Polícia de Hong Kong faz buscas na redacção de um jornal e detém editor

Operação mobilizou 500 agentes e decorreu ao abrigo da Lei de Segurança Nacional. Em causa está a publicação de artigos críticos da China.

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Polícia à entrada da redacção do Apple Daily Reuters/APPLE DAILY

A sede de um jornal de Hong Kong foi alvo de uma operação policial que envolveu cerca de 500 agentes e culminou com a detenção do chefe de redacção e de quatro executivos da empresa. A operação foi motivada pela publicação de artigos críticos da China que, segundo as autoridades, violam a Lei da Segurança Nacional do território.

A operação teve início por volta das 7h30 desta quinta-feira (23h30 de quarta-feira em Portugal continental), quando centenas de agentes policiais entraram nas instalações do jornal Apple Daily em Hong Kong, não permitindo entradas ou saídas, de acordo com a BBC. Foi detido o chefe de redacção do jornal, Ryan Law, e quatro administradores do grupo que detém o Apple Daily.

Também foram congelados bens da empresa no valor 18 milhões de dólares de Hong Kong (quase dois milhões de euros), segundo a polícia.

Numa conferência de imprensa mais tarde, a polícia disse que a operação decorreu ao abrigo da Lei da Segurança Nacional de Hong Kong. Em causa está a publicação de três dezenas de artigos pelo Apple Daily nos últimos dois anos em que se defendia a aplicação de sanções económicas contra a China pelas suas acções no território.

“Temos provas muito fortes que os artigos questionáveis tiveram um papel fundamental na conspiração que forneceu munições a países estrangeiros, instituições e organizações para impor sanções à China e a Hong Kong”, afirmou o superintendente da polícia, Steve Li.

Não é a primeira vez que o Apple Daily é visado pela polícia por violar a Lei de Segurança Nacional. No ano passado, o seu proprietário, o empresário Jimmy Lai, foi preso, acusado de “conluio com forças estrangeiras”, “sedição” e “conspiração para cometer fraude”. Lai é um crítico de longa data da crescente ingerência de Pequim nos assuntos de Hong Kong e foi sempre um alvo preferencial do governo local pró-China.

Na altura, a redacção do Apple Daily também foi alvo de buscas, mas nenhum jornalista foi detido. Porém, desta vez, foi o trabalho jornalístico de um meio de comunicação a ser visado directamente pela Lei de Segurança Nacional, algo que não havia acontecido desde a sua aprovação há cerca de um ano.

Li acusou o jornal de “usar o trabalho jornalístico como uma ferramenta para pôr em causa a segurança nacional” e apelou aos jornalistas de outros meios de comunicação para “manterem a distância” face ao Apple Daily. O responsável da polícia não excluiu novas detenções relacionadas com o caso.

A Lei da Segurança Nacional tem servido como um dos principais instrumentos de repressão por parte das autoridades de Hong Kong, alinhadas com Pequim, contra qualquer manifestação crítica. Ao abrigo de conceitos muito amplos de “conspiração”, “subversão” e “sedição”, o diploma permite acções muito rápidas e penas duras contra activistas, políticos e jornalistas.

Vários analistas notam que a aplicação desta lei é uma violação do princípio “um país, dois sistemas”, que serve para garantir a Hong Kong, e Macau, um conjunto considerável de liberdades e direitos aos seus cidadãos que não existem no resto da China, ao mesmo tempo que a soberania chinesa é mantida.

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