Inovar na escolha dos futuros médicos em Portugal

Os médicos do século XXI deverão ter habilitações de comunicação, colaboração e empatia bem como capacidade de investigação, gestão e liderança.

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As novas necessidades da formação de médicos vão muito para lá das competências científicas Manuel Roberto

A seleção dos estudantes é talvez a decisão mais importante para qualquer faculdade, tanto mais para cursos eminentemente vocacionais como Medicina. O rigor deste processo tem uma grande importância tanto para o estudante como para a faculdade. Para o estudante representa um primeiro momento de contacto e avaliação por futuros pares, podendo servir para reforçar o seu desejo de seguir aquele determinado caminho profissional. Para uma Faculdade, cujo sucesso é medido pelo sucesso académico e profissional dos seus estudantes, a seleção dos alunos que tenham maior probabilidade de cumprir com êxito o seu programa educacional pode ter um impacto grande sobre a sua reputação.

Não há dúvida que a excelência académica no ensino secundário prediz sucesso académico durante o curso de Medicina, sobretudo nas disciplinas dos anos pré-clínicos. No entanto, não se pode subestimar a importância de competências para além do conhecimento científico. Os médicos do século XXI deverão ter habilitações de comunicação, colaboração e empatia bem como capacidade de investigação, gestão e liderança.

Por estes motivos a Faculdade de Medicina de Universidade Católica Portuguesa (UCP) decidiu ser pioneira em Portugal e incluir questões escritas e minientrevistas nos métodos de seleção dos seus estudantes. Deste modo os candidatos serão avaliados não só pelo seu mérito académico, mas também pelas suas características e aptidões pessoais, como resolução de problemas, capacidade de autoavaliação, capacidade de relacionamento e motivação para embarcar no longo percurso do estudo de Medicina.

As questões escritas destinam-se a avaliar a motivação dos candidatos para serem médicos e estudar Medicina com o currículo que a UCP propõe. Uma vez passados os crivos das notas previstas do ensino secundário e das questões escritas, os candidatos são convidados a participar em entrevistas curtas, cada uma com uma duração de oito minutos, em oito estações distintas destinadas a avaliar diferentes características, nomeadamente pensamento critico, profissionalismo, organização e resolução de problemas, decisões éticas, integridade e discernimento, empatia, iniciativa e resiliência, colaboração, percurso profissional e conhecimento dos sistemas de saúde.

O objetivo não é testar conhecimentos específicos, mas sim avaliar a capacidade de cada candidato de aplicar e comunicar os seus conhecimentos e competências a questões relacionadas com o seu futuro papel de estudante e profissional. Durante estas entrevistas não há respostas certas nem erradas para os cenários postos aos candidatos: é-lhes apenas pedido que assumam uma posição e que a justifiquem adequadamente.

O rigor e isenção deste método é assegurado pela formação prévia de cada entrevistador para a sua estação especifica, com uma grelha de avaliação a ser aplicada a todos os candidatos. Quer o candidato, como o entrevistador estão identificados por códigos, não sabendo nada acerca da identidade e currículo de cada um. Após cada ronda de entrevistas, as avaliações dos candidatos são apresentadas a todos os entrevistadores e avaliações negativas têm que ser justificadas.

Apesar destes métodos de seleção terem um peso de apenas 15% na nota final de seriação, está demonstrado psicometricamente que permitem a identificação daqueles com maior aptidão para estudar Medicina. Por este motivo as minientrevistas são usadas por muitas das melhores Faculdades de Medicina do mundo para selecionar os seus alunos.

Deste modo estamos confiantes que selecionaremos médicos para a Medicina do futuro, com uma vocação e motivação para assumir o seu papel de cuidadores, cientistas e líderes da sociedade.

O autor escreve de acordo com o novo Acordo Ortográfico

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