Há cinco casas ainda por reconstruir, quatro anos após o incêndio de Pedrógão

Associação de Vítimas diz que julgamento para apurar responsabilidades é importante “para que esta etapa do luto se conclua”.

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Paulo Pimenta

Quatro anos depois do incêndio que devastou grande mancha do Pinhal Interior e causou 66 mortos, há cinco casas que ainda estão por reconstruir. Duas no concelho de Pedrógão Grande, duas em Figueiró dos Vinhos e uma em Castanheira de Pera. Já este ano, no último documento publicado pelo Fundo Revita – a estrutura criada para gerir donativos e a reconstrução das primeiras habitações – estas cinco casas aparecem como estando “em execução”.

Ao PÚBLICO, o Instituto de Segurança Social (ISS), que preside ao fundo, sublinha que apenas 99 das 259 reconstruções estão sob alçada do Revita. Dessas, 89 estão concluídas, como está também referido no relatório de execução trimestral do mecanismo, publicado já em Abril de 2021. Das 10 que faltam, cinco estão em execução e outras cinco “intervenções encontram-se suspensas em virtude do processo judicial em curso” responde o ISS.

O processo judicial a que o ISS faz menção é o que procura apurar eventuais irregularidades nas reconstruções das casas que estariam desabitadas e que senta no banco dos réus elementos da câmara municipal de Pedrógão Grande – entre eles o presidente, Valdemar Alves – um construtor civil e proprietários de habitações.

Além das cinco casas que têm o processo suspenso, há outras três, cujo processo não é dirigido pelo Revita, que também se encontram na mesma situação. As oito habitações situam-se todas em Pedrógão Grande.  

Sobre as cinco que estão em execução, o ISS responde que a demora “deve-se fundamentalmente a questões de natureza técnica e financeira, nomeadamente ligadas a alterações de projecto e necessidades de financiamento complementar”. Estima também que as intervenções “deverão ficar concluídas durante este ano”.

Alzira Luiz, de 77 anos, que tinha habitação na aldeia de Rapos, no concelho de Castanheira de Pera, é uma das pessoas que ainda aguarda a reconstrução da sua casa, destruída a 17 de Junho de 2017, noticia a Agência Lusa. O processo começou por ser atribuído a um grupo de voluntários de Pombal, mas a vontade de ajudar esmoreceu – em braços e em fundos – com a polémica da reconstrução das casas desabitadas. A intenção de abandonar terá sido comunicada ao Revita em 2019.

Justiça para fazer o luto

O quarto aniversário do incêndio de Pedrógão fica também marcado pelo julgamento que começou em Maio, para apurar responsabilidades pelas vítimas do incêndio. O julgamento é importante “para que esta etapa do luto se conclua”, explica a presidente da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande (AVIPG), ao PÚBLICO.

Entre autarcas, funcionários da EDP, da Altri, um comandante de bombeiros e uma técnica florestal, são 11 os arguidos no processo do incêndio de Pedrógão Grande. “A expectativa é que o julgamento seja célere para que esta fase do luto se conclua, sabendo que os lutos são sempre diferentes de pessoa para pessoa”, afirma Dina Duarte.

A representante das vítimas considera que este passo é também essencial “para que as pessoas percebam que, quando estão numa determinada função, têm que ter em conta que estão a lidar com a segurança e com a prevenção dos outros”.

Mas entende também que a melhor justiça que se pode fazer é que, no futuro, todos os aspectos que contribuem para a protecção das populações – o ordenamento florestal, a limpeza, as comunicações – “funcionem de outra maneira”. “O que o 17 de Junho me traz à memória é que tudo falhou”, refere.

Outra etapa para que as vítimas possam avançar no processo de luto é a construção de um memorial. O desenho da homenagem pensada pelo arquitecto Eduardo Souto de Moura teve que sofrer uma alteração por causa de uma linha de água que por ali passava, explica Dina Duarte. A Infraestruturas de Portugal, que é a dona da obra, indicou à AVIPG que a construção do memorial, avaliada em 1,8 milhões de euros, deverá ter início em Agosto.

A presidente da AVIPG lamenta que a floresta que ardeu em 2017 esteja a voltar à mesma forma, sem que tenha havido grandes alterações no ordenamento e gestão que pudessem tornar o fogo menos perigoso, quando ele voltar. Porque vai voltar, lembra. “Desde que sou gente que me lembro de haver aqui incêndios. Nasci em Castanheira de Pera e estou habituada desde miúda: chegam os dias grandes, a alegria do Verão e a tristeza dos incêndios”, diz. E prossegue: “É sempre esta a nossa vida. Mas eu, Dina Duarte, quero continuar a viver aqui. Tenho 51 anos e o direito de continuar a viver onde nasci e onde tenho as pessoas que fazem parte da minha vida”. 

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