Biden promete “mobilizar todos os recursos” para tirar os americanos do Afeganistão

Presidente prometeu tirar todos os cidadãos dos Estados Unidos de Cabul, mas de seguida disse que não pode “prometer um desfecho” porque se trata de uma operação perigosa.

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Biden disse que quem quer chegar ao aeroporto de Cabul consegue, vários jornalistas desafiaram essa afirmação SHAWN THEW/EPA

O Presidente norte-americano, Joe Biden, afirmou esta sexta-feira em conferência de imprensa que os EUA vão retirar todos os americanos que quiserem sair do Afeganistão e que é uma questão de tempo até o conseguirem – e de seguida, em resposta a uma pergunta, prometeu que o mesmo se aplica a quem tenha ajudado as forças americanas como motoristas ou intérpretes. “Qualquer americano que queira voltar para casa: nós vamos trazer-vos para casa”, prometeu.

Mas encontrou um enorme cepticismo da parte dos jornalistas que assistiam à conferência de imprensa, com dúvidas sobre a afirmação de Biden de que os americanos que quiserem conseguem chegar ao aeroporto – a que respondeu que “uma coisa são os checkpoints dos taliban, outra os outros pontos perto do aeroporto” – ou de casos concretos de pessoas que estão a ser perseguidos pelos taliban e não conseguem sair de Cabul. No final da conferência de imprensa, quando ainda muitos jornalistas tentavam fazer perguntas, uma foi repetida alto e bom som: “Por que continua a confiar nos taliban, sr. Presidente?”

Biden tentou dar a imagem de uma operação sob controlo, contrastando com as imagens que nos chegam de afegãos desesperados a tentar alcançar o aeroporto e parecendo impedidos por taliban, que recusam passagem a quem não tivesse documentos, segundo a Reuters. Um ministro holandês disse que nenhum país sabe exactamente em que avião seguiram os seus cidadãos, com algumas pessoas a terem sido apanhadas em visitas familiares no país. Mais de 18 mil pessoas foram retiradas de Cabul desde Julho, disse Biden.

O Presidente acabou, no entanto, por admitir que não sabia exactamente quantos americanos estavam ainda no país. Mas garantiu que iria ser feito o que fosse preciso para os retirar. Questionado sobre se isso implicaria enviar tropas para Cabul, repetiu: “Faremos tudo o que for preciso”.

E, a dada altura, pareceu contradizer a promessa que tinha acabado de fazer, ao admitir a dificuldade da operação, e repetir que esta era “perigosa”, com “risco para as nossas forças armadas”, e declarar que não podia “prometer um desfecho ou que esse desfecho não implique perdas”, e que podia apenas “mobilizar todos os recursos”.

Muitos duvidam da possibilidade de ter uma operação de retirada de pessoas com sucesso. “A partir de hoje, os que possam estar em perigo não têm uma maneira clara de sair”, disse a porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) Shabia Mantoo, citada pela Reuters.

Vários países da NATO pressionaram entretanto para a continuação das operações de retirada do seu pessoal de Cabul para lá do actual prazo de 31 de Agosto definido pelos Estados Unidos, argumentando que há ainda muitas pessoas a procurar sair de modo seguro do país. 

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, classificou a situação no aeroporto de Cabul como “muito difícil e desesperada”, cita a agência Reuters. Milhares de estrangeiros e pessoas que possam estar sob ameaça dos taliban tentam desesperadamente chegar ao aeroporto, descreveu.

Stoltenberg disse que muitos dos 30 países da NATO tinham enviado aviões para retirar pessoas vulneráveis, mas que não foi possível aproveitar toda a capacidade destes aviões por causa do caos à volta do aeroporto, que impediu muitas pessoas de chegar ao ponto de embarque. Na segunda-feira, um avião alemão, por exemplo, partiu com apenas sete pessoas.

“Os EUA declararam o prazo de 31 de Agosto, mas vários dos nossos aliados levantaram a hipótese de haver uma necessidade de potencialmente prolongar esse prazo, para conseguir retirar mais pessoas”, disse Stoltenberg, após uma reunião de emergência com ministros dos Negócios Estrangeiros dos países da Aliança Atlântica.

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