Jeanine Añez entre as nomeadas para o Prémio Sakharov

A ex-Presidente interina boliviana está presa desde Março e é acusada de conspirar para derrubar Evo Morales. Alexei Navalny e um grupo de activistas afegãs são outros dos nomeados.

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Añez está presa desde Março David Mercado

A ex-Presidente interina da Bolívia, Jeanine Añez, é uma das nomeadas para o Prémio Sakharov atribuído pelo Parlamento Europeu. Entre os restantes nomeados estão o líder da oposição russa, Alexei Navalny, e um grupo de mulheres afegãs que lutam pela igualdade de direitos.

A inclusão de Añez entre a lista de possíveis galardoados com o prémio Sakharov, que premeia a liberdade de pensamento, é a mais surpreendente. A ex-chefe de Estado boliviana é apresentada como um “símbolo da repressão contra dissidentes e da negação das garantias legais e do estado de direito na América Latina”.

Añez está presa desde Março sob acusação de terrorismo, “sedição” e conspiração. Em causa está o seu papel no derrube do seu antecessor Evo Morales e na repressão de manifestações contra o seu Governo interino. Añez apresenta-se como uma “presa política” e já tentou suicidar-se na cadeia onde aguarda julgamento.

A política conservadora saltou para a ribalta quando aproveitou o vácuo no poder deixado pelo afastamento de Morales, em Novembro de 2019, para assumir a presidência interina. O processo foi muito conturbado e multiplicaram-se as suspeitas de que o processo esteve longe de decorrer de forma legal. Ainda assim, Añez passou quase um ano na chefia do Estado e ainda ponderou concorrer às eleições, mas a baixa popularidade levou-a a desistir.

Morales foi derrubado depois de uma pressão intensa por parte do Exército boliviano, após semanas de protestos contra a sua reeleição. Os seus adversários políticos acusaram-no de fraude eleitoral e promoveram manifestações contra a sua permanência no poder – porém, vários estudos posteriores mostraram que as eleições decorreram sem qualquer interferência.

Añez foi escolhida pelo grupo parlamentar dos Reformistas e Conservadores Europeus, que integra várias formações da extrema-direita e ultranacionalistas como a Aliança Flamenga da Bélgica ou o Lei e Justiça polaco.

Outros nomeados

Alexei Navalny foi o nome escolhido pela maior bancada no Parlamento Europeu, a do Partido Popular Europeu, e a nomeação é justificada pela “coragem no combate pela liberdade, democracia e direitos humanos”.

A notoriedade de Navalny como o principal rosto da oposição ao regime de Vladimir Putin tem crescido de forma acentuada. O activista político foi vítima de um atentado no Verão passado e está preso desde o início do ano por ter violado o regime de liberdade condicional – diz que todas as acusações são motivadas politicamente.

No ano em que os taliban regressaram ao poder no Afeganistão, os Socialistas e Democratas, em conjunto com os Verdes, nomearam um grupo de mulheres afegãs que se destacam pelo seu “combate corajoso pela igualdade e pelos direitos humanos”. O grupo de homenageadas inclui a presidente do Conselho Independente de Direitos Humanos do Afeganistão, Shaharzad Akbar, a presidente da Rede de Mulheres Afegãs, Mary Akrami, e a autarca de Maidan Shar, Zarifa Ghafari.

“Sob o anterior regime taliban, as mulheres foram sujeitas a casamentos forçados, elevada mortalidade materna, baixa alfabetização, testes forçados à virgindade e não podiam viajar sem um homem”, lembram os eurodeputados.

O grupo da Esquerda Unitária nomeou a activista política sarauí Sultana Khaya pela sua “defesa do direito à autodeterminação do Sara Ocidental”, uma região sob ocupação marroquina. Está sujeita a um regime de prisão domiciliária sem que tenha sido emitido um mandado de detenção desde Novembro do ano passado e já foi espancada, ameaçada e torturada pelas autoridades marroquinas.

Um grupo de 43 eurodeputados encabeçados por Marie Toussaint, do Grupo dos Verdes, escolheu a Global Witness, uma organização britânica que divulga violações ambientais há mais de 25 anos.

O vencedor da edição de 2021 do Prémio Sakharov será conhecido no dia 21 de Outubro e a cerimónia de entrega está marcada para 15 de Dezembro no Parlamento Europeu em Estrasburgo. No ano passado, o galardão foi entregue a representantes da oposição bielorrussa.

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