A educação para a paz

Educar é uma questão de amor e de responsabilidade, segundo o Papa Francisco, pelo conhecimento e cultura que passa e se acrescenta de geração em geração, e pelo progresso conseguida na gestão e sustentabilidade dos recursos e da economia mundial.

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Reuters/GUGLIELMO MANGIAPANE

Está a fazer um ano, a 15 de Outubro de 2020, que o Papa Francisco tornou público o seu pensamento sobre a educação actual no Pacto Educativo Global. Estávamos entre confinamentos e já eram conhecidos alguns dos efeitos na educação, nas crianças e em geral, nos alunos, do primeiro confinamento.

Esta iniciativa do Papa Francisco é apoiada pela UNESCO e por outras instituições académicas, indicando sete compromissos que promovem o diálogo entre culturas, a paz e a ecologia integral. Os compromissos abordam a centralidade da pessoa em cada processo educativo, promovendo a atenção à realidade de cada um, de cada escola, de cada comunidade. O Papa propõe que o ponto de partida seja o adequado a cada realidade e não estabelecido de forma standardizada. Refere ainda que todos os stakeholders das organizações escolares sejam envolvidos e ouvidos, entre os quais se contam as crianças e as famílias, e que o nosso acolhimento educativo inclua os mais vulneráveis, concretamente as meninas e adolescentes, encontrando diversas e novas formas para o desenvolvimento da economia e para o entendimento de progresso, possibilitando a protecção da exploração de recursos do nosso planeta.

Este Pacto Educativo Global toma particular significado quando olhamos para a situação actual do mundo, mas em particular de cada canto do mundo. O impacto da pandemia de covid-19 que de forma global atingiu todo o mundo teve, expressões diferentes em cada lugar, em cada país.

O Papa refere a educação como o caminho mais eficaz contra a cultura individualista. Um dos legados desta pandemia é a arte da colaboração como forma de, juntos, estabelecermos parcerias e pontes que nos levam a encontrar novas e válidas formas de educar, de crescimento, de desenvolvimento e de progresso.

Educar é uma questão de amor e de responsabilidade, segundo o Papa Francisco, pelo conhecimento e cultura que passa e se acrescenta de geração em geração, e pelo progresso conseguida na gestão e sustentabilidade dos recursos e da economia mundial.

Como encaramos a nossa responsabilidade quando lemos e ouvimos sobre os planos de recuperação das aprendizagens? Ou quando nos lembramos dos refugiados afegãos? Como encaramos a nossa responsabilidade na educação das meninas afegãs e outras que sofrem de discriminação? O que estará a acontecer com a educação de todas as crianças que habitam a ilha de La Palma e outras, em que as catástrofes naturais as impedem de ir à escola? E aquelas que vivem em regimes governados por líderes que travam o conhecimento, não promovendo o discernimento individual e colectivo, e disseminando a desinformação, o medo e o desentendimento?

A educação promove hábitos e boas práticas que se tornam cultura. Para que a semente da harmonia tenha consistência é preciso educar consciente e intencionalmente para a paz. Criar uma cultura de educação para a paz, a par do desenvolvimento do conhecimento e o que fazemos com ele.

O desenvolvimento a todos os níveis e a promoção da paz não são incompatíveis, antes pelo contrário. Cabe a cada um de nós, e a cada profissional da educação sustentar com coragem essa convicção. Aprendemos com a pandemia que não somos nada sozinhos. Estamos a aprender no pós-pandemia, que continuamos a não ser nada sozinhos.

Se não colaborarmos na vacinação das pessoas dos países mais desfavorecidos continuaremos a ter covid-19 no nosso mundo. Precisamos dos produtos feitos nesses países e eles precisam do retorno financeiro que essas indústrias lhes trazem. A noção de interdependência é cada vez maior e real. Qual é a nossa responsabilidade na educação das futuras gerações que possibilitarão trocas e interacções mais justas, equilibradas e promotoras de bem-estar para todos?

Dizia o Papa Francisco no lançamento do Pacto Educativo Global, a 15 de Outubro de 2020: “É tempo de olhar em frente com coragem e esperança. Que, para isso, nos sustente a convicção de que habita na educação a semente da esperança: uma esperança de paz e justiça; uma esperança de beleza, de bondade; uma esperança de harmonia social!”

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