ir sozinho”.

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