Luoheng Zhan: “Os asiáticos não são todos iguais”

Durante uns tempos, esta aluna de mestrado em Português na Universidade de Estudos Internacionais de Xangai teve medo de sair à rua por causa das feições asiáticas e da responsabilidade pelo novo coronavírus que muitos atribuíam ao seu país. Segundo episódio da série Nada contra, mas... Testemunhos na primeira pessoa para ver sem preconceitos e sem "mas".

Viveu em Lisboa durante um ano e foi em Portugal que a pandemia apanhou esta jovem chinesa. Durante uns tempos, esta aluna de mestrado em Português na Universidade de Estudos Internacionais de Xangai teve medo de sair à rua por causa das feições asiáticas e da responsabilidade pelo novo coronavírus que muitos atribuíam ao seu país.

Gosta de Saramago – mas prefere lê-lo em chinês “por causa do seu estilo próprio de escrever com vírgulas e sem pontos finais” –, acha “monótono” o pequeno-almoço português de pão, café ou leite, e gosta da “moderna” Lisboa, apesar das muitas saudades da sua terra natal, Chong Qing, uma das maiores metrópoles chinesas, onde vivem mais de 20 milhões de habitantes, e que Luoheng Zhan resume em bom português como “uma cidade montanhosa que mistura antiguidade e modernidade”.

Veio para Portugal num programa de intercâmbio com a Universidade Nova de Lisboa e está a estudar Português a conselho dos pais, que viram na língua um futuro promissor para a filha. Portugal era, para Luoheng, um país “pequeno, mas muito desenvolvido”, e “famoso pelo futebol”.

Luoheng tem 24 anos e nisso não se distingue de muitos outros jovens adultos, portugueses, chineses ou de outras nacionalidades. Sorridente, conta que em Portugal lhe fazem “algumas perguntas estranhas sobre os chineses” e que os portugueses que encontrou “estão muito interessados na política e no regime político da China”, que ela confessa não conhecer bem.

A dimensão do seu país e a distância ajudam a explicar alguns preconceitos, diz Luoheng. “Como nós temos uma população muito grande, é normal os estrangeiros acharem que qualquer asiático é chinês”. Mas konichiwa, que muitos usam para a cumprimentar, não é chinês. É japonês.

Luoheng quer ainda aproveitar esta oportunidade para explicar: “A maioria dos chineses não come cães e são também muito críticos sobre o seu consumo”. Quanto ao mistério sobre os funerais chineses – "alguns amigos estão muito curiosos porque nunca viram um funeral chinês em Portugal” –, a sua curta experiência no país não lhe permite responder. “Para dizer a verdade, eu também não sei como funciona.”