Oposição democrática da Bielorrússia recebe Prémio Sakharov

Prémio atribuído pelo Parlamento Europeu ao Conselho de Coordenação, uma plataforma que junta figuras da sociedade civil e políticos da oposição bielorrussa.

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Svetlana Tikhanouskaia foi a candidata da oposição bielorrussa às eleições presidenciais de Agosto EPA/TATYANA ZENKOVICH

O Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento 2020 foi atribuído pelo Parlamento Europeu à oposição democrática na Bielorrússia, na figura do Conselho de Coordenação, uma plataforma que junta figuras da sociedade civil e personalidades políticas como Svetlana Tikhanouskaia, a adversária eleitoral do Presidente, Aleksander Lukashenko, cuja reeleição não foi reconhecida pela União Europeia.

“À medida que cresce a nossa admiração pela população bielorrussa, cresce também a nossa preocupação pelas violentas represálias [do regime de Lukashenko], declarou o presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, ao anunciar a atribuição do prémio aos “corajosos representantes da oposição” bielorrussa agrupados no Conselho de Coordenação e na iniciativa de mulheres corajosas, entre as quais a música e activista política Maria Kolesnikova, ou a ensaísta e prémio Nobel da Literatura Svetlana Alexievich. “Contam com o nosso apoio”, garantiu.

Sassoli referiu-se à “resiliência e determinação” dos opositores de Lukashenko que há 11 semanas consecutivas se juntam aos milhares para reclamar eleições livres e democráticas. “A vossa acção personifica a defesa da liberdade de pensamento e expressão que o Prémio Sakharov reconhece e comove o mundo”, disse.

A atribuição do prémio pelo Parlamento Europeu, prosseguiu, é antes de tudo uma mensagem para a sociedade bielorrussa. “Não desistam da vossa luta e continuem a ser fortes, mesmo perante um adversário tão poderoso. Saibam que nós estamos do vosso lado e apoiamos a vossa luta”, afirmou Sassoli, revelando que a decisão dos parlamentares europeus foi unânime.

O presidente do Parlamento Europeu aconselhou o contestado líder da Bielorrússia a arrepiar caminho, não só pondo fim às violentas acções de repressão sobre os manifestantes e adversários políticos, como aceitando afastar-se do poder. “A violência nunca prevalecerá sobre a verdade. O Presidente perdeu as eleições e chegou o momento de ouvir a voz do povo”, declarou.

Aleksander Lukashenko, no poder há 26 anos, enfrenta a maior contestação de sempre ao seu regime, com protestos ininterruptos desde as eleições de 9 de Agosto, consideradas fraudulentas pela União Europeia, que não reconhece o autocrata como Presidente legítimo da Bielorrússia.

Após uma vaga de repressão contra manifestantes pacíficos, que exigem uma transição pacífica de poder, os 27 Estados-membros da UE decidiram aplicar sanções a 40 personalidades responsabilizadas pela violência e manipulação dos resultados eleitorais. Lukashenko ficou de fora, mas os líderes europeus já acordaram na inclusão do líder bielorrusso na lista, caso este continue a permitir a repressão e recuse sentar-se à mesa das negociações com a oposição.

A líder da oposição, Svetlana Tikhanouskaia, exilada na Lituânia, ameaçou convocar uma greve geral caso Lukashenko não saia do poder até ao próximo domingo, 25 de Outubro.

Apesar de todos os fins-de-semana milhares de bielorrussos saírem às ruas, os protestos no país têm diminuído de intensidade com o passar das semanas, em parte devido à frustração com a intransigência de Lukashenko, que conta com o apoio da Rússia para continuar no poder.

"O povo não está sozinho"

Valery Tsepkalo, um dos membros da oposição bielorrussa no exílio, impedido de concorrer às eleições presidenciais, disse à Deutsche Welle que a entrega do Prémio Sakharov, no valor de 50 mil euros, envia uma mensagem importante para os bielorrussos.

“Significa que o povo da Bielorrússia não está sozinho no seu frente-a-frente com este regime ditatorial, que o povo sente o apoio da comunidade europeia”, afirmou Tsepkalo, que fugiu do país antes das eleições, devido às perseguições de que foi alvo.

“O mundo está a acompanhar o que se passa na Bielorrússia e apoia o movimento democrático”, reiterou.

Os outros dois finalistas da edição de 2020 deste prémio europeu que presta homenagem ao trabalho desenvolvido em prol dos direitos humanos e reconhece as acções e contributos excepcionais em defesa da liberdade de pensamento eram o arcebispo de Mossul, no Iraque, Najeeb Moussa Michaeel, e a ecologista hondurenha Berta Cáceres e as activistas indígenas da comunidade de Guapinol.

David Sassoli fez questão de prestar tributo Arnauld Joaquín Morazán Erazo, o líder deste grupo ambientalista que se opõe à exploração de minério de ferro no parque nacional de Botaderos e que foi assassinado há uma semana. “É imperativo que uma investigação independente e credível seja lançada imediatamente e que os responsáveis por este crime enfrentem a Justiça”, defendeu.

Os primeiros distinguidos com o Prémio Sakharov, em 1988, foram o líder da luta contra o apartheid sul-africano, Nelson Mandela, e o dissidente soviético Anatoli Marchenko. Desde então, foram galardoados activistas contra a tortura ou pelo direito à educação, prisioneiros de consciência, advogados, escritores e jornalistas, militantes pacifistas, um grupo anti-terrorismo e a Organização das Nações Unidas. 

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