Na Católica, ter uma boa média não chega para Medicina. É preciso “empatia e integridade”

As 50 vagas do primeiro curso de Medicina no ensino privado já estão ocupadas, depois de uma selecção de mais de 600 candidatos. O último colocado tinha uma nota de acesso de 17,4. Mas, na Católica, a motivação e as competências pessoais também contam para o ingresso. E não só: no total, são necessários cerca de 100 mil euros para frequentar o curso.

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A nota de acesso mais alta para o curso de Medicina da Católica foi de 19,3 valores e a mais baixa de 17,4. Andreia Patriarca

Entre 19 de Abril e 31 de Julho, a Faculdade de Medicina da Universidade Católica Portuguesa (FM-UCP), em Sintra, recebeu mais de 600 manifestações de interesse ao primeiro mestrado integrado em Medicina no ensino privado. As aulas começam no dia 13 de Setembro e as 50 vagas atribuídas neste primeiro ano já foram todas preenchidas. Quatro são de estudantes estrangeiros, de Estados-membros da União Europeia. 

Na selecção dos candidatos pesaram 85% das notas do ensino secundário (50% média final e 50% exames específicos) e 15% dos requisitos — as perguntas específicas e as mini-entrevistas. Contas feitas, o melhor colocado entrou com uma média de 19,3 valores e o pior com 17,4. No ensino público, a Universidade da Beira Interior foi a que teve a média de ingresso mais baixa na primeira fase de candidaturas em 2020, de 18,3 valores. Na outra ponta do espectro está o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, no Porto, com uma média de 18,9 valores.

Contudo, não é só o desempenho escolar que conta para o ingresso. “Para além de excelência académica, procuram-se candidatos motivados para estudar num método de ensino centrado no aluno e com competências necessárias a um médico: comunicação, empatia, resolução de problemas, integridade, colaboração, entre outras”, sublinha a instituição em resposta escrita ao PÚBLICO.

Para entrar no curso de Medicina na Católica é preciso superar as quatro fases do processo de selecção, depois de pagar um emolumento de 350 euros não reembolsáveis. Inicialmente, é exigida uma candidatura com os dados pessoais e a previsão de resultados do secundário. Segue-se a resposta a quatro perguntas destinadas a avaliar a motivação para Medicina e para estudar na FM-UCP. Os interessados passam, ainda, por uma série de oito pequenas entrevistas onde são avaliadas competências pessoais como resolução de problemas, empatia e comunicação. O processo termina com a entrega das notas finais.

A propina mensal definida pela universidade para o curso de Medicina é de 1625 euros, a pagar ao longo de dez meses. Ao fim de seis anos de formação, o mestrado integrado fica por 97.500 euros — aos quais ainda acresce uma taxa de inscrição anual de 1500 euros. No total, são necessários cerca de 100 mil euros para frequentar o curso. Fonte da reitoria da universidade tinha justificado anteriormente ao PÚBLICO que este valor “reflecte o custo de formação de um aluno de Medicina, que não é diferente na Universidade Católica de uma universidade pública”.

No ensino público, onde os custos são suportados pelo Estado, o cenário é bastante diferente. A propina máxima das licenciaturas e mestrados integrados está fixada em 697 euros anuais. Ou seja, fazer o curso de Medicina numa das sete faculdades públicas custa cerca de 4200 euros — o que equivale a menos de três mensalidades na Católica. No entanto, a instituição privada adianta que, para este curso em particular, existem duas bolsas de apoio social da UCP e duas bolsas de mérito, a Bolsa Professor Eduardo Coelho e a Bolsa Santander.

"Queremos estudantes motivados para melhorar a condição humana"

Em resposta escrita ao PÚBLICO, a reitora da Universidade Católica Portuguesa, Isabel Capeloa Gil, explica que a escolha de um curso passa, invariavelmente, pela aposta numa instituição. Por isso, podem existir cursos com a mesma designação, e impactos diferenciados no mercado de trabalho. 

Nesse sentido, além de almejar a internacionalização, o curso de Medicina na Católica oferece inovação no modelo pedagógico, com “abordagens distintas daquilo que é algum consenso acomodado”. Os alunos poderão experienciar um acompanhamento inédito no ensino clínico, reforça a reitora, ao serem integrados em equipas de um tutor para cada dois estudantes — quando o rácio actual é de um para dez, ou mais.

“O estudante vai ter ao dispor um acompanhamento académico e clínico de elevada qualidade e de proximidade, num ambiente internacional e seguindo as melhores práticas de ensino médico num edifício inteligente, completamente equipado e com um parceiro hospitalar reconhecido”, sustenta. Portanto, num casamento da Medicina com a Tecnologia, “os estudantes terão acesso ao mais avançado centro de simulação médica do país”, garante.

Acima de tudo, é um curso que pretende renovar a educação médica em Portugal, e formar uma geração de profissionais “que contribuam de forma decisiva para a contínua melhoria da Medicina que se pratica no país”. Por isso, não contam apenas as excelentes notas. É necessária empatia para lidar com a fragilidade humana e uma forte vocação para cuidar, destaca Isabel Capeloa Gil. “Queremos estudantes verdadeiramente motivados para melhorar a condição humana, na sua dimensão clínica e científica”, remata.

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